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Neve retém milhões em estações de trem na China
Bloqueio de trilhos interrompe entrega de carvão a usinas elétricas e alimenta caos ferroviário às vésperas do Ano Novo chinês
DAVID LAGUE
DO "NEW YORK TIMES", EM PEQUIM
Os cortes grandes no fornecimento de energia elétrica numa faixa larga do centro-sul da
China, depois de nevascas invernais terem interrompido as
entregas de carvão, expuseram
a fragilidade das malhas de
transporte na economia que
apresenta o crescimento mais
acelerado o mundo.
A neve e o gelo provocaram o
caos em centros de transportes
no momento em que até 200
milhões de trabalhadores migrantes e outras pessoas visitam suas famílias para a festa
do Ano Novo lunar, na próxima
semana. Além disso, dificultaram o tráfego de carregamentos de carvão nas artérias ferroviárias que alimentam as usinas elétricas do sudeste, o coração industrial da China e região
de alta densidade demográfica.
Num sinal da preocupação
do Partido Comunista com o
ressentimento popular no momento em que se aproxima o
feriado mais importante do
país, altas autoridades, incluindo o primeiro-ministro Wen
Jiabao, vêm visitando estações
ferroviárias para assegurar aos
passageiros frustrados que as
autoridades estão trabalhando
para solucionar os atrasos.
A mídia estatal informou que
as multidões enormes que
aguardam em algumas estações
ferroviárias, sob temperaturas
abaixo de zero, começaram a
diminuir ontem, na medida em
que a saída de trens para as Províncias centrais e do interior foi
aumentando.
Mas a previsão é que os cortes na eletricidade continuem.
Nas últimas semanas, o fornecimento sofreu interrupções
em 17 Províncias, mais ou menos a metade do país.
"Os problemas atuais relacionados ao mau tempo têm
consequências importantes para o setor manufatureiro, logo,
para a economia. Isso, sem falar
na presença de grande número
de pessoas insatisfeitas", disse
Victor Shum, analista da consultoria Purvin & Getz, de Cingapura. "A questão do transporte e da distribuição de energia na China é muito séria."
De acordo com estatísticas
do governo, a China extraiu
cerca de 2,3 bilhões de toneladas métricas de carvão no ano
passado, e a queima desse combustível fornece mais de 80%
da eletricidade do país.
Nevascas e energia
Apesar dos riscos à saúde
criados pela poluição atmosférica, a maioria dos analistas
prevê que o consumo de carvão
na China aumente por décadas
ainda, se o crescimento econômico se mantiver acelerado.
A maior parte do carvão é extraído nas Províncias ocidentais de Shaanxi e Shanxi e na região noroeste da Mongólia Interior. Mas muitos dos consumidores do carvão se aglomeram nas Províncias industrializadas do sudeste e centro do
país, de modo que o produto
precisa ser transportado pelo
imenso mas sobrecarregado
sistema ferroviário chinês.
Mais de 40% da capacidade
do sistema ferroviário é dedicada ao transporte do carvão, e as
autoridades vêm investindo em
novas linhas e instalações de
carga. Mas a China vem sofrendo cortes de eletricidade em
centros industriais há mais de
cinco anos, em função da demanda superior à oferta.
O problema se agravou quando, nos últimos 15 dias, as nevascas fortes cortaram o suprimento energético às redes ferroviárias da China central que
transportam a maior parte do
carvão às usinas elétricas.
Embora o mau tempo tenha
prejudicado o fornecimento de
carvão, alguns analistas dizem
que as políticas governamentais contribuíram para os cortes no fornecimento elétrico.
Para conter a inflação em alta,
as autoridades impuseram tetos às tarifas energéticas, num
momento em que o preço do
carvão vem subindo.
Analistas dizem que, sem o
incentivo do lucro desejado, as
companhias elétricas vêm hesitando em aumentar sua produção. "Se não houvesse ocorrido
esse desentendimento, as companhias energéticas, especialmente em Guangdong, poderiam ter feito um esforço maior
para importar carvão", disse o
analista em Cingapura.
Tradução de CLARA ALLAIN
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