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Banimento de lobistas é parcial sob Obama
Cerca de 10% dos indicados pelo presidente trabalharam em escritórios de influência, quebrando norma do próprio democrata
Imposto de Renda de nomes do 1º escalão também traz problemas; secretário de Saúde deixou de declarar uso de carro de empresa
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Com duas semanas de governo, Barack Obama descobre na
prática que fazer é mais fácil
que desfazer. No campo externo, patinam sua decisão de fechar a prisão de Guantánamo e
seu desejo de retirar as tropas
do Iraque em até 16 meses. No
interno, uma de suas ordens
executivas mais saudadas começou a ser desmentida já na
assinatura, em 21 de janeiro.
Trata-se da medida provisória que coíbe a influência da indústria do lobby no novo governo. Ao assiná-la, Obama disse
que membros de seu governo
não seriam influenciados pela
atividade "enquanto eu for presidente". Entre as regras, está a
proibição de que funcionários
ocupem cargo na mesma área
em que tenham feito lobby nos
últimos dois anos.
O problema é que pelo menos sete funcionários mais graduados do comando do ministério montado pelo novo presidente e cerca de 10% dos quase
150 indicados para trabalhar
com o democrata na Casa Branca até agora desobedecem as
regras. Entre eles, estão o secretário da Justiça, Eric Holder, e os subsecretários de Defesa, William Lynn, de Estado,
James Steinberg, e da Saúde,
William Corr, segundos na hierarquia das importantes pastas.
Por seu trabalho como lobista, Holder recebeu US$ 3,3 milhões. Lynn trabalhou até o ano
passado pelos interesses da
Raytheon, corporação que tem
vários contratos no Pentágono,
onde ele será o número 2.
Já Steinberg foi consultor de
um escritório de lobistas de
Washington que prestou serviços para uma companhia bancada pelo governo de Dubai e
uma associação comercial da
Colômbia, com os quais ele terá
de lidar como um dos braços direitos de Hillary Clinton na
Chancelaria americana. Por
fim, Corr, da Saúde, fez lobby
contra a indústria do tabaco.
Completam a lista o secretário especial de Comércio Exterior, Ron Kirk, que até o ano
passado fazia lobby pela Merrill
Lynch, e dois chefes-de-gabinete: Mark Childress, da Saúde,
que fez lobby para duas fundações, e Mark Patterson, que foi
pago para defender os interesses do ex-banco de investimentos Goldman Sachs e trabalhará para o secretário do Tesouro,
Timothy Geithner.
O próprio nome de Geithner
não chega sem problemas: pagou com atraso e somente depois de saber que seria indicado
ao cargo os impostos devidos
durante sua passagem pelo
Fundo Monetário Internacional. Pecadilho semelhante cometeu o novo secretário da
Saúde, Tom Daschle.
Segundo revelado anteontem à noite, Daschle pagou os
US$ 100 mil em impostos atrasados apenas após sua indicação. A dívida veio de não ter declarado como benefício indireto o uso de um carro com motorista nos anos que prestou serviço a uma empresa. O comitê
de Finanças do Senado se reúne amanhã, a portas fechadas,
para discutir a questão.
Para Massie Ritsch, porta-voz do Center for Responsive
Politics (CRP), de Washington,
ONG que mapeia o dinheiro na
política norte-americana, Obama criou uma armadilha para
ele mesmo ao assinar a ordem.
"É uma política tão restritiva
que será impossível de ser seguida", disse à Folha.
"Para montar uma equipe de
governo, o presidente tem de
chamar os melhores de cada
área e, em Washington, isso
significa que eles terão feito
lobby em algum momento." De
qualquer maneira, Ritsch acredita que os princípios são bem-vindos, e a influência dos grupos será diminuída.
US$ 17,4 milhões ao dia
As revelações chegam na
mesma semana em que um relatório do site OpenSecrets, ligado ao CRP, revela que a indústria do lobby recebeu US$
3,2 bilhões dos grupos que representa em 2008, o que dá cerca de US$ 17,4 milhões por dia
em que o Congresso norte-americano manteve sessão ou
cerca de US$ 32.523 por congressista por dia.
Mesmo com a maior crise financeira em décadas, a atividade cresceu em 13,7% no ano. "O
governo federal está dando bilhões de dólares por dia, e isso
se traduz em segurança de emprego para os lobistas que conseguirem ajudar companhias e
indústrias a conseguir um pedaço do pacote", disse Sheila
Krumholz, do CRP.
Em 2008, o governo aprovou
um pacote de US$ 700 bilhões
de ajuda ao mercado financeiro, o maior da história do país.
Na semana passada, outros
US$ 819 bilhões em desconto
fiscal e investimento público
começaram a sair do papel ao
receber a aprovação da Câmara
dos Representantes (deputados federais). Agora, vão ao Senado. Somados, os valores ultrapassam o PIB do Brasil.
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