São Paulo, quinta-feira, 01 de junho de 2006

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Medo faz 100 mil fugirem em Timor Leste

Zanai Abd Halim/Reuters
Homem olha uma das casas queimadas em Dili


Depois do conflito no Exército que eclodiu na semana passada, saqueadores lutam por espaço na capital, submersa no caos

Premiê se nega a renunciar, como exigem rebelados; grupo de países e órgãos financeiros exorta governo timorense a superar crise

DA REDAÇÃO

Um em cada dez habitantes de Timor Leste deixou atemorizado sua casa, com a onda de violência que eclodiu no país no final de abril. A estimativa é de Kym Smithies, porta-voz de cerca de 30 entidades filantrópicas privadas que atuam naquela ex-colônia portuguesa.
Na capital, Dili, em torno de 70 mil dos 250 mil moradores se refugiaram em igrejas ou conventos, enquanto outros 30 mil estão em casas de parentes, nas imediações, ou em acampamentos improvisados. Há cerca de 3.000 mulheres grávidas abrigadas em acampamentos.
Apesar da presença de forças estrangeiras -só os australianos já somam 1.300 soldados e 700 integrantes de equipes de apoio-, grupos de jovens empunhando machados e armas brancas continuaram ontem a saquear Dili e a incendiar casas abandonadas pelos moradores.

Reforços
As "medidas de emergência" anunciadas anteontem pelo presidente Xanana Gusmão permitem que esses militares atirem em grupos de saqueadores. Mas o comandante australiano em Dili, brigadeiro Mick Slater, disse que nenhum tiro foi até agora disparado. O máximo que aconteceu, anteontem, foi a dispersão de um grupo de jovens por meio de bombas de gás lacrimogêneo, lançadas de um helicóptero, disse ele.
Ontem também desembarcaram 160 novos militares da Nova Zelândia e 330 da Malásia. Os 120 portugueses devem chegar até sábado.
Depois de uma manhã relativamente calma, saqueadores procuraram interromper a avenida que dá acesso ao aeroporto de Dili. Dois grupos passaram a lutar com armas brancas para obter o controle do local. Foram dispersados pelos australianos, que também socorreram um jovem atingido por um golpe de machado na cabeça.
Um dos comandantes australianos, o coronel Michael Mumford, disse a uma TV de seu país que disputas semelhantes são corriqueiras, interrompem-se com a chegada dos militares e são retomadas tão logo eles viram as costas.
Os australianos disseram ter prendido nove saqueadores. Também prenderam um grupo de dez jovens, surpreendido enquanto ateava fogo a uma casa desocupada.
Em Camberra, capital da Austrália, o comandante da Aeronáutica, Angus Houston, disse que seu país planejava manter suas forças em Timor Leste por pelo menos seis meses.
Seu superior imediato, o ministro da Defesa, Brendan Nelson, sugeriu a ampliação das forças de segurança até a reconstrução do país.
O estopim da crise, os 600 militares que fizeram greve e desertaram por se julgarem discriminados nos critérios de promoção, permanecia acampado nas montanhas, a uma certa distância da capital.

Premiê não renuncia
O líder dos rebeldes, major Alfredo Reinado, disse que a crise se resolveria apenas com a demissão do primeiro-ministro Mari Alkatiri. Afirmou que as medidas de emergência, anunciadas na véspera pelo presidente Xanana Gusmão, não desarmarão as tensões.
Alkatiri, um rival político de Xanana Gusmão, negou que o comando do Exército e da Defesa tenha sido retirado de suas mãos. O presidente anunciou na terça-feira, justamente, que assumiria as duas forças.
O premiê também disse que não deixaria seu posto até as eleições, em princípio programadas para o ano que vem.
Os militares que se mantêm leais ao governo, cerca de 800, permanecem aquartelados. A polícia timorense, por sua vez, está aparentemente desativada. Não é vista em público há três dias. Seus integrantes pertencem às regiões do oeste do país e são suspeitos -tanto quanto os rebeldes- de simpatias pela Indonésia, que ocupou Timor entre 1975 e 1999.

Apelo de Bento 16
Em sua homilia, ontem na praça São Pedro, Bento 16 fez uma menção explícita ao caos em que mergulhou Timor, país em que 91% se dizem católicos.
"Meus pensamentos vão agora a Timor Leste querido, afetado nestes dias por tensões e violências, que provocaram morte e destruição", disse o papa. Lançou um apelo para que se rezasse em favor do restabelecimento da paz.
Um grupo de 15 países e instituições internacionais que financiam a reconstrução de Timor Leste, entre eles o Brasil, divulgou ontem um documento em que exortam autoridades locais a superar a atual crise.
Autodesignados como Comunidade Internacional de Doadores, o grupo afirma que os timorenses devem preservar o que construíram depois da traumática separação da Indonésia, em 1999.
O documento é ainda assinado, entre outros, por EUA, Reino Unido, Suécia, Portugal, Finlândia, Japão, Austrália, Nova Zelândia, FMI e Banco de Desenvolvimento Asiático.


Com agências internacionais


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