São Paulo, sábado, 01 de abril de 2006

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ORIENTE MÉDIO

Helena Halevy, que vivia em Israel havia 40 anos, deu carona ao terrorista, que estava disfarçado de judeu

Brasileira é morta por suicida palestino

MICHEL GAWENDO
COLABORAÇÃO PARA FOLHA, DE TEL AVIV

A brasileira Helena Halevy, 60, foi morta no atentado cometido por um homem-bomba palestino na noite de quinta-feira, em seu carro, numa estrada da Cisjordânia. Helena, o marido Rafi e outros dois israelenses morreram quando um terrorista detonou explosivos no carro do casal, perto de um posto de gasolina na entrada do assentamento de Kedumim, no norte da Cisjordânia.
Segundo a polícia, havia cerca de 10 quilos de explosivos e parte do carro, que pegou fogo durante uma hora, foram encontrados a 60 metros de distância. A suspeita é de que Helena e Rafi deram carona para o terrorista, achando que ele também era judeu. A polícia informou que o suicida estava vestido como judeu para enganar os colonos e cometer o atentado.
Amigos da brasileira acreditam que a intenção do suicida era entrar no assentamento e matar um número maior de pessoas. Helena Halevy será enterrada amanhã, no cemitério do assentamento judaico, onde morava.
Os jovens israelenses que estavam no carro, de 20 e 16 anos, também viajavam de carona com a brasileira e o marido. A prática de dar carona é comum entre os colonos nas estradas da Cisjordânia exclusivas para judeus.
O terrorista foi identificado como Mahmoud Masharka, 24, do campo de refugiados de El Bureij, perto de Hebron. Masharka foi preso pelas autoridades palestinas por planejar atentados, mas foi libertado em março. Desde então, era procurado por Israel.
A embaixada do Brasil em Tel Aviv ainda não decidiu se mandará uma representação para o enterro da brasileira. O Itamaraty divulgou comunicado lamentando a morte da brasileira, no qual "condena com veemência esse injustificável ato de violência".
Helena imigrou para Israel há 40 anos. Foi voluntária em um kibutz, onde conheceu o marido, que era de uma família religiosa. Há cerca de 15 anos mudaram-se para o assentamento de Kedumim com os quatro filhos.
Helena deixa duas filhas e dois filhos. Um deles, chamado Oded, é comandante de um batalhão de coleta de inteligência militar na faixa de Gaza. A brasileira tinha também um neto e duas netas.
A facção Brigadas de Mártires de Al Aqsa, ligada ao Fatah, partido do presidente palestino, Mahmoud Abbas, assumiu a autoria do atentado, em aparente vingança por ações de Israel contra o grupo nos últimos meses.
Em retaliação ao ataque que matou a brasileira, o Exército de Israel intensificou as patrulhas na região e restringiu a movimentação de homens de 16 a 32 anos de idade. Na manhã de ontem, tropas do Exército de Israel entraram na casa do suicida e prenderam seu irmão, também por suspeita de planejar ataques.
O ministro da Defesa de Israel, Shaul Mofaz, responsabilizou o Hamas pelo ataque, por não combater a violência. A líder do conselho regional de Kedumim, Daniela Weiss, culpou o premiê interino de Israel, Ehud Olmert. "O discurso da vitória de Olmert é um discurso de concessões. A política de fugir do terrorismo traz mais assassinatos", disse Weiss.
O partido de Olmert, o Kadima, fez a maior bancada do Parlamento israelense na eleição desta semana. No discurso da vitória, ele disse estar disposto a devolver territórios aos palestinos. Também nesta semana, o grupo terrorista Hamas assumiu o controle da Autoridade Nacional Palestina.
Helena é a mais recente vítima brasileira do conflito no Oriente Médio. Em julho do ano passado, a brasileira Dana Galkovitz, de 22 anos, morreu ao ser atingida por um morteiro disparado por palestinos da faixa de Gaza. Ela estava na varanda da casa do namorado, em uma fazenda perto da região, quando foi atingida.
Em novembro de 2004, o brasileiro Ghassan Othman Mussa, também de 22 anos, foi morto a tiros por soldados de Israel em Ramallah, na Cisjordânia. O Exército do país disse que ele era terrorista e disparou contra as tropas ao ser interpelado, mas a família do rapaz negou envolvimento dele com grupos ilegais.
Em agosto de 2001, o turista brasileiro Giora Balach, de 60 anos, morreu em um atentado suicida em um pizzaria no centro de Jerusalém. Outras 14 pessoas também morreram.


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