São Paulo, terça-feira, 01 de maio de 2007

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Imigração domina 1º de Maio nos EUA

Entidades querem aproveitar a data para pressionar o Congresso a aprovar uma reforma; Bush defende iniciativa

Novos estudos sugerem maior integração dos sem-documentos e mais tolerância também; anistia geral e irrestrita é rejeitada

M. Spencer Green-10.mar.2007/Associated
Em Chicago, imigrante segura cartaz lembrando a morte de mexicanos que tentam cruzar a fronteira com os EUA ilegalmente


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Entidades de direitos civis aproveitam o Dia do Trabalho, hoje, para convocar manifestações pró-imigrantes em diversas cidades dos EUA, da capital a Los Angeles, de Miami a Nova York. Apesar de o feriado mundial não ser celebrado no mesmo dia no país, a idéia é aproveitar a data para pressionar o Congresso a aprovar uma reforma imigratória.
Junto da Guerra do Iraque, a imigração promete mobilizar os debates da corrida presidencial de 2008 e é um dos poucos temas em que não há consenso nem mesmo dentro dos partidos. Durante sua visita à América Latina, em março, George W. Bush sugeriu pela primeira vez um prazo para que democratas e republicanos apresentassem legislação que ele pudesse assinar: agosto.
Com o fracasso na condução do conflito no Iraque e menos de dois anos para deixar o poder, o presidente republicano acredita que o legado de sua Presidência pode ser achar uma solução para os 12 milhões de não-americanos que vivem sem documento nos EUA e regras claras para os que desejam vir trabalhar no país. No fim de semana, retomou sua cruzada para convencer o Congresso.
No sábado, em seu programa de rádio semanal, disse: "Sei que as pessoas têm convicções fortes sobre esse assunto, mas acredito que nós podemos ter um debate sério, civilizado e conclusivo". Depois, reforçaria a uma platéia de estudantes universitários em Miami: "Devemos lidar com todos os elementos desse problema ao mesmo tempo -ou nenhum deles será resolvido".
A base da proposta de Bush é um "programa de trabalhadores convidados", que viriam aos EUA com uma estadia predeterminada, para realizar trabalhos que os americanos não querem. Nesse período, poderiam mandar seus ganhos ao seu país de origem e pagariam imposto reduzido. Quanto aos milhões que já estão no país, o presidente defende avaliação caso a caso.
Um dos pontos da discórdia é em relação à anistia: os manifestantes querem perdão automático aos que já estão no país, o que "não vai acontecer", segundo Bush.
Apesar da temperatura do tema, os organizadores das manifestações de hoje não esperam a mesma mobilização do ano passado, quando cerca de 1 milhão de pessoas foram às ruas.

Consenso controverso
Mobilizado ou não, o grupo é alvo de estudos recentes que ajudam a desmontar alguns mitos. Segundo o relatório "Solving our Immigration Problem - From Controversy to Consensus" (resolvendo nosso problema de imigração - da controvérsia ao consenso), de Roger F. Noriega e Megan Davy, quase metade dos que se encontram nessa situação no país hoje entraram legalmente e se tornaram ilegais ao não saírem.
Ainda segundo o levantamento, 50% dos eleitores republicanos apoiam a permanência dos imigrantes que já estão no país, desde que sejam legalizados. O estudo, do conservador American Enterprise Institute, usa dados de levantamentos feitos pelos institutos de pesquisa Gallup e Pew Hispanic Center para propor soluções bipartidárias.
"Os americanos achamos que todos os imigrantes sem documentos cruzaram a fronteira ilegalmente", disse à Folha por e-mail Megan Davy, do AEI. "Esse engano só é reforçado pela mídia ao mostrar pessoas pulando muros."
Ela elenca dez pontos básicos para que uma reforma imigratória seja aceita por ambos os lados do espectro político, que podem ser resumidos assim: legalizar imigrantes que vivem aqui só vai ajudá-los a se tornar menos vulneráveis a exploração e evitar, assim, que diminuam o salário médio geral; não é viável deportar 12 milhões de pessoas, mas imigrantes que tentarem entrar no país ilegalmente a partir da aprovação da lei devem ser impedidos. Por razões econômicas, o programa de trabalho temporário deveria ser criado; e anistia geral e irrestrita a todos os que já estão no país não é uma opção.


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