São Paulo, quinta-feira, 01 de agosto de 2002

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VENEZUELA

Manifestantes, que esperavam decisão da Justiça sobre oficiais golpistas, foram dispersados com bombas de gás e jatos d'água

Chavistas e opositores se enfrentam

DA REDAÇÃO

A polícia venezuelana usou ontem bombas de gás e tiros para o alto para dispersar manifestantes contrários e favoráveis ao presidente Hugo Chávez do lado de fora da Suprema Corte do país, no centro de Caracas. Pelo menos cinco pessoas ficaram feridas e dezenas foram presas.
O conflito volta a explicitar a forte divisão existente hoje na sociedade venezuelana entre os simpatizantes de Chávez, na maioria proveniente das camadas mais pobres da população venezuelana, e seus opositores.
A Justiça analisava ontem a abertura de um processo por rebelião contra quatro oficiais militares que participaram do golpe que tirou Chávez do poder por dois dias, em abril. No final da tarde, a corte decidiu adiar a decisão por pelo menos uma semana.
Os choques entre os chavistas e os oposicionistas se espalharam pelas ruas ao redor da corte, no centro da capital. Dezenas de simpatizantes do presidente tombaram um caminhão e puseram fogo em pneus.
Cerca de 300 policiais com motocicletas e um caminhão com jatos de água impediram a multidão de se aproximar do prédio. Manifestações já haviam ocorrido no dia anterior, quando a corte começou a analisar a abertura do processo contra os oficiais.
No total, mais de mil policiais foram deslocados para proteger o edifício.
Os chavistas tentaram atingir o vice-almirante Héctor Ramírez Pérez, o contra-almirante Daniel Comisso Urdaneta, o general Efraín Vásquez e o brigadeiro Pedro Pereira, além de outros militares da reserva e simpatizantes dos réus. Se forem condenados, os oficiais estarão sujeitos a pena de até 30 anos de prisão.
O contra-almirante da reserva Rafael Huizi Clavier, adversário de Chávez, havia feito um forte apelo ontem à população por apoio aos oficiais julgados.
A defesa dos oficiais diz que eles ignoraram uma ordem de Chávez para lançar tropas contra civis desarmados durante manifestação da oposição, no dia 11 de abril, que terminou com 18 mortos. Eles também alegam que os oficiais acreditavam que o presidente havia renunciado, como declarou um general naquela noite.
O promotor-geral, Isaías Rodríguez, argumenta que os oficiais ameaçaram Chávez para forçá-lo a renunciar. O presidente diz que nunca manifestou a intenção de renunciar.
A decisão da corte de adiar a análise foi comemorada pelos simpatizantes dos oficiais como uma vitória.
A Suprema Corte recusou a denúncia feita por um dos magistrados e escolheu outro para apresentar uma nova denúncia na próxima semana.
Durante o dia, uma bomba de gás lacrimogêneo explodiu no estacionamento da televisão Globovisión, acusada por Chávez de trabalhar para a oposição. Esse foi o segundo ataque à estação em menos de um mês.
Há três semanas, uma granada explodiu no estacionamento da emissora, aumentando os protestos da oposição de que os ataques verbais de Chávez contra a mídia estariam levando seus simpatizantes a praticar ações violentas contra jornalistas. Ninguém foi ferido nos ataques.
As divisões na sociedade venezuelana se mantiveram mesmo após o fracasso do golpe de abril e a promessa de Chávez de abrir canais de diálogo com a oposição. Os opositores se negam a negociar, alegando que Chávez não tem intenção real de diálogo.
Chávez, coronel do Exército, liderou uma tentativa frustrada de golpe contra o então presidente Carlos Andrés Pérez, em 1992, e foi eleito democraticamente à Presidência em 1998, com um discurso populista.


Com agências internacionais

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