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ARTIGO
O Japão ressurge
MICHAEL J. GREEN
DA "FOREIGN AFFAIRS"
Hoje em dia, qualquer livro
sobre a Ásia cujo título contenha a palavra "ascensão" provavelmente versará sobre a
China. Com certeza foi tendo
isso em mente que Kenneth
Pyle decidiu pelo inteligente título "Japan Rising: The Resurgence of Japanese Power and
Purpose" [Japão em ascensão;
o ressurgimento do poder e determinação japoneses] para o
seu abrangente estudo da cultura estratégica japonesa.
Em um momento no qual
ministros, presidentes de empresas e jornalistas só passam
por Tóquio porque estão a caminho de Pequim, Pyle nos
lembra de que a China não é o
único protagonista que está
realizando escolhas estratégicas que determinarão o futuro
da Ásia. "Depois de mais de
meio século de pacifismo nacional e isolacionismo, o Japão
está se preparando para se tornar um importante participante nas disputas estratégicas do
século 21", diz a introdução.
O Japão mais determinado
proposto pelo ex-primeiro-ministro Junichiro Koizumi e por
seu sucessor, Shinzo Abe, é
muitas vezes descrito por observadores como "nacionalista" ou mesmo "militarista".
Mas além de apontar para o
fato de que os pilares básicos do
pacifismo e passividade japoneses estão se erodindo, poucos autores são capazes de explicar a base para o atual pensamento estratégico japonês.
Conduzindo o leitor da chegada da frota norte-americana
comandada pelo comodoro
Matthew Perry à baía de Edo,
em 1853, à Esfera da Co-Prosperidade da Grande Ásia, nos
anos 30, e à aliança com os Estados Unidos na década de 40,
depois da guerra, Pyle demonstra como as elites japonesas
mantiveram intensamente o
foco em maximizar a autonomia, posição e honra do país.
Ele também demonstra de
que maneira elas se mantiveram atentas à distribuição internacional de poder e adotaram as práticas de mais sucesso
das potências hegemônicas. Ao
ler esse trabalho histórico, percebemos que o Japão não está
retomando suas raízes mais
realistas; na verdade, nunca as
abandonou.
Mais com menos
Um dos elementos mais notáveis do relato de Pyle é a maneira pela qual o Japão consistentemente conseguiu fazer
mais usando menos. Pyle aponta que, entre 1860 e 1938, quando o Japão começava a afirmar
sua posição de pretendente ao
domínio de metade do planeta,
sua participação no Produto
Interno Bruto (PIB) mundial
cresceu de 2,6% para 3,8%.
Sob o lema de "nação rica,
Exército forte", a elite da era
Meiji adotou as tecnologias e
instituições ocidentais que serviam ao propósito de uma rápida modernização e ao objetivo
de canalizar as mais avançadas
tecnologias para o Exército e a
Marinha imperiais.
Em 1860, a maioria dos militares a serviço do Japão continuavam armados de espadas,
alabardas ou lanças; em dezembro de 1940, o Japão estava
projetando, construindo e empregando operacionalmente
alguns dos mais modernos encouraçados e caças do mundo.
Depois de uma derrota catastrófica em 1945, o Japão se viu
forçado a uma acomodação
com os ocupantes norte-americanos e à nova ordem internacional dominada pelos Estados
Unidos.
O arquiteto da estratégia japonesa no pós-guerra, o primeiro-ministro Shigeru Yoshida, acreditava que a liderança
do pré-guerra não havia dedicado atenção suficiente às relações de poder internacionais, e
que havia administrado de maneira ineficiente as fontes de
poderio nacional do país.
Yoshida alinhou Tóquio a
Washington de maneira estreita, e garantiu que o foco do Japão no pós-guerra continuasse
a ser a reconstrução econômica, e não a remilitarização.
Yoshida e a elite conservadora viam o pacifismo como maneira de maximizar a autonomia nacional do Japão até que o
país se tivesse recuperado. Os
sucessores dele garantiram que
o artigo nove fosse institucionalizado como parte das leis
domésticas, o que oferecia ao
país uma via de escape com relação a envolvimento excessivo
na estratégia dos Estados Unidos durante a Gerra Fria.
Yoshida tinha especial preocupação em manter a liberdade
de ação do Japão para estabelecer relações comerciais com a
China, que ele tinha certeza
terminaria por se libertar da
sujeição à União Soviética.
Com o final da Guerra Fria, a
elite do Japão se viu uma vez
mais forçada a se ajustar a uma
nova ordem internacional. Depois de cinco décadas de forte
crescimento econômico, a nação parecia dispor das ferramentas necessárias a reforçar
sua posição, mantendo o alinhamento com a única superpotência do mundo.
Boa parte da elite japonesa
acatava a famosa fórmula do
ex-ministro assistente das Finanças Eisuke Sakakibara, de
que a economia japonesa havia
"ultrapassado o capitalismo" e,
por isso, Tóquio poderia dar
forma ao seu ambiente estratégico com base em uma posição
de liderança na Ásia e sem necessidade de militarizar o país.
Em lugar disso, a década de
90 viu um Japão paralisado durante a primeira guerra do Golfo Pérsico, desprovido de um
modelo econômico confiável
depois do colapso da bolha em
seus mercados, incapaz de usar
a interdependência econômica
para influenciar o alcance estratégico que a China começava
a desenvolver e sob ameaça de
uma Coréia do Norte determinada a ter armas nucleares.
Foi só depois de uma década
de deriva que o Japão voltou a
encontrar o rumo, sob a liderança de Koizumi e Abe, ambos
representantes de famílias políticas opositoras de Yoshida.
Koizumi atacou a base de poder
da velha guarda do Partido Liberal Democrata, que governa
o país, e fomentou a reestruturação necessária a recolocar a
economia nos trilhos.
Pyle prevê que o Japão continuará a conduzir a sintonia fina
de seu poderio nacional a fim
de se adaptar às mudanças no
ambiente internacional. Ele
aponta que o Japão ainda não
descobriu como conviver com o
legado da Segunda Guerra ou
fez as difíceis escolhas necessárias para sustentar o crescimento econômico em longo
prazo (como a reforma das políticas de imigração e agrícola).
Em resumo: o Japão começou a explorar novas fontes de
poder a fim de manter sua posição de liderança na Ásia, como
aconteceu tantas outras vezes
no passado.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
NA INTERNET - Leia a íntegra
do artigo
www.folha.com.br/070902
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