São Paulo, domingo, 01 de junho de 2008

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Jogo faz de Macau Las Vegas da Ásia

Visitantes apostaram US$ 10,4 bi em 2007 na ex-colônia portuguesa na China, que já conta com 28 cassinos

60% dos freqüentadores são novos ricos chineses atrás de luxo, sexo e das apostas que já renderam à cidade maior ganho per capita da Ásia


RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A MACAU

A maior parte das 820 mesas de jogos e dos 2.650 caça-níqueis do maior cassino do mundo, o Venetian, em Macau, está cheia às 11 horas da manhã de uma sexta-feira. É semana de luto nacional pelas vítimas do terremoto em Sichuan, mas a jogatina em Macau não pára.
No ano passado, a ex-colônia portuguesa na China recebeu mais de 26 milhões de turistas, que apostaram US$ 10,4 bilhões em seus 28 cassinos, quase todos abertos 24 horas. É a maior jogatina do planeta - em Las Vegas jogaram-se US$ 7 bilhões em 2007.
Mas, ao contrário de Las Vegas, Macau está longe de ser um destino global. Menos de 1% de seus turistas vieram de fora da Ásia. Do total, 60% são da própria China, onde dois terços da população são pobres. Os novos ricos do outrora país comunista conseguiram desbancar Las Vegas. Os jogos de azar são proibidos no resto da China.
E Macau não pára de crescer. Até o final do ano que vem, 21 novos hotéis cinco estrelas serão abertos, como Four Seasons, Grand Hyatt, Shangri-la, Ritz Carlton e W. Quase todos com cassinos anexos. Com apenas 538 mil habitantes, Macau já terá uma capacidade hoteleira quase 50% maior que a da cidade do Rio de Janeiro.
O jogo é liberado ali desde o meio do século 19, mas, nas últimas quatro décadas do século passado, Portugal manteve um monopólio a um concessionário local, e os cassinos da cidade eram bem modestos. Quando a ex-colônia foi devolvida à China, em 1999, Macau pensou grande.
Em 2002, a cidade permitiu a entrada de novos investidores, e grandes cadeias de cassinos e hotéis de Las Vegas desembarcaram ali. Nos últimos cinco anos, mais de US$ 25 bilhões foram investidos. Só o Venetian tem um hotel de 3.000 quartos
No ano passado, Macau se tornou a maior renda per capita da Ásia, superando cidades riquíssimas como Tóquio, Hong Kong e Cingapura -ainda que os moradores locais sejam bem mais pobres que os das outras três, o que provoca protestos.
A aposta mais barata equivale a cerca de R$ 30, mas em muitas mesas as apostas iniciais são de R$ 600.
"Os chineses adoram jogar", comemora Reddy Leong, gerente do hotel-cassino Wynn, sob um dragão de cristais no restaurante chinês do hotel, cuja decoração custou mais de 1 milhão de patacas, a moeda local -ou R$ 250 mil reais.
No hotel-cassino Venetian, as réplicas kitsch de palácios venezianos com seus canais e gôndolas estão sob um céu permanentemente azul. Sem dar chance ao mau tempo, o "céu" dos canais é feito de concreto, pintado de azul clarinho, com nuvens "desenhadas por um artista", diz uma funcionária. Sob luzes, claro, para brilhar.
"É melhor que os jogadores nunca saibam se anoiteceu ou se o dia já clareou", completa.

Helicópteros e Ferrari
O luxo do novo-riquismo chinês está por todas as partes. Apesar de ligada a Hong Kong por um ferry, com balsas modernas a cada 15 minutos, muitos chineses não querem saber do percurso de uma hora. E pagam US$ 300 pelas passagens nos "helicópteros de lotação" que ligam as duas cidades.
No Wynn, ao lado do cassino, há lojas de Giorgio Armani, Ferrari, Gucci, Rolex e Prada. Um jogador diz que vai para Macau "se acabar". E depois de aprontar muito, compra alguns presentinhos caros para a mulher, que ficou em Pequim.
Aprontar em Macau não é força de expressão. Além do desfile de carrões, dos três campos de golfe e das roletas, parte do entretenimento da cidade não é bem, digamos, familiar.
Prostitutas russas são vistas em boa parte da cidade, o que comprova a globalização do submundo. No Hotel Lisboa, que era o único grande cassino da cidade quando foi aberto em 1962, a reportagem da Folha viu ao menos cem prostitutas circulando pelos corredores que ligam as principais salas de jogos. Elas não ficam no recinto de jogo para não desconcentrarem os apostadores.
Mas, ao contrário do visual shortinho jeans e top de prostitutas pobres por todo o mundo, as de Macau usam saltos altíssimos, jóias, vestidos de seda esvoaçantes e produção que parece de gala.
O sucesso da Las Vegas asiática é tanto que em breve vai enfrentar a competição de outros países que vão liberar o jogo, tentando disputar o filão.
Tanto a rígida cidade-Estado de Cingapura quanto a ultracatólica Manila, nas Filipinas, vão abrir seus primeiros cassinos em 2010. A Igreja Católica filipina é contra o projeto, mas o governo deu o sinal verde para a construção de um resort gigantesco com salões de jogos.


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