São Paulo, domingo, 01 de fevereiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Banimento de lobistas é parcial sob Obama

Cerca de 10% dos indicados pelo presidente trabalharam em escritórios de influência, quebrando norma do próprio democrata

Imposto de Renda de nomes do 1º escalão também traz problemas; secretário de Saúde deixou de declarar uso de carro de empresa

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Com duas semanas de governo, Barack Obama descobre na prática que fazer é mais fácil que desfazer. No campo externo, patinam sua decisão de fechar a prisão de Guantánamo e seu desejo de retirar as tropas do Iraque em até 16 meses. No interno, uma de suas ordens executivas mais saudadas começou a ser desmentida já na assinatura, em 21 de janeiro.
Trata-se da medida provisória que coíbe a influência da indústria do lobby no novo governo. Ao assiná-la, Obama disse que membros de seu governo não seriam influenciados pela atividade "enquanto eu for presidente". Entre as regras, está a proibição de que funcionários ocupem cargo na mesma área em que tenham feito lobby nos últimos dois anos.
O problema é que pelo menos sete funcionários mais graduados do comando do ministério montado pelo novo presidente e cerca de 10% dos quase 150 indicados para trabalhar com o democrata na Casa Branca até agora desobedecem as regras. Entre eles, estão o secretário da Justiça, Eric Holder, e os subsecretários de Defesa, William Lynn, de Estado, James Steinberg, e da Saúde, William Corr, segundos na hierarquia das importantes pastas.
Por seu trabalho como lobista, Holder recebeu US$ 3,3 milhões. Lynn trabalhou até o ano passado pelos interesses da Raytheon, corporação que tem vários contratos no Pentágono, onde ele será o número 2.
Já Steinberg foi consultor de um escritório de lobistas de Washington que prestou serviços para uma companhia bancada pelo governo de Dubai e uma associação comercial da Colômbia, com os quais ele terá de lidar como um dos braços direitos de Hillary Clinton na Chancelaria americana. Por fim, Corr, da Saúde, fez lobby contra a indústria do tabaco.
Completam a lista o secretário especial de Comércio Exterior, Ron Kirk, que até o ano passado fazia lobby pela Merrill Lynch, e dois chefes-de-gabinete: Mark Childress, da Saúde, que fez lobby para duas fundações, e Mark Patterson, que foi pago para defender os interesses do ex-banco de investimentos Goldman Sachs e trabalhará para o secretário do Tesouro, Timothy Geithner.
O próprio nome de Geithner não chega sem problemas: pagou com atraso e somente depois de saber que seria indicado ao cargo os impostos devidos durante sua passagem pelo Fundo Monetário Internacional. Pecadilho semelhante cometeu o novo secretário da Saúde, Tom Daschle.
Segundo revelado anteontem à noite, Daschle pagou os US$ 100 mil em impostos atrasados apenas após sua indicação. A dívida veio de não ter declarado como benefício indireto o uso de um carro com motorista nos anos que prestou serviço a uma empresa. O comitê de Finanças do Senado se reúne amanhã, a portas fechadas, para discutir a questão.
Para Massie Ritsch, porta-voz do Center for Responsive Politics (CRP), de Washington, ONG que mapeia o dinheiro na política norte-americana, Obama criou uma armadilha para ele mesmo ao assinar a ordem. "É uma política tão restritiva que será impossível de ser seguida", disse à Folha.
"Para montar uma equipe de governo, o presidente tem de chamar os melhores de cada área e, em Washington, isso significa que eles terão feito lobby em algum momento." De qualquer maneira, Ritsch acredita que os princípios são bem-vindos, e a influência dos grupos será diminuída.

US$ 17,4 milhões ao dia
As revelações chegam na mesma semana em que um relatório do site OpenSecrets, ligado ao CRP, revela que a indústria do lobby recebeu US$ 3,2 bilhões dos grupos que representa em 2008, o que dá cerca de US$ 17,4 milhões por dia em que o Congresso norte-americano manteve sessão ou cerca de US$ 32.523 por congressista por dia.
Mesmo com a maior crise financeira em décadas, a atividade cresceu em 13,7% no ano. "O governo federal está dando bilhões de dólares por dia, e isso se traduz em segurança de emprego para os lobistas que conseguirem ajudar companhias e indústrias a conseguir um pedaço do pacote", disse Sheila Krumholz, do CRP.
Em 2008, o governo aprovou um pacote de US$ 700 bilhões de ajuda ao mercado financeiro, o maior da história do país. Na semana passada, outros US$ 819 bilhões em desconto fiscal e investimento público começaram a sair do papel ao receber a aprovação da Câmara dos Representantes (deputados federais). Agora, vão ao Senado. Somados, os valores ultrapassam o PIB do Brasil.


Texto Anterior: Sem fronteira: Ahmadinejad homenageia Khomeini
Próximo Texto: Gabinete: Republicano é nome forte para o Comércio
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.