São Paulo, domingo, 01 de junho de 2008

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Hedonismo da região autônoma constrange Pequim

DO ENVIADO ESPECIAL A MACAU

O governo de Macau quer dar de presente para cada um dos 538 mil habitantes da região autônoma chinesa uma verba de 5.000 patacas (R$ 1.250). A nova "bolsa-cassino" servirá para compensar a inflação local, segundo o governador regional, Edmund Ho.
Para muitos moradores ouvidos pela Folha, o dinheiro é um cala-boca para o crescente descontentamento local. Como ocorre em vários resorts no Caribe, a prosperidade turística não chegou aos moradores.
O salário médio em Macau, de 7.930 patacas (R$ 1.900), só cresceu 7,5% no ano passado, abaixo da inflação, de 10%.
Ao virar meca turística, os preços dispararam. Aluguéis cresceram 16%, e serviços, 25%. Apesar dos milhares de novos empregos (só o Venetian tem 12 mil empregados) e do desemprego de apenas 2,9%, os salários são modestos.
No ano passado, uma manifestação de 2.500 pessoas atacou o governador, a alta de preços e exigiu maiores salários.
Até gente do governo admite que a "bolsa-cassino" pode ter o efeito contrário e provocar mais inflação. Ironicamente, dos ricos que lucram com o cassino aos mais pobres, todos receberão as 5.000 patacas.

Constrangimento
Lideranças do Partido Comunista chinês também andam descontentes com a exuberância da jogatina. Há ordens para que ninguém do alto escalão ouse jogar suas fichas nas roletas macauenses, depois de vários escândalos com funcionários públicos torrando fortunas por lá.
O governo local também proibiu seus funcionários de jogar em cassinos, com apenas uma exceção nos três dias de feriados do Ano Novo chinês.
Em outro sinal "moralizante", novas concessões para construção de cassinos e hotéis em Macau foram bloqueadas desde o mês passado. Há 40 grandes obras de novos hotéis, cassinos e ampliações dos atuais existentes, além de dezenas de torres de apartamentos em construção.
Macau tem apenas 30 km2, distribuídos em uma península e duas pequenas ilhas. Vários aterros foram criados para aumentar o espaço da cidade para novos empreendimentos.
Como Hong Kong, Macau é região autônoma da China desde 1999, com liberdade de imprensa e moeda própria. Mas, além da pataca, pouca coisa resta dos 400 anos de presença portuguesa.
Menos de 1% dos habitantes fala português, presente apenas nas placas de ruas, como travessa do Mata-Tigre, rua do Ouvidor, travessa do Pato, largo de Santo Agostinho -todos nomes recitados pelos habitantes chineses, sem intimidade com a pronúncia.
Apesar dos ótimos restaurantes portugueses que sobrevivem, o centro histórico colonial, declarado patrimônio da humanidade pela Unesco, continua decadente. O dinheiro dos cassinos não chegou ali. (RJL)


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