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ANÁLISE
É precipitado ver ataque a voo como divisor de águas
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
É certo que as falhas de inteligência contraterrorista que
marcaram o frustrado atentado
ao voo da Delta-Northwest não
ajudam o presidente Barack
Obama a resgatar sua popularidade, em queda já há meses.
Tampouco há dúvidas de que
os republicanos vão tentar explorar o episódio. O ex-vice-presidente Dick Cheney divulgou há dois dias nota na qual
acusa Obama de "fingir" que os
EUA não travam uma "guerra
contra o terrorismo". Em novembro, nas eleições legislativas, os republicanos pretendem retomar o controle sobre
ao menos uma das duas Casas.
Parece precipitado, porém,
afirmar desde já que o atentado
será o divisor de águas na trajetória do presidente democrata.
Para começar, outros temas
polêmicos e eleitoralmente
desgastantes para o governo,
como a reforma do sistema de
saúde e a guerra no Afeganistão, não perderam relevância.
Mais importante, a discussão
sobre falhas de segurança pode
ser mais traiçoeira do que querem os republicanos.
É verdade que a NSA (Agência de Segurança Nacional) havia interceptado há quatro meses comunicações da Al Qaeda
que mencionavam um atentado a ser realizado por um nigeriano. Pior, o próprio pai do terrorista procurou a Embaixada
dos EUA na Nigéria para informar das atividades suspeitas do
filho. O sistema, porém, não foi
capaz de consolidar esses e outros dados e antecipar-se ao
atentado, que só fracassou devido a uma falha de execução.
Quando se conhece o final da
história, é fácil juntar as informações dispersas que diferentes órgãos dispunham e concluir que houve incompetência
dos serviços de segurança. A
mesma história ocorreu sob
Bush, com a diferença de que o
11 de Setembro não foi exatamente um ataque frustrado.
O problema é que a Inteligência vive o dilema de todas as
burocracias: como distinguir,
dentre as centenas ou milhares
de dados que as várias agências
coletam todos os dias, aqueles
que são realmente importantes
dos que são apenas ruído?
E a verdade é que a solução
depende, é claro, do contínuo
aprimoramento das rotinas de
segurança, mas, também, muito da sorte. Como nenhum dirigente está disposto a admitir isso, o mais provável é que Obama vá agir como Bush: criar
duas ou três restrições aeroportuárias pouco eficientes
mas "barulhentas", que darão a
todos a sensação de que o governo está agindo, e torcer para
que nada mais grave aconteça.
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