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NA REDE
Os Jarrars mostram o outro lado do conflito em seus diários on-line
Família de Bagdá "bloga" unida
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
"Bom dia. Hoje é feriado, dia
de ficar em casa e fazer faxina. A
situação em Bagdá está tensa,
explosões se tornaram acontecimento cotidiano. Noite e dia eu
peço a Alá para mandar sua vingança sobre os responsáveis."
Esta é a mãe, Faiza.
"A transição do governo
aconteceu num pequeno abrigo
num dos porões da Zona Verde.
Bremer, o novo e feio "presidente" iraquiano, o "primeiro-ministro" agente da CIA e alguns
poucos outros perdedores..."
Este é o filho mais velho, Raed.
"Estou finalmente em Amã.
Uma viagem longa, 1.000 km, e
tivemos de parar na alfândega
jordaniana por seis horas..."
Este é o filho do meio, Khalid.
"Como você se sente quando
sabe que sua vida está prestes a
sofrer uma grande mudança?
Fiz esta pergunta hoje, quando
terminei a prova de química."
Este é o caçula, Majid.
Desde que o uso de internet
foi liberado no Iraque, em maio
de 2003, houve um pequeno
boom de blogueiros escrevendo
seus diários on-line, os web logs
(blogs na abreviação), a partir
principalmente de Bagdá. Apenas a família Jarrar responde
por 10% dos que estão no ar.
A mãe assina "A Family in
Baghdad", que ela escreve do PC
de sua casa, num dos bairros
classe média da capital. Xiita,
Faiza é casada com o engenheiro Azzam, responsável pelo serviço de abastecimento de água
em Bagdá. Como disse à Folha,
"meu marido é o único da família não-interessado na rede".
O primogênito, 26, assina o
"Raed in the Middle" e é o que
goza de mais prestígio, por ser o
interlocutor do mais famoso
blogueiro de Bagdá, Salam Pax,
pseudônimo de um arquiteto
iraquiano que a certa altura da
guerra viu seu diário virar a única fonte autóctone de notícias.
Fecham a lista Khalid (autor
de "Secrets in Baghdad"), 21,
que é sunita, fato raro entre famílias de pais xiitas, e o caçula
Majid, 17, que atualiza diariamente o seu "Me Vs. Myself" e
gosta de assinar "thE MajiTriX"
("já percebeu que sou fã, né?").
Ao colocarem as agruras e alegrias de seu cotidiano disponível on-line para o mundo inteiro ler, os Jarrars mostram uma
outra face do conflito iraquiano,
que a imprensa ocidental falha
em capturar. A de uma família
de classe média que, como outras, entre carros-bomba e retaliações, só quer viver em paz.
Assim, Faiza gosta de entremear suas entradas diárias com
fotos banais como uma vitrine
de loja de roupas femininas, um
estande de celulares novos à
venda e mesmo o gerador particular da família -amarelo.
Hoje, há cerca de 20 cibercafés
em Bagdá, que cobram 1.500 dinares iraquianos (ou US$ 1) pela
hora de uso. Os Jarrars recebem
50 e-mails cada um por dia
-com uma média de 3.000 visitantes diários.
No começo da semana, Majid
respondia a uma das perguntas
mais comuns, sobre Saddam:
"Pelo menos, ele era um ditador
nacional. É melhor do que um
fantoche iraquiano controlado
por um ditador americano".
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