São Paulo, domingo, 01 de julho de 2007

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Analistas reclamam do que faltou ser revelado

Papéis não incluíram operações da CIA no exterior

DE WASHINGTON

Ao tornar disponíveis na última terça-feira mais de 700 páginas do arquivo chamado "jóias da família", com ações da CIA ilegais ou que poderiam embaraçar a agência, e 11 mil páginas de análises da ex-União Soviética e da China nos anos 50 a 70, a intenção do general Michael Hayden era ser o mais transparente possível em uma agência que vive de informações sigilosas, afirmou.
"A CIA entende completamente que tem a obrigação de proteger os segredos do país", disse então. "Tenho falado seguidamente sobre nosso contrato social com o povo americano, e a publicação de documentos históricos é uma parte importante desse esforço."
A ação foi elogiada por historiadores e analistas ouvidos pela Folha, embora alguns destacassem que parte do ato não foi totalmente voluntário, mas originado por um pedido baseado numa lei de liberdade de informação que levou 15 anos para ser atendido e era o mais antigo relacionado à CIA desde que tal lei foi aprovada.
Ainda assim, reclamou-se da ausência de documentos importantes. "Não tenho uma lista dos dez mais que eu queria publicados", disse Steven Aftergood, do Projeto sobre Secretismo Governamental da Federação Americana de Cientistas. "Mas queria que quase tudo viesse a público."
Já John Pradow, autor do livro "Safe for Democracy - The Secret Wars of CIA" (Salvo pela Democracia - As Guerra Secretas da CIA, Ivan R. Dee), sentiu falta principalmente das operações da agência no exterior. "Sim, há uma menção ao assassinato de Patrice Lumumba e os detalhes de uma das tentativas de assassinato de Fidel Castro, mas a CIA fez muito mais."
O autor, que é analista do arquivo que fez o pedido à CIA, acredita que a estratégia da agência na divulgação surtiu efeito contrário. "Eles esperavam que as 11 mil páginas sobre a União Soviética e a China roubassem a cena", especula Pradow. "Não esperavam que as "jóias da família" tivessem a atenção que mereceram."
O problema dos papéis chamados CAESAR-POLO-ESAU -147 documentos de análises sobre as relações entre as duas potências comunistas entre 1953 e 1973 e como os dois países disputariam a influência sobre as esquerdas do resto do mundo, inclusive a brasileira- é a falta de revelações.
Tudo o que está escrito ali, disse o "Washington Post", era de conhecimento de quem lesse as publicações e ouvisse as emissoras de rádio da época. Com algumas bolas-fora: um texto de 1962 prevê a queda de Mao Tse-Tung para breve (o líder chinês morreria no poder, em 1976); outro, de dois anos antes, aponta os prováveis sucessores de Nikita Kruschev -Leonid Brejnev não está entre eles. (SD)


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