São Paulo, segunda-feira, 01 de fevereiro de 2010

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EUA reforçam defesa antimíssil no golfo

Movimento visa aumentar pressão sobre o Irã e ilustra o abandono de Obama à estratégia de "engajamento" com Teerã

Washington retoma plano de Bush e afirma que maior presença prevenirá reação militar do governo iraniano no caso de novas sanções

Hasan Jamali 20.jan.2009/Associated Press
Bote de patrulha dos EUA no golfo Pérsico; dois navios com capacidade antimíssil estão na região

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Enquanto endurecem a campanha por novas sanções contra o Irã, os Estados Unidos também colocam pressão militar sobre a república islâmica. Após um ano de negociações frustradas em busca de um acordo nuclear com Teerã, o governo Obama decidiu acelerar a instalação de um sistema de defesa no golfo Pérsico, em prevenção a um possível ataque balístico iraniano.
Segundo jornais americanos, dois navios com capacidade de interceptar projéteis monitoram a costa iraniana, e baterias antimísseis estão a caminho de quatro países do golfo -Qatar, Emirados Árabes Unidos, Kuait e Bahrein.
O reforço militar acrescenta um elemento de ação na virada retórica adotada pelo governo Obama em relação ao Irã.
Após a tentativa inicial de "engajamento", a Casa Branca endureceu o discurso, voltando a defender sanções e a fazer advertências como nos tempos do antecessor George W. Bush.
Em seu pronunciamento sobre o Estado da União, na semana passada, Obama alertou que o Irã sofrerá "consequências" se continuar com seu programa nuclear. Ao mesmo tempo, a secretária de Estado, Hillary Clinton, à frente da campanha por sanções mais duras contra Teerã, criticou a China por ser contra punições.
Segundo o jornal "New York Times", a revelação sobre o sistema de defesa no golfo e as declarações de autoridades americanas fazem parte de uma estratégia coordenada do governo Obama para aumentar a pressão sobre o Irã.

Segurança regional
O reforço militar também teria o objetivo de contrapor a escalada do Irã como potência militar regional e prevenir uma reação armada se novas sanções forem aplicadas.
Fontes militares acrescentaram ao jornal que o sistema antimísseis também serve para persuadir Israel a não atacar as instalações iranianas.
A preocupação com o músculo militar iraniano não é só de Israel, afirmam os EUA. Em uma rara palestra feita no último dia 22, o general David Petraeus, chefe do comando central das Forças Armadas americanas, disse que o Irã é "claramente visto como uma ameaça muito séria por aqueles que estão do outro lado do golfo".
Petraeus disse que a instalação do sistema de defesa, um projeto iniciado ainda no governo de Bush filho, inclui oito baterias de antimísseis Patriot, além dos dois cruzadores Aegis que patrulham permanentemente o golfo Pérsico.
Embora as autoridades americanas tenham enfatizado o caráter defensivo das medidas, é certo que o Irã as verá como uma ameaça. O mesmo governo Obama que cancelou o polêmico sistema antimísseis projetado pelo governo no Leste Europeu para apaziguar a Rússia, agora prepara um novo escudo, com o mesmo objetivo: interceptar mísseis iranianos.
O governo de Teerã, que afirma ter intenções pacíficas com seu programa nuclear mas não coopera com a agência de energia atômica da ONU, não comentou a iniciativa americana.
Mas o chanceler do país, Manoucher Mottaki, minimizou as ameaças de novas sanções, acusando a Casa Branca de não ter uma política clara.
"Os esforços de [Hillary] Clinton para que a política volte aos tempos falidos de George W. Bush não beneficiarão nem o atual governo nem o povo americano", disse Mottaki.
Nas novas sanções contra Teerã defendidas pelos EUA, há o cuidado de não afetar a população iraniana, mergulhada em instabilidade interna. Atingiriam sobretudo os membros da Guarda Revolucionária, responsável pelo programa nuclear iraniano, na forma de proibições a viagens e bloqueios de contas no exterior.

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