São Paulo, terça-feira, 01 de julho de 2008

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Iraque abre reserva petrolífera a estrangeiros

Concorrência para contratos de longo prazo têm 41 empresas pré-qualificadas; meta é quase dobrar a produção até 2013

EUA negam pressão; Bagdá também negocia convites a petroleiras que irão prestar serviços de 1 ano em poços e oleodutos já em operação

Ali Saadi/France Presse
O ministro do Petróleo iraquiano, Hussein Shahristani, anunciou lista de empresas aptas a participar das licitações de seis campos

DA REDAÇÃO

O Ministério do Petróleo iraquiano divulgou ontem os planos de abertura de suas reservas petrolíferas a empresas estrangeiras. Quarenta e uma companhias foram pré-classificadas para a concorrência que será realizada em 2009 para a exploração de seis campos com reservas asseguradas. Elas terão contrato de exploração de longo prazo.
O ministério também confirmou que negocia com quatro ou cinco grandes operadoras do setor, americanas e européias, cartas-convites para prestar serviços em instalações já em operação. Nesse caso, as empresas não teriam o controle sobre o combustível extraído e assinariam um contrato de um ano, mas estariam em melhor posição para, depois desse período, disputarem essas áreas com suas concorrentes.
Há em meio a isso três questões, amplamente abordadas ontem. A primeira, citada pelo ministro do Petróleo, Hussein Shahristani, está na disposição do Iraque de passar até 2013 sua produção diária de 2,5 milhões para 4,5 milhões de barris. Só as empresas com cartas-convites permitiriam um salto de 500 mil barris.
O segundo problema está na inexistência de uma Lei do Petróleo. O projeto redigido pelo governo no ano passado está engavetado no Parlamento, em razão de divergências entre grupos étnico-confessionais sobre a repartição da renda do petróleo. O critério geográfico favorece os xiitas em detrimento dos sunitas, enquanto os curdos querem autonomia para fechar seus próprios contratos.
Há, por fim, as questões de segurança. Embora tenham sido sensivelmente reduzidos os atentados a oleodutos e locais de extração, as concessões a empresas estrangeiras podem reativar o ciclo da violência.

O "interesse" americano
As novidades têm como pano de fundo a suspeita do mundo árabe e entre os próprios iraquianos de que os Estados Unidos invadiram o país em 2003 de olho em suas reservas de petróleo. Mas os mecanismos ontem anunciados não beneficiam apenas petrolíferas americanas ou britânicas, os dois principais países invasores.
As empresas cogitadas para as cartas-convites são a anglo-holandesa Shell, uma parceria dela com a BHP Billiton, a British Petroleum e as americanas Exxon Mobil e Chevron, em parceria com a francesa Total.
O presidente da Shell, Jeroen van der Veer, disse ao "Financial Times" que o acordo "poderá ser assinado dentro de algumas semanas".
O ministro do Petróleo não citou nenhuma dessas empresas e disse que as negociações prosseguem. Quanto às 41 pré-qualificadas para contratos a longo prazo -o governo iraquiano as enumerou, e a Petrobrás não está na lista- elas precisariam aceitar uma parceria de 25% de companhia local e ter escritórios no Iraque. O grupo engloba gigantes russas, chinesas, japonesas e européias. Seis delas não foram relacionadas publicamente.
O Iraque nacionalizou seu petróleo em 1972. Segundo o "New York Times", os iraquianos perderam desde então a técnica de negociar com concessionárias estrangeiras. Em razão disso, grupos de consultores americanos, assessorados pelo Departamento de Estado, participaram da redação dos esboços de contrato.
O jornal americano também diz que, diante de uma oferta mundial apertada, o presidente George W. Bush tem interesse em fazer com que o Iraque aumente sua produção de modo sensível. O porta-voz do Departamento de Estado, Tom Casey, disse ontem que "os Estados Unidos não se envolveram em nenhuma decisão relativa a contratos". Mas confirmou que americanos estavam fornecendo "suporte técnico" ao governo do Iraque.


Com agências internacionais


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