São Paulo, sexta-feira, 01 de junho de 2007

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Congresso brasileiro é papagaio, diz Chávez

Em cadeia nacional, presidente da Venezuela reage a nota aprovada por senadores que pediu a reabertura da RCTV

Para Chávez, parlamentares brasileiros são "subordinados a Washington" e "deveriam se preocupar com os problemas do Brasil"

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, disse ontem à noite que o Senado brasileiro age "como um papagaio" do Congresso americano e que é mais fácil o Brasil voltar a ser colônia portuguesa do que o seu governo devolver a concessão ao canal oposicionista RCTV.
"O Congresso brasileiro está agora subordinado ao de Washington", disse Chávez. "O Congresso do Brasil deveria se preocupar com os problemas do Brasil. O Congresso é dominado pelos movimentos e partidos da direita, que estão tentando que a Venezuela não entre no Mercosul."
As declarações de Chávez, feitas em cadeia nacional de televisão durante assinatura de acordos com uma delegação do Vietnã, são uma resposta ao requerimento aprovado pelo Senado brasileiro anteontem à noite com um pedido para que ele devolva a concessão ao canal, que terminou no domingo e não foi renovada.
O texto é do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e teve aprovação de senadores do PT. O presidente Lula afirmara nesta semana que não falaria sobre o caso, que considera questão doméstica.
"Este Congresso faz um mau favor à causa sul-americana. A esses representantes da direita brasileira, eu digo que é muito mais fácil que o império português a se instalar em Brasília do que o governo da Venezuela devolver a concessão à oligarquia venezuelana", disse Chávez, que elogiou a posição de Lula.
Antes, Chávez já havia feito críticas aos Senados chileno e americano e ao Parlamento Europeu por resoluções contrárias ao fim da concessão da TV.

Manifestações
No primeiro dia sem grandes protestos desde que a emissora saiu do ar, no domingo, deputados chavistas tornaram públicas gravações de escutas telefônicas para mostrar que as manifestações estudantis são manipuladas pela oposição.
Numa das gravações, apresentadas pela vice-presidente da Assembléia, Desirée Santos Amaral, um diretor da RCTV conversa com a mulher de um líder do partido oposicionista Ação Democrática (AD) para que ele se envolva mais nas manifestações.
"Temos a grandíssima responsabilidade de nos defender de grupos estrangeiros e internos que pretendem repetir uma vez mais abril de 2002 e que brincam com o melhor que temos no país, nossos jovens", disse Santos, em referência ao golpe frustrado contra Chávez.
Os líderes universitários, que negam ser manipulados, convocaram para hoje uma nova marcha em Caracas, desta vez em direção à Assembléia. Já Chávez convocou uma marcha oficialista para amanhã.
Uma estudante da Ucab foi morta com cinco tiros ontem de manhã em Caracas, dentro de seu carro. Horas depois, o ministro do Interior, Pedro Carreño, disse que os dois supostos assassinos foram presos e que a mataram por encomenda, sem especificar os mandantes. Freddy Guevara, presidente do Centro de Comunicação Social da Universidade Católica Andrés Bello, disse que ainda é cedo para dizer se o caso tem relação com as manifestações.
A agência oficial de notícias, ABN, informou ontem que dois militantes chavistas que participaram de ataques às sedes da TV Globovisión e de uma federação de empresários foram assassinados a tiros.
Segundo o analista do instituto de pesquisa de opinião Datanálisis, Luis Vicente León, as manifestações ainda estão abaixo do nível de rejeição ao fechamento da RCTV, que, segundo ele, chega a 70%. Para ele, a novidade da atual crise é que teve um grande custo para a imagem internacional de Chávez. "Ele não consegue explicar à opinião pública internacional que não é uma medida completamente arbitrária."
O governo tem argumentado que se trata de uma decisão "administrativa", já que acabou a concessão da RCTV, emissora que apoiou a tentativa de golpe de abril de 2002, quando as manifestações pela volta de Chávez ao poder não foram televisionadas.


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