São Paulo, sexta-feira, 01 de fevereiro de 2008

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De olho em conservadores, McCain recua

Líder nas pesquisas, senador revê posição quanto a imigrantes ilegais às vésperas da Superterça e cita juízes mais à direita

Arnold Schwarzenegger, governador do Estado com mais votos na convenção republicana, confirma apoio à candidatura do veterano

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A SIMI VALLEY (CALIFÓRNIA)

Numa mostra da guinada à direita que deve se acentuar nas próximas horas, John McCain voltou atrás em suas posições menos conservadoras em relação à questão dos imigrantes nos EUA. Indagado no debate de anteontem entre os pré-candidatos republicanos à Presidência se mantinha sua proposta de lei que prevê semi-anistia para os ilegais, o senador do Arizona voltou atrás pela primeira vez.
"Ela não voltará a ser votada", esquivou-se o político. Pressionado, admitiu: "A proposta não voltará [a plenário], porque conhecemos a situação hoje. As pessoas querem segurança nas fronteiras antes". A pergunta surgiu após ataque vindo de seu principal oponente, o ex-governador Mitt Romney, em um dos duelos verbais de uma noite pródiga neles.
"Esse não é um pensamento republicano", havia dito Romney, sobre a proposta feita por McCain em 2006. Quem é o mais republicano: sob a sombra do Air Force One usado por Ronald Reagan (1911-2004) e o olhar da ex-primeira-dama Nancy na platéia, essa foi a tônica do debate na quarta à noite no hangar da Biblioteca Reagan, em Simi Valley, a duas horas de Los Angeles.
Mais bem posicionado nas pesquisas depois da vitória na Flórida na última terça, McCain teve de voltar atrás em outras posições "liberais" (menos conservadoras). Indagado sobre a indicação por Reagan em 1981 da juíza da Suprema Corte Sandra O'Connor, uma moderada como McCain, o ex-senador disse: "Os juizes que eu indicaria estão mais alinhados com [John] Roberts e [Samuel] Alito, que têm uma trajetória de interpretação fiel da Constituição dos EUA", citando os dois conservadores indicados por George W. Bush.

Schwarzenegger
Sua estratégia é arriscada: conquistar a ala mais conservadora de seu partido e provar que pode ser um candidato viável para bater um democrata nas urnas. Com isso, porém, ele pode alienar a base que lhe deu sustentação até agora, os independentes insatisfeitos com posições radicais de lado a lado.
"Ele acusa Romney de ser indeciso, mas veja o que ele fez hoje à noite", provocava Tony Strickland, estrategista político do ex-governador, falando a jornalistas depois do debate. Ainda assim, horas após o encontro, McCain conseguiu o cobiçado apoio de Arnold Schwarzenegger, também presente na platéia de anteontem, ao lado de Nancy Reagan.
"Ele é um homem público fantástico e um grande herói americano", disse o ex-ator e governador da Califórnia, ao anunciar o apoio, usando o mesmo adjetivo que o ex-prefeito Rudolph Giuliani usara antes, ao desistir da corrida. "McCain tem provado repetidamente que cruza as linhas entre os partidos para fazer as coisas acontecerem", disse ele, republicano mais ao centro.
O apoio vira a bússola para o lado de McCain numa hora importante. O Estado de Schwarzenegger é o de maior peso eleitoral nos EUA e faz suas primárias na Superterça, na semana que vem, quando mais de 20 Estados votam e quando pode ficar mais claro quem serão os candidatos dos dois partidos nas eleições de 4 de novembro.
Só que este é o Estado com o maior percentual de eleitores de origem latina: são um terço da população local, 60% dos quais em situação legal para votar, segundo o Pew Hispanic Center. Só 23% dos registrados se dizem republicanos, ante 57% que se dizem democratas.
Na noite de ontem, foi a vez de Hillary Clinton debater com Barack Obama, em Hollywood. Os dois retrocederam nos ataques que vinham trocando nos últimos dias. A estratégia adotada por ambos foi, sempre que possível, ressaltar as semelhanças de propostas entre eles e criticar tanto os republicanos quanto o governo Bush.
Mas houve espaço para diferenças. Hillary voltou a bater na tecla da experiência, discutindo a Guerra do Iraque: "É importante que o presidente esteja pronto já no primeiro dia". "Mas é mais importante que o presidente esteja certo no primeiro dia", rebateu Obama.


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