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São Paulo, sábado, 01 de março de 2003

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Petróleo também motiva França e Rússia

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

Não é simplesmente por razões humanistas e por respeito ao direito internacional que alguns países, como a França e a Rússia, resolveram se opor a uma guerra preventiva ao Iraque. A questão econômica e geoestratégica também têm um peso fundamental.
As companhias petrolíferas TotalFinaElf (francesa) e Lukoil (russa) seriam as principais beneficiárias de contratos já assinados pelo governo iraquiano com empresas de vários países e que aguardavam o fim do embargo econômico ao Iraque para serem postos em prática. Esses contratos, segundo o Deutsche Bank, seriam da ordem de US$ 38 bilhões.
Se Saddam Hussein for derrubado, é bastante provável que os EUA criem um governo provisório no país que favoreceria as companhias americanas e britânicas na exploração do petróleo do Iraque, a segunda maior reserva do mundo.
"Se os EUA se instalam no Iraque, não serão nem os russos nem os franceses que terão os contratos, mas as companhias americanas", diz André Pertuzio, ex-conselheiro jurídico de energia do Banco Mundial e consultor internacional sobre petróleo.
Segundo o relatório do Deutsche Bank, feito em 2002, "o Iraque aferrou a França, a Rússia e a China a contratos lucrativos, de bilhões de dólares, de modo a influenciar os cinco membros do Conselho de Segurança da ONU".
O presidente da TotalFinaElf, Thierry Desmarest, manifestou preocupação a respeito. "Se nós quisermos ser um ator durável na indústria petrolífera, devemos nos posicionar no Oriente Médio", declarou ele, durante apresentação dos resultados financeiros do grupo. O valor de negócios da TotalFinaElf caiu 3% em 2002. Curiosamente, 50% das ações da companhia são controladas por capital estrangeiro, inclusive fundos de pensão americanos.
A produção iraquiana atual e oficial é de 2,5 milhões de barris por dia. Cerca de 70% são adquiridos por empresas ocidentais, sobretudo americanas, por intermédio da Rússia. Apenas 24 dos 73 poços do país estão funcionando normalmente. As instalações são antigas ou se encontram em mau estado.
A revista "Time" divulgou que as empresas americanas Halliburton, Slumberger, Bektel Group e Baker Hughes, prestadoras de serviço para as petrolíferas, poderiam dividir entre si contratos de US$ 2 bilhões para a reconstrução da infra-estrutura iraquiana.
De posse das reservas iraquianas, os EUA terão adquirido uma vantagem sem par no controle da energia mundial e no jogo de forças geopolítico, contendo os avanços da Rússia e sobretudo da China.
"O objetivo americano não é unicamente petrolífero, mas estratégico de maneira geral", diz Pertuzio. "A partir do momento em que os EUA disporem das reservas iraquianas, eles podem fazer frente à Opep e relativizar a importância do petróleo da Rússia, diminuindo a relevância desse país. Seria também uma arma estratégica contra a China, porque ela, o Japão e outros países asiáticos importam a metade de seu petróleo do Oriente Médio".
Em compasso com os EUA, a Rússia, que não pertence à Opep, está utilizando sua enorme produção para contrabalançar o preço do petróleo ambicionado por esta organização. A Rússia depende dos EUA por razões financeiras, mas as tensões entre os dois países têm subido com relação às reservas petrolíferas descobertas em Estados da Ásia Central que antes estavam ligados à URSS.
A Geórgia, o Uzbequistão, a Ucrânia, o Azerbaijão e a Moldova se reuniram num organismo que tem por objetivo facilitar a cooperação econômica e militar com os EUA. O Casaquistão pode ser o próximo país a se associar.
Segundo Pertuzio, as reservas petrolíferas encontradas nos últimos anos no Azerbaijão e no Casaquistão já são superiores às dos EUA e poderiam alcançar um quarto das do Oriente Médio, com exportações de cerca de 1,3 milhões de barris por dia. Oleodutos, porém, precisam ser construídos para levar o petróleo da região do mar Cáspio para o mar Negro ou o mar Mediterrâneo.


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