São Paulo, quinta-feira, 01 de abril de 2010

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Amorim insiste na defesa do diálogo com Teerã

CRISTINA FIBE
DE NOVA YORK

No dia em que os EUA conseguiram dobrar a resistência chinesa a uma nova rodada de sanções do Conselho de Segurança da ONU (CS) contra o Irã, o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, manteve a posição de que as "possibilidades de negociação não estão esgotadas". Ele disse, porém, que "é importante que o Irã revele flexibilidade, demonstre que está interessado em negociar".
O Brasil ocupa atualmente um dos assentos rotativos do CS e teria de se pronunciar sobre as sanções caso elas vão à votação. No último ano, Brasil e Irã estreitaram seus laços -o presidente Mahmoud Ahmadinejad visitou Brasília em novembro, e Luiz Inácio Lula da Silva tem viagem a Teerã marcada para maio.
Na entrevista de ontem a jornalistas brasileiros na ONU, Amorim manteve o ceticismo em relação às suspeitas de que o programa nuclear do Irã vise a obtenção da bomba, e usa o exemplo do Iraque, onde nunca foram encontradas as armas de destruição em massa que justificariam a invasão americana.
"Cada caso é um caso, mas o que ocorreu no Iraque tem que ser levado em conta. É muito comum dizerem que é ingênuo o Brasil acreditar no Irã, mas foi ingênuo acreditar nas informações que se provaram falsas das agências de inteligência. Não podemos aceitar essas coisas das maneiras como nos são vendidas", sentenciou.

Posição pode mudar
"Há preocupações do lado do Ocidente que não sei se são fundamentadas ou não, porque se baseiam em serviços de inteligência, eu não tenho como julgar isso. Se há dúvidas, se há situações ambíguas, acho que o Irã também deveria fazer o possível para ajudar a resolver", disse Amorim.
Se, por um lado, o ministro afirma que a posição do Brasil é a de "procurar uma solução negociada", por outro diz que "não há posição irredutível" e que "nunca disse como é que o país vai votar" no CS. Não descartou, portanto, que o Brasil possa vir a apoiar as sanções.
"O Brasil é contra armas nucleares em geral, seja de quem for, dos EUA, da Rússia, da China, de Israel. Se algum dia o Irã tiver, será contra também. Mas queremos evitar isso."
Para o chanceler, "não há segurança absoluta, a maior segurança é ter inspetores [da agência atômica da ONU] no local". "Um acordo, não é que vá resolver, mas seria uma porta de entrada para a recriação da confiança. Para abandonar o caminho da paz você não pode ter dúvidas, tem que estar absolutamente convencido."
Para definir um voto do Brasil, completou, "vamos ver qual é a atitude [do Irã]". Questionado por jornalistas estrangeiros sobre a mudança de posição da China, Amorim se esquivou e disse preferir não comentar decisões de outros países.
Ele enfatizou que os brasileiros não escolheram um lado, mas estão sendo cuidadosos para não incriminar o país acusado. "O Brasil não é pró-Irã, é pró-paz, é a favor de que se busquem ardentemente, até as últimas consequências, soluções pacíficas para os problemas."


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