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Hedonismo da região autônoma constrange Pequim
DO ENVIADO ESPECIAL A MACAU
O governo de Macau quer dar
de presente para cada um dos
538 mil habitantes da região
autônoma chinesa uma verba
de 5.000 patacas (R$ 1.250). A
nova "bolsa-cassino" servirá
para compensar a inflação local, segundo o governador regional, Edmund Ho.
Para muitos moradores ouvidos pela Folha, o dinheiro é um
cala-boca para o crescente descontentamento local. Como
ocorre em vários resorts no Caribe, a prosperidade turística
não chegou aos moradores.
O salário médio em Macau,
de 7.930 patacas (R$ 1.900), só
cresceu 7,5% no ano passado,
abaixo da inflação, de 10%.
Ao virar meca turística, os
preços dispararam. Aluguéis
cresceram 16%, e serviços,
25%. Apesar dos milhares de
novos empregos (só o Venetian
tem 12 mil empregados) e do
desemprego de apenas 2,9%, os
salários são modestos.
No ano passado, uma manifestação de 2.500 pessoas atacou o governador, a alta de preços e exigiu maiores salários.
Até gente do governo admite
que a "bolsa-cassino" pode ter
o efeito contrário e provocar
mais inflação. Ironicamente,
dos ricos que lucram com o
cassino aos mais pobres, todos
receberão as 5.000 patacas.
Constrangimento
Lideranças do Partido Comunista chinês também andam descontentes com a exuberância da jogatina. Há ordens
para que ninguém do alto escalão ouse jogar suas fichas nas
roletas macauenses, depois de
vários escândalos com funcionários públicos torrando fortunas por lá.
O governo local também
proibiu seus funcionários de jogar em cassinos, com apenas
uma exceção nos três dias de feriados do Ano Novo chinês.
Em outro sinal "moralizante", novas concessões para
construção de cassinos e hotéis
em Macau foram bloqueadas
desde o mês passado. Há 40
grandes obras de novos hotéis,
cassinos e ampliações dos
atuais existentes, além de dezenas de torres de apartamentos
em construção.
Macau tem apenas 30 km2,
distribuídos em uma península
e duas pequenas ilhas. Vários
aterros foram criados para aumentar o espaço da cidade para
novos empreendimentos.
Como Hong Kong, Macau é
região autônoma da China desde 1999, com liberdade de imprensa e moeda própria. Mas,
além da pataca, pouca coisa
resta dos 400 anos de presença
portuguesa.
Menos de 1% dos habitantes
fala português, presente apenas nas placas de ruas, como
travessa do Mata-Tigre, rua do
Ouvidor, travessa do Pato, largo de Santo Agostinho -todos
nomes recitados pelos habitantes chineses, sem intimidade
com a pronúncia.
Apesar dos ótimos restaurantes portugueses que sobrevivem, o centro histórico colonial, declarado patrimônio da
humanidade pela Unesco, continua decadente. O dinheiro
dos cassinos não chegou ali.
(RJL)
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