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Jogo faz de Macau Las Vegas da Ásia
Visitantes apostaram US$ 10,4 bi em 2007 na ex-colônia portuguesa na China, que já conta com 28 cassinos
60% dos freqüentadores são novos ricos chineses atrás de luxo, sexo e das apostas que já renderam à cidade maior ganho per capita da Ásia
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A MACAU
A maior parte das 820 mesas
de jogos e dos 2.650 caça-níqueis do maior cassino do mundo, o Venetian, em Macau, está
cheia às 11 horas da manhã de
uma sexta-feira. É semana de
luto nacional pelas vítimas do
terremoto em Sichuan, mas a
jogatina em Macau não pára.
No ano passado, a ex-colônia
portuguesa na China recebeu
mais de 26 milhões de turistas,
que apostaram US$ 10,4 bilhões em seus 28 cassinos, quase todos abertos 24 horas. É a
maior jogatina do planeta - em
Las Vegas jogaram-se US$ 7 bilhões em 2007.
Mas, ao contrário de Las Vegas, Macau está longe de ser um
destino global. Menos de 1% de
seus turistas vieram de fora da
Ásia. Do total, 60% são da própria China, onde dois terços da
população são pobres. Os novos
ricos do outrora país comunista
conseguiram desbancar Las
Vegas. Os jogos de azar são
proibidos no resto da China.
E Macau não pára de crescer.
Até o final do ano que vem, 21
novos hotéis cinco estrelas serão abertos, como Four Seasons, Grand Hyatt, Shangri-la,
Ritz Carlton e W. Quase todos
com cassinos anexos. Com apenas 538 mil habitantes, Macau
já terá uma capacidade hoteleira quase 50% maior que a da cidade do Rio de Janeiro.
O jogo é liberado ali desde o
meio do século 19, mas, nas últimas quatro décadas do século
passado, Portugal manteve um
monopólio a um concessionário local, e os cassinos da cidade
eram bem modestos. Quando a
ex-colônia foi devolvida à China, em 1999, Macau pensou
grande.
Em 2002, a cidade permitiu a
entrada de novos investidores,
e grandes cadeias de cassinos e
hotéis de Las Vegas desembarcaram ali. Nos últimos cinco
anos, mais de US$ 25 bilhões
foram investidos. Só o Venetian
tem um hotel de 3.000 quartos
No ano passado, Macau se
tornou a maior renda per capita
da Ásia, superando cidades riquíssimas como Tóquio, Hong
Kong e Cingapura -ainda que
os moradores locais sejam bem
mais pobres que os das outras
três, o que provoca protestos.
A aposta mais barata equivale a cerca de R$ 30, mas em
muitas mesas as apostas iniciais são de R$ 600.
"Os chineses adoram jogar",
comemora Reddy Leong, gerente do hotel-cassino Wynn,
sob um dragão de cristais no
restaurante chinês do hotel, cuja decoração custou mais de 1
milhão de patacas, a moeda local -ou R$ 250 mil reais.
No hotel-cassino Venetian,
as réplicas kitsch de palácios
venezianos com seus canais e
gôndolas estão sob um céu permanentemente azul. Sem dar
chance ao mau tempo, o "céu"
dos canais é feito de concreto,
pintado de azul clarinho, com
nuvens "desenhadas por um artista", diz uma funcionária. Sob
luzes, claro, para brilhar.
"É melhor que os jogadores
nunca saibam se anoiteceu ou
se o dia já clareou", completa.
Helicópteros e Ferrari
O luxo do novo-riquismo chinês está por todas as partes.
Apesar de ligada a Hong Kong
por um ferry, com balsas modernas a cada 15 minutos, muitos chineses não querem saber
do percurso de uma hora. E pagam US$ 300 pelas passagens
nos "helicópteros de lotação"
que ligam as duas cidades.
No Wynn, ao lado do cassino,
há lojas de Giorgio Armani,
Ferrari, Gucci, Rolex e Prada.
Um jogador diz que vai para
Macau "se acabar". E depois de
aprontar muito, compra alguns
presentinhos caros para a mulher, que ficou em Pequim.
Aprontar em Macau não é
força de expressão. Além do
desfile de carrões, dos três campos de golfe e das roletas, parte
do entretenimento da cidade
não é bem, digamos, familiar.
Prostitutas russas são vistas
em boa parte da cidade, o que
comprova a globalização do
submundo. No Hotel Lisboa,
que era o único grande cassino
da cidade quando foi aberto em
1962, a reportagem da Folha
viu ao menos cem prostitutas
circulando pelos corredores
que ligam as principais salas de
jogos. Elas não ficam no recinto de jogo para não desconcentrarem os apostadores.
Mas, ao contrário do visual
shortinho jeans e top de prostitutas pobres por todo o mundo,
as de Macau usam saltos altíssimos, jóias, vestidos de seda
esvoaçantes e produção que
parece de gala.
O sucesso da Las Vegas asiática é tanto que em breve vai
enfrentar a competição de outros países que vão liberar o jogo, tentando disputar o filão.
Tanto a rígida cidade-Estado
de Cingapura quanto a ultracatólica Manila, nas Filipinas,
vão abrir seus primeiros cassinos em 2010. A Igreja Católica
filipina é contra o projeto, mas
o governo deu o sinal verde para a construção de um resort
gigantesco com salões de jogos.
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