São Paulo, sexta-feira, 01 de janeiro de 2010

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ANÁLISE

É precipitado ver ataque a voo como divisor de águas

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

É certo que as falhas de inteligência contraterrorista que marcaram o frustrado atentado ao voo da Delta-Northwest não ajudam o presidente Barack Obama a resgatar sua popularidade, em queda já há meses.
Tampouco há dúvidas de que os republicanos vão tentar explorar o episódio. O ex-vice-presidente Dick Cheney divulgou há dois dias nota na qual acusa Obama de "fingir" que os EUA não travam uma "guerra contra o terrorismo". Em novembro, nas eleições legislativas, os republicanos pretendem retomar o controle sobre ao menos uma das duas Casas.
Parece precipitado, porém, afirmar desde já que o atentado será o divisor de águas na trajetória do presidente democrata. Para começar, outros temas polêmicos e eleitoralmente desgastantes para o governo, como a reforma do sistema de saúde e a guerra no Afeganistão, não perderam relevância.
Mais importante, a discussão sobre falhas de segurança pode ser mais traiçoeira do que querem os republicanos.
É verdade que a NSA (Agência de Segurança Nacional) havia interceptado há quatro meses comunicações da Al Qaeda que mencionavam um atentado a ser realizado por um nigeriano. Pior, o próprio pai do terrorista procurou a Embaixada dos EUA na Nigéria para informar das atividades suspeitas do filho. O sistema, porém, não foi capaz de consolidar esses e outros dados e antecipar-se ao atentado, que só fracassou devido a uma falha de execução.
Quando se conhece o final da história, é fácil juntar as informações dispersas que diferentes órgãos dispunham e concluir que houve incompetência dos serviços de segurança. A mesma história ocorreu sob Bush, com a diferença de que o 11 de Setembro não foi exatamente um ataque frustrado.
O problema é que a Inteligência vive o dilema de todas as burocracias: como distinguir, dentre as centenas ou milhares de dados que as várias agências coletam todos os dias, aqueles que são realmente importantes dos que são apenas ruído?
E a verdade é que a solução depende, é claro, do contínuo aprimoramento das rotinas de segurança, mas, também, muito da sorte. Como nenhum dirigente está disposto a admitir isso, o mais provável é que Obama vá agir como Bush: criar duas ou três restrições aeroportuárias pouco eficientes mas "barulhentas", que darão a todos a sensação de que o governo está agindo, e torcer para que nada mais grave aconteça.


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