São Paulo, segunda-feira, 01 de fevereiro de 2010

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Participação das mulheres na política estanca na China

Progressista em relação a vizinhos Japão e Coreia do Sul, país não possui governadora ou prefeita de grande cidade

Mulheres compõem 10% do Comitê Central do Partido Comunista há 35 anos; cota aprovada em 2008 reserva 20% do Parlamento a elas

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

O número de mulheres no topo da política chinesa permanece inalterado há 35 anos -apenas 10% do Comitê Central do Partido Comunista. Em alguns Congressos nos anos 70, o número de mulheres era até um pouco maior que o de hoje.
O poder feminino na China é das poucas coisas que não assistem a crescimento vertiginoso nos últimos 30 anos.
Não há nenhuma governadora entre as 33 Províncias, regiões e municípios autônomos, nem prefeita de grande cidade.
Entre os 25 membros do Politburo Central do Partido Comunista, há só uma mulher (Liu Yandong, 64, vice-presidente do Conselho Consultivo do Congresso do Povo). Tampouco há alguma entre os nove membros do Comitê Permanente do Politburo, os mais poderosos homens da China.
No gabinete chinês, que tem menos poder que o Politburo ou que o Comitê Central, de 27 ministros, há três mulheres, da Justiça, da Supervisão Administrativa e de Planejamento Familiar (no Brasil, de 37 ministros, há duas ministras).

Conquistas e comunismo
"Ao contrário do Ocidente, os direitos iguais foram concedidos às mulheres pela ideologia comunista, não foram conquistados por nós", disse à Folha a estudiosa Liu Bohong, 58, diretora do Centro de Estudos da Mulher da estatal Federação de Mulheres de Toda a China.
"Não tivemos uma revolução sexual, então acabamos nos contentando com pouco", diz. Liu foi mecânica de peças no Exército da Libertação do Povo por 23 anos e há 16 é pesquisadora na Federação.
A federação conseguiu emplacar em 2008 cotas para a participação feminina na tomada de decisões políticas do país. Mínimo de 20% de representação feminina no Congresso Nacional do Povo e ao menos uma mulher integrada às administrações de prefeituras e condados.
Durante décadas, a China se gabou de ter uma igualdade entre os sexos muito maior que vizinhos mais conservadores, como Japão e Coreia do Sul.
Depois da vitória da Revolução Comunista, em 1949, as mulheres chinesas ganharam direitos então inéditos na Ásia. O ditador Mao Tsé-tung, autor de vários textos sobre igualdade entre sexos, nomeou ministras e convidou as mulheres a se unirem à Revolução.
Comparada à China imperial, na qual as mulheres tinham os pés deformados para não precisar trabalhar -e para agradar a um ideal de beleza masculino- e mal tinham acesso aos estudos, foi uma revolução liberadora.
Mas os avanços nas últimas décadas não chegaram ao topo do comando no país. O único organismo em que as mulheres têm maior representação, com 21% das cadeiras, é o Congresso Nacional do Povo -órgão meramente formal e que se reúne uma vez por ano para referendar decisões já tomadas pelo Partido.
Nos poderosos Comitê Central e Politburo, as mulheres ocupam 10% e 4% das vagas respectivamente.
No Japão, a eleição de agosto passado trouxe número recorde de mulheres ao Parlamento, 11%. Na Coreia do Sul, há 13,7%. O Brasil está atrás, com 8,9%, ainda que no Senado o número seja maior, de 12,3% -dezesseis países latino-americanos estão à frente do Brasil.
Se, na política, a participação é tímida, no mundo dos negócios há cada vez mais mulheres de projeção -ainda que menos na empresas totalmente estatais.


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