São Paulo, sábado, 01 de maio de 2010

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MST aproveita crise para atrair brasiguaios

Fluxo para acampamento à beira de estrada em MS de brasileiros que se sentem ameaçados no Paraguai é incentivado por organização

Líder sem terra afirma que intenção de recrutamento é "polarizar aqui no Brasil para que o governo tome posição sobre o problema"

Jota Alves/Folha Imagem
Acampamento na beira da BR-163, em Mato Grosso do Sul; prefeita estima movimento recente de 400 famílias vindas do Paraguai

RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ITAQUIRAÍ (MS)

Líderes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) em Mato Grosso do Sul se aproveitaram do acirramento da crise na fronteira com o Paraguai para atrair centenas de brasiguaios (brasileiros que vivem no país vizinho) para um acampamento seu em Itaquiraí (390 km de Campo Grande).
A vinda dos brasileiros, que dizem fugir da violência de grupos paraguaios armados, se intensificou há três meses e foi precedida por uma visita de dirigentes do MST à região de Santa Tereza, um dos focos de conflitos agrários no país e localizada a 420 km de Itaquiraí.
A Folha esteve no acampamento, às margens da rodovia BR-163, e ouviu recém-chegados, como o agricultor Alaércio Zanella, 39, que desembarcou ontem, acompanhado de sua mulher, Elenira, 35.
"Vim para fazer acampamento e depois volto para buscar o resto da família. Se sair um pedacinho de terra aqui, eu só volto ao Paraguai talvez para visitar algum conhecido."
O brasiguaio disse que duas de suas filhas ficaram com os sogros em seu sítio de 34 hectares no município de Mariscal Francisco Solano López, no departamento de Caaguazú.
"Já invadiram todas as minhas terras por lá. Só ficou a casa. Se deixasse sozinha, os campesinos iam se mudar de vez para lá", disse Zanella.
"Eles [integrantes do MST] já foram fazer palestra para nós lá no Paraguai. Mas a gente ficava naquela, pois diziam que a situação das terras ia ser resolvida para os brasileiros, mas a situação nunca se resolve, só fica na promessa", afirmou.
O coordenador estadual do MST, José de Oliveira, disse que o movimento se "sensibilizou" com a situação vivida pelos brasileiros no país vizinho.
"Nós ficamos sabendo do que ocorria, fomos ao local mais conflituoso e nos colocamos à disposição daqueles trabalhadores para resgatar a sua cidadania", disse Oliveira.
De acordo com ele, a intenção é "tentar polarizar aqui no Brasil, para que o governo tome uma posição em relação ao problema". "Sozinhos, eles não conseguiriam se mobilizar para vir e não sairiam de forma organizada. Mas muitos também têm vindo espontaneamente."
O fluxo levou a Prefeitura de Itaquiraí a considerar a decretação de situação de emergência. "Não é possível ter certeza, mas a gente acha que chegaram 400 famílias", diz a prefeita Sandra Cassone (PT).
O acampamento se estende por cerca de 600 metros nos dois lados da rodovia. Por conta do risco de atropelamentos -há muitas crianças por lá-, os acampados ergueram quatro quebra-molas improvisados com terra e pedras.
A Folha acompanhou no local uma reunião convocada pelo MST por meio de fogos de artifício. Cerca de 150 pessoas ouviram Oliveira dizer que a situação dos brasiguaios já havia mobilizado "autoridades em Brasília". Ao final, gritaram palavras de ordem que mencionavam os nomes de Che Guevara e Zumbi dos Palmares.


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