São Paulo, domingo, 01 de maio de 2011

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Reino Unido discute mudar sucessão real

Após casamento de William e Kate, governo quer alterar norma que dá preferência aos homens na linha sucessória

Elizabeth 2ª se tornou rainha porque seu pai só teve filhas; pressão de anglicanos deve manter restrições a católicos

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES

Passado o casamento, o Reino Unido precisa agora pensar nos filhos do príncipe William e Kate Middleton.
O governo britânico já admite que trabalha para alterar a norma que define que os homens têm preferência sobre suas irmãs na hora de suceder o rei ou a rainha. Para o vice-premiê, Nick Clegg, a discriminação por gênero não faz o menor sentido.
Se a regra mudasse, o primeiro filho de William e Kate Middleton passaria a figurar automaticamente como o terceiro na linha sucessória, qualquer que fosse seu sexo. Estaria atrás do príncipe Charles e do próprio William.
Sem alteração, um filho homem passa na frente das filhas que o casal tiver antes.
Uma pesquisa feita pelo jornal "Daily Mail" mostra que 62% dos britânicos são a favor de acabar com a preferência dos filhos homens.
O problema é que uma alteração nesse sentido teria de ser aprovada também nos outros 15 países onde o monarca inglês é considerado o chefe de Estado, como Canadá, Austrália ou Nova Zelândia, por exemplo.
É uma negociação no mínimo demorada, mas que ganhará força se o primeiro filho do casal for menina.
Vale lembrar que Elizabeth 2ª só se tornou rainha porque seu pai, Jorge 6º (o rei gago de "O Discurso do Rei"), só teve duas filhas.

VETO A CATÓLICOS
Uma outra regra também pode entrar na discussão: a que obriga o membro da família real a abdicar de sua posição na linha sucessória ao trono se se casar com uma pessoa católica.
Mas a questão religiosa parece muito mais difícil de modificar. A Igreja Anglicana não quer saber de nenhuma mudança no chamado "Act of Settlement", que é de 1701.
Na época, ele foi adotado para impedir que subisse ao trono algum católico após a morte de Guilherme 3º, que não teve filhos.
A questão tem razões históricas e envolve, mais uma vez, filhos e filhas.
A Igreja Anglicana nasceu em 1534, depois de Henrique 8º, então rei inglês, romper com o papa Clemente 7º e fundar sua própria igreja.
O rei queria se separar de sua primeira mulher, Catarina de Aragão, que, entre outras razões alegadas à época, não lhe dava um filho homem. O papa vetou.
A restrição religiosa é apenas contra católicos, o que os críticos consideram ainda mais sem sentido.
Em tese, um rei inglês pode se casar com uma muçulmana, por exemplo.
Um porta-voz da Igreja Anglicana diz que a restrição aos católicos pode parecer anômala nos dias de hoje, mas argumenta que não é o momento de removê-la.
A relação entre as duas igrejas sempre foi um pouco conflituosa. No ano passado, durante visita de Bento 16 ao Reino Unido, houve encontros entre o papa e o arcebispo da Cantuária, Rowan Williams, líder espiritual da comunidade anglicana.
Os dois tentaram aparar arrestas após Bento 16 oferecer aos anglicanos descontentes com a possível nomeação de mulheres e homossexuais como bispo a volta à Igreja de Roma.


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