São Paulo, quinta-feira, 01 de janeiro de 2009

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Israel rejeita trégua de 48h em Gaza

"Não começamos essa operação para disparo de foguetes continuar", diz premiê Olmert, ao refutar proposta francesa

Bombardeios continuam, e soldados esperam ordem de invasão; premiê do Hamas diz só aceitar trégua com fim do bloqueio ao território

Mohammed Abed/ France Presse
Mulher chora em frente a sua casa, destruída por bombardeio das Forças Aéreas israelenses, em campo de refugiados em Gaza

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A SDEROT (ISRAEL)

O governo israelense decidiu ontem rejeitar a proposta de um cessar-fogo de 48 horas com o grupo fundamentalista Hamas, feita na véspera pela França, e manteve os ataques aéreos contra a faixa de Gaza.
Após se reunir com a chanceler Tzipi Livni e o ministro da Defesa, Ehud Barak, o premiê israelense, Ehud Olmert, afirmou por meio de um porta-voz: "Se as condições melhorarem e acharmos que vá haver uma solução diplomática que garanta mais segurança, vamos considerá-la. Mas este não é o cenário neste momento".
"Não começamos esta operação para acabá-la com o disparo de foguetes continuando igual a antes de ela começar. Imaginem se declaramos um cessar-fogo unilateral e alguns dias depois caírem foguetes em Ashkelon?", disse o premiê.
Prevaleceu assim a posição de Olmert e sua correligionária Livni, candidata a sucedê-lo nas eleições de fevereiro, contra a de Barak, também candidato, que tinha dito antes estar aberto a uma trégua.
O governo francês não comentou a recusa israelense em aceitar a sua trégua, mas anunciou que o presidente Nicolas Sarkozy visitará o país na próxima semana em busca de uma solução para o conflito.
Já os EUA mantiveram o apoio incondicional a Israel. "O presidente Bush acha que o Hamas precisa parar de disparar foguetes, e que esse será o primeiro passo para um cessar-fogo", disse o porta-voz Gordon Johndroe. Bush conversou ontem por telefone com Olmert pela primeira vez desde o início da ofensiva. No diálogo, segundo Johndroe, não houve menção a um cronograma para o fim dos ataques.
O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, visto como único interlocutor palestino legítimo por Israel e pelos EUA, mas sem autoridade sobre o Hamas, disse ontem que Israel deve acabar "imediatamente e sem nenhuma condição" com os ataques e ameaçou interromper as negociações de paz.
"Israel é o único responsável pelo massacre", disse ele em discurso para marcar o 44º aniversário do Fatah, facção oposta ao Hamas e que tem hegemonia no território palestino da Cisjordânia.
O premiê do governo do Hamas, Ismail Haniyeh, também fez pronunciamento pela TV a partir de seu esconderijo em Gaza e rejeitou uma trégua no lançamento de foguetes.
"Primeiro, a agressão sionista deve terminar, sem condições. O sítio deve ser suspenso e todas as passagens fronteiriças abertas, porque ele é a fonte de todos os problemas de Gaza", disse. "Depois, será possível discutir todas as questões, sem exceção", continuou, referindo-se à proposta de trégua.

Invasão terrestre
Sem o cessar-fogo, os ataques de lado a lado, apesar de em menor número por conta do mau tempo, continuaram ontem, quinto dia desde o início da ofensiva israelense, que já deixou quase 400 mortos e cerca de 1.900 feridos em Gaza. Cinco israelenses já morreram vítimas de foguetes do Hamas -ontem, foram efetuados mais de 60 disparos.
Israel disse já ter neutralizado todas as instalações do Hamas para a produção dos foguetes. Além disso, a Força Aérea israelense atacou ontem uma mesquita sob a alegação de que o grupo palestino estocava lá parte de seu arsenal.
Além de decidir contra a trégua, o gabinete israelense aprovou ontem a convocação de mais 2.500 reservistas, enquanto as tropas mantinham-se concentradas com tanques em diferentes pontos da fronteira com Gaza, à espera da ordem para iniciar a ameaçada invasão terrestre.
O deputado Mushir al Masri, do Hamas, advertiu Israel de que estará se lançando a uma "autêntica aventura" caso opte pela invasão. "O Hamas está pronto para qualquer coisa e lutaremos até o fim."
Apesar da advertência, a expectativa entre diplomatas israelenses ouvidos pela Folha era a de que Olmert ordenasse a qualquer momento, talvez ainda ontem, o início da invasão. O objetivo da invasão, cuja realização também gera divisão dentro do governo israelense, não seria reocupar Gaza, mas sim realizar ataques cirúrgicos, principalmente contra líderes do Hamas.


Com agências internacionais


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