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Participação das mulheres na política estanca na China
Progressista em relação a vizinhos Japão e Coreia do Sul, país não possui governadora ou prefeita de grande cidade
Mulheres compõem 10% do Comitê Central do Partido
Comunista há 35 anos; cota aprovada em 2008 reserva 20% do Parlamento a elas
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
O número de mulheres no topo da política chinesa permanece inalterado há 35 anos
-apenas 10% do Comitê Central do Partido Comunista. Em
alguns Congressos nos anos 70,
o número de mulheres era até
um pouco maior que o de hoje.
O poder feminino na China é
das poucas coisas que não assistem a crescimento vertiginoso nos últimos 30 anos.
Não há nenhuma governadora entre as 33 Províncias, regiões e municípios autônomos,
nem prefeita de grande cidade.
Entre os 25 membros do Politburo Central do Partido Comunista, há só uma mulher
(Liu Yandong, 64, vice-presidente do Conselho Consultivo
do Congresso do Povo). Tampouco há alguma entre os nove
membros do Comitê Permanente do Politburo, os mais poderosos homens da China.
No gabinete chinês, que tem
menos poder que o Politburo
ou que o Comitê Central, de 27
ministros, há três mulheres, da
Justiça, da Supervisão Administrativa e de Planejamento
Familiar (no Brasil, de 37 ministros, há duas ministras).
Conquistas e comunismo
"Ao contrário do Ocidente, os
direitos iguais foram concedidos às mulheres pela ideologia
comunista, não foram conquistados por nós", disse à Folha a
estudiosa Liu Bohong, 58, diretora do Centro de Estudos da
Mulher da estatal Federação de
Mulheres de Toda a China.
"Não tivemos uma revolução
sexual, então acabamos nos
contentando com pouco", diz.
Liu foi mecânica de peças no
Exército da Libertação do Povo
por 23 anos e há 16 é pesquisadora na Federação.
A federação conseguiu emplacar em 2008 cotas para a
participação feminina na tomada de decisões políticas do
país. Mínimo de 20% de representação feminina no Congresso Nacional do Povo e ao menos uma mulher integrada às
administrações de prefeituras
e condados.
Durante décadas, a China se
gabou de ter uma igualdade entre os sexos muito maior que
vizinhos mais conservadores,
como Japão e Coreia do Sul.
Depois da vitória da Revolução Comunista, em 1949, as
mulheres chinesas ganharam
direitos então inéditos na Ásia.
O ditador Mao Tsé-tung, autor
de vários textos sobre igualdade entre sexos, nomeou ministras e convidou as mulheres a
se unirem à Revolução.
Comparada à China imperial, na qual as mulheres tinham os pés deformados para
não precisar trabalhar -e para
agradar a um ideal de beleza
masculino- e mal tinham
acesso aos estudos, foi uma revolução liberadora.
Mas os avanços nas últimas
décadas não chegaram ao topo
do comando no país. O único
organismo em que as mulheres
têm maior representação, com
21% das cadeiras, é o Congresso Nacional do Povo -órgão
meramente formal e que se
reúne uma vez por ano para referendar decisões já tomadas
pelo Partido.
Nos poderosos Comitê Central e Politburo, as mulheres
ocupam 10% e 4% das vagas
respectivamente.
No Japão, a eleição de agosto
passado trouxe número recorde de mulheres ao Parlamento,
11%. Na Coreia do Sul, há
13,7%. O Brasil está atrás, com
8,9%, ainda que no Senado o
número seja maior, de 12,3%
-dezesseis países latino-americanos estão à frente do Brasil.
Se, na política, a participação
é tímida, no mundo dos negócios há cada vez mais mulheres
de projeção -ainda que menos
na empresas totalmente estatais.
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