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Amorim insiste na defesa do diálogo com Teerã
CRISTINA FIBE
DE NOVA YORK
No dia em que os EUA conseguiram dobrar a resistência
chinesa a uma nova rodada de
sanções do Conselho de Segurança da ONU (CS) contra o
Irã, o ministro brasileiro das
Relações Exteriores, Celso
Amorim, manteve a posição de
que as "possibilidades de negociação não estão esgotadas".
Ele disse, porém, que "é importante que o Irã revele flexibilidade, demonstre que está interessado em negociar".
O Brasil ocupa atualmente
um dos assentos rotativos do
CS e teria de se pronunciar sobre as sanções caso elas vão à
votação. No último ano, Brasil e
Irã estreitaram seus laços -o
presidente Mahmoud Ahmadinejad visitou Brasília em novembro, e Luiz Inácio Lula da
Silva tem viagem a Teerã marcada para maio.
Na entrevista de ontem a jornalistas brasileiros na ONU,
Amorim manteve o ceticismo
em relação às suspeitas de que
o programa nuclear do Irã vise
a obtenção da bomba, e usa o
exemplo do Iraque, onde nunca
foram encontradas as armas de
destruição em massa que justificariam a invasão americana.
"Cada caso é um caso, mas o
que ocorreu no Iraque tem que
ser levado em conta. É muito
comum dizerem que é ingênuo
o Brasil acreditar no Irã, mas
foi ingênuo acreditar nas informações que se provaram falsas
das agências de inteligência.
Não podemos aceitar essas coisas das maneiras como nos são
vendidas", sentenciou.
Posição pode mudar
"Há preocupações do lado do
Ocidente que não sei se são
fundamentadas ou não, porque
se baseiam em serviços de inteligência, eu não tenho como
julgar isso. Se há dúvidas, se há
situações ambíguas, acho que o
Irã também deveria fazer o
possível para ajudar a resolver", disse Amorim.
Se, por um lado, o ministro
afirma que a posição do Brasil é
a de "procurar uma solução negociada", por outro diz que
"não há posição irredutível" e
que "nunca disse como é que o
país vai votar" no CS. Não descartou, portanto, que o Brasil
possa vir a apoiar as sanções.
"O Brasil é contra armas nucleares em geral, seja de quem
for, dos EUA, da Rússia, da China, de Israel. Se algum dia o Irã
tiver, será contra também. Mas
queremos evitar isso."
Para o chanceler, "não há segurança absoluta, a maior segurança é ter inspetores [da agência atômica da ONU] no local".
"Um acordo, não é que vá resolver, mas seria uma porta de entrada para a recriação da confiança. Para abandonar o caminho da paz você não pode ter
dúvidas, tem que estar absolutamente convencido."
Para definir um voto do Brasil, completou, "vamos ver qual
é a atitude [do Irã]". Questionado por jornalistas estrangeiros
sobre a mudança de posição da
China, Amorim se esquivou e
disse preferir não comentar decisões de outros países.
Ele enfatizou que os brasileiros não escolheram um lado,
mas estão sendo cuidadosos
para não incriminar o país acusado. "O Brasil não é pró-Irã, é
pró-paz, é a favor de que se busquem ardentemente, até as últimas consequências, soluções
pacíficas para os problemas."
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