São Paulo, terça-feira, 01 de março de 2011

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Mundo rico começa a asfixiar economicamente o ditador líbio

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A GENEBRA

O mundo rico decidiu sufocar economicamente o que resta do governo líbio.
Não são apenas as sanções aprovadas sábado pelo Conselho de Segurança da ONU nem a investigação sobre o banho de sangue, aprovada sexta pelo Conselho de Direitos Humanos do órgão.
São medidas mais concretas e imediatas. Exemplo essencial: o ministro alemão de Assuntos Exteriores, Guido Westerwelle, anunciou ontem que estava propondo um congelamento de 60 dias em todos os pagamentos à Líbia.
"Seria a maneira de assegurar que todos os fluxos financeiros sejam completamente cortados", disse. A Itália agiu mais rápida e eficazmente ainda: suspendeu todas as importações de gás e de petróleo líbias, atingindo a veia jugular da economia.
O Reino Unido decidiu não enviar a Gaddafi o equivalente a 900 milhões de libras em cédulas, impressas no reino.
Para William Hague, o ministro do Exterior, medidas como essa podem "salvar vidas de líbios", na medida em que o ditador teria menos recursos para, por exemplo, comprar armas ou pagar os mercenários que estariam matando indiscriminadamente em Trípoli.
Reforça Westerwelle: "Devemos fazer tudo para assegurar que dinheiro algum vá para as mãos da família do ditador, para que eles não tenham oportunidade de contratar novos soldados estrangeiros para reprimir o povo".

ZONA DE EXCLUSÃO
As decisões foram adotadas ou discutidas em reunião ontem entre os ministros do Exterior dos EUA, Hillary Clinton; do Reino Unido; da Itália, Franco Frattini; da Alemanha; e o vice-ministro francês Laurent Wauquez.
Também entrou na discussão a imposição de uma zona sobre a Líbia em que seriam proibidos voos, no que seria uma tentativa de evitar que Gaddafi bombardeie locais controlados por rebeldes.
Mas é uma decisão difícil de tomar. "Seria uma trágica desilusão se a proibição fosse violada", diz Frattini. É uma alusão ao fato de que, se alguma aeronave violasse o veto, teria que ser derrubada, o que criaria mais problemas do que resolveria.
Sufocar a Líbia de Gaddafi não é a única iniciativa que as grandes potências estão adotando. Frattini conta que elas estão também procurando contatos "com o povo líbio, em busca de alternativas críveis" para o pós-Gaddafi.
Como autoridade italiana, Frattini é talvez a melhor fonte para informações sobre a Líbia, por ter sido a Itália a potência colonial e, já com Gaddafi, o principal sócio europeu do ditador.
Essas ações ou sugestões estão sendo conduzidas no âmbito da ONU, porque há verdadeira fobia de ações unilaterais por parte das grandes potências, escaldadas por fracassos anteriores.
Por isso mesmo, Frattini diz que os países árabes e africanos serão também procurados para respaldar as iniciativas do Ocidente. "A Liga Árabe tem um papel tremendamente importante a desempenhar", diz o italiano. Mais: "É importante ter a bordo a União Africana".
A Folha pergunta, então, se não é contraditório pedir aos países árabes que se unam ao esforço pelo que Frattini chamou de "nova Líbia", democrática, se quase todos são não democráticos.
Frattini sai pela tangente ao dizer que não se trata de impor "um modelo de democracia. Trata-se de dar apoio sem interferir".
O apoio virá, entre outros meios, pela criação o mais depressa possível de corredores humanitários, aéreos e terrestres, para levar ajuda inicialmente à região da Cirenaica, o oriente líbio, em que já há um ensaio de formação de um governo provisório.
Aberto o corredor, poderia ser aproveitado para o envio da comissão de investigação, que, na expectativa da embaixadora brasileira Maria Nazareth Farani Azevedo, colheria os testemunhos das vítimas e funcionários da ONU e das ONGs.


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