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Medo faz 100 mil fugirem em Timor Leste
Zanai Abd Halim/Reuters
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Homem olha uma das casas queimadas em Dili |
Depois do conflito no Exército que eclodiu na semana passada, saqueadores lutam por espaço na capital, submersa no caos
Premiê se nega a renunciar, como exigem rebelados; grupo de países e órgãos financeiros exorta governo timorense a superar crise
DA REDAÇÃO
Um em cada dez habitantes
de Timor Leste deixou atemorizado sua casa, com a onda de
violência que eclodiu no país no
final de abril. A estimativa é de
Kym Smithies, porta-voz de
cerca de 30 entidades filantrópicas privadas que atuam naquela ex-colônia portuguesa.
Na capital, Dili, em torno de
70 mil dos 250 mil moradores
se refugiaram em igrejas ou
conventos, enquanto outros 30
mil estão em casas de parentes,
nas imediações, ou em acampamentos improvisados. Há cerca
de 3.000 mulheres grávidas
abrigadas em acampamentos.
Apesar da presença de forças
estrangeiras -só os australianos já somam 1.300 soldados e
700 integrantes de equipes de
apoio-, grupos de jovens empunhando machados e armas
brancas continuaram ontem a
saquear Dili e a incendiar casas
abandonadas pelos moradores.
Reforços
As "medidas de emergência"
anunciadas anteontem pelo
presidente Xanana Gusmão
permitem que esses militares
atirem em grupos de saqueadores. Mas o comandante australiano em Dili, brigadeiro Mick
Slater, disse que nenhum tiro
foi até agora disparado. O máximo que aconteceu, anteontem,
foi a dispersão de um grupo de
jovens por meio de bombas de
gás lacrimogêneo, lançadas de
um helicóptero, disse ele.
Ontem também desembarcaram 160 novos militares da
Nova Zelândia e 330 da Malásia. Os 120 portugueses devem
chegar até sábado.
Depois de uma manhã relativamente calma, saqueadores
procuraram interromper a avenida que dá acesso ao aeroporto
de Dili. Dois grupos passaram a
lutar com armas brancas para
obter o controle do local. Foram dispersados pelos australianos, que também socorreram um jovem atingido por um
golpe de machado na cabeça.
Um dos comandantes australianos, o coronel Michael
Mumford, disse a uma TV de
seu país que disputas semelhantes são corriqueiras, interrompem-se com a chegada dos
militares e são retomadas tão
logo eles viram as costas.
Os australianos disseram ter
prendido nove saqueadores.
Também prenderam um grupo
de dez jovens, surpreendido
enquanto ateava fogo a uma casa desocupada.
Em Camberra, capital da
Austrália, o comandante da Aeronáutica, Angus Houston, disse que seu país planejava manter suas forças em Timor Leste
por pelo menos seis meses.
Seu superior imediato, o ministro da Defesa, Brendan Nelson, sugeriu a ampliação das
forças de segurança até a reconstrução do país.
O estopim da crise, os 600
militares que fizeram greve e
desertaram por se julgarem
discriminados nos critérios de
promoção, permanecia acampado nas montanhas, a uma
certa distância da capital.
Premiê não renuncia
O líder dos rebeldes, major
Alfredo Reinado, disse que a
crise se resolveria apenas com a
demissão do primeiro-ministro Mari Alkatiri. Afirmou que
as medidas de emergência,
anunciadas na véspera pelo
presidente Xanana Gusmão,
não desarmarão as tensões.
Alkatiri, um rival político de
Xanana Gusmão, negou que o
comando do Exército e da Defesa tenha sido retirado de suas
mãos. O presidente anunciou
na terça-feira, justamente, que
assumiria as duas forças.
O premiê também disse que
não deixaria seu posto até as
eleições, em princípio programadas para o ano que vem.
Os militares que se mantêm
leais ao governo, cerca de 800,
permanecem aquartelados. A
polícia timorense, por sua vez,
está aparentemente desativada. Não é vista em público há
três dias. Seus integrantes pertencem às regiões do oeste do
país e são suspeitos -tanto
quanto os rebeldes- de simpatias pela Indonésia, que ocupou
Timor entre 1975 e 1999.
Apelo de Bento 16
Em sua homilia, ontem na
praça São Pedro, Bento 16 fez
uma menção explícita ao caos
em que mergulhou Timor, país
em que 91% se dizem católicos.
"Meus pensamentos vão agora a Timor Leste querido, afetado nestes dias por tensões e
violências, que provocaram
morte e destruição", disse o papa. Lançou um apelo para que
se rezasse em favor do restabelecimento da paz.
Um grupo de 15 países e instituições internacionais que financiam a reconstrução de Timor Leste, entre eles o Brasil,
divulgou ontem um documento em que exortam autoridades
locais a superar a atual crise.
Autodesignados como Comunidade Internacional de
Doadores, o grupo afirma que
os timorenses devem preservar
o que construíram depois da
traumática separação da Indonésia, em 1999.
O documento é ainda assinado, entre outros, por EUA, Reino Unido, Suécia, Portugal, Finlândia, Japão, Austrália, Nova
Zelândia, FMI e Banco de Desenvolvimento Asiático.
Com agências internacionais
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