São Paulo, sábado, 01 de maio de 2004

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A EUROPA DOS 25

Para analistas, problemas no antigo bloco soviético podem atrasar reformas na UE

Instabilidade dos novos integrantes é ameaça

Szilard Koszticsak/MTI/Associated Press
Húngaros celebram com bandeiras do país e da União Européia a entrada do país no bloco, na praça dos Heróis, em Budapeste


DO ENVIADO ESPECIAL A VARSÓVIA

A instabilidade política em vários dos oito países do antigo bloco soviético que aderem hoje à União Européia poderá minar a já morna determinação da UE de introduzir as reformas econômicas necessárias para se tornar mais competitiva e de aprofundar as relações entre seus membros, dizem analistas ouvidos pela Folha.
Governos fracos, sistemas partidários pouco transparentes ou difusos e o surgimento de forças populistas com um discurso de extrema direita poderiam fazer dos novos membros parceiros imprevisíveis, impedindo ou atrasando a tomada de decisões políticas vitais para o futuro do bloco.
"A entrada dos novos Estados será um fator de instabilidade por duas razões. Primeiro, o sistema de tomada de decisões ficará engessado com 25 membros antes que a Constituição seja aprovada e mesmo após sua aprovação, já que nem todas as decisões serão tomadas por maioria qualificada", analisou Michael Kreile, especialista em UE da Universidade Humboldt (Berlim).
"Segundo, a instabilidade política atual de alguns países do Leste Europeu, como a Polônia, a República Tcheca e a Lituânia, não permitirá que seus líderes apóiem medidas mais controversas ou impopulares, como as necessárias para introduzir as reformas econômicas", acrescentou.
A entrada dos novos membros, alguns dispostos a mostrar que não serão controlados pelos sócios mais ricos, poderá agravar as divisões na UE em relação aos laços com os EUA, às políticas econômicas e ao orçamento.
Há algumas semanas, o governo polonês (centro-esquerda) anunciou que renunciaria amanhã.
Na Lituânia, o Parlamento aprovou o impeachment do então presidente, Rolandas Paksas, por seu envolvimento com um empresário ligado à máfia russa.
Na Eslováquia, o nacionalista Vladimir Meciar (ex-premiê), com tendências de extrema direita, perdeu a eleição legislativa há duas semanas, mas seus aliados tiveram mais de 40% dos votos.
Na República Tcheca, presidida pelo "eurocético" Vaclav Klaus, o governo perdeu a maioria no Parlamento. Na Eslovênia, cinco ministros eslovenos renunciaram há algumas semanas. Na Letônia, o 12º governo em 13 anos acaba de assumir o poder. E a Estônia teve uma crise política em 2003.
"A instabilidade política existente hoje em boa parte do Leste Europeu poderá dificultar o andamento institucional da UE nos próximos anos, até que os Estados mais instáveis tenham um sistema mais sólido", avaliou Julius Horvath, presidente da Escola de Relações Internacionais e de Estudos Europeus da Universidade da Europa Central (Budapeste).
"Contudo vale lembrar que a essência da expansão é levar mais estabilidade aos países da Europa central e da oriental, fazendo que suas democracias se consolidem a médio prazo. Não podemos esquecer que, há pouco mais de uma década, esses países estavam sob o jugo soviético, e a prosperidade européia não chegará de modo indolor", acrescentou.
Mas, para Anne-Marie Le Gloannec, diretora do Centro Marc Bloch, um instituto de pesquisas franco-alemão situado em Berlim, "não se pode exagerar na análise negativa dos efeitos da instabilidade dos novos membros". (MÁRCIO SENNE DE MORAES)


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