São Paulo, terça-feira, 01 de agosto de 2006

Próximo Texto | Índice

Guerra no Oriente Médio

"Não haverá cessar-fogo", diz Olmert

Primeiro-ministro de Israel desafia críticas internacionais e gabinete aprova ampliação da ofensiva terrestre no Líbano

Pausa em bombardeios acertada com secretária dos EUA foi parcial e soldado libanês foi morto; ataques voltarão com força total

MICHEL GAWENDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE HAIFA

O primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, disse ontem que não haverá cessar-fogo nos próximos dias, refutou as críticas internacionais à ofensiva israelense e o Exército do país manteve os ataques contra o grupo xiita Hizbollah no Líbano, apesar da promessa de 48 horas de trégua depois do bombardeio aéreo que matou 56 civis em Qana.
"Não há, nem haverá um cessar-fogo nos próximos dias. Vamos parar a guerra quando a ameaça de foguetes for removida, quando nossos soldados seqüestrados voltarem para casa em paz e quando vocês puderem viver em segurança", disse ele em discurso ao país.
Segundo autoridades que se mantiveram no anonimato, o Gabinete de Segurança israelense decidiu ontem à noite ampliar a ofensiva terrestre e retomar os bombardeios aéreos com "força total" assim que terminar o prazo de 48 horas acertado no domingo com a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice.
No discurso, Olmert disse que Israel enfrentará ainda muitos dias de luta. "Devemos nos preparar para dor, lágrimas e sangue", disse. "Mísseis e foguetes ainda cairão em Israel nos próximos dias."
O premiê também lamentou a morte de 56 civis, entre eles 37 crianças, no ataque a Qana, mas disse que não se desculpa pelo ato. "Sinto do fundo do meu coração pelas mortes de crianças e mulheres em Qana. Não são nossos inimigos. Não estamos lutando contra o povo do Líbano. Não estamos lutando contra o seu governo. Estamos combatendo o terrorismo e não vamos parar a luta enquanto não os afastarmos para longe das nossas fronteiras."
Olmert também rejeitou as críticas internacionais às operações militares de Israel, dizendo que nenhum país aceitaria "ataques assassinos" contra sua população. Ele disse que Israel segue as regras morais judaicas e que "não há necessidade de aprender estas regras de nenhum povo e de nenhuma nação".
A interrupção dos bombardeios ao Líbano, anunciada no domingo, durou apenas algumas horas. Mesmo em menor intensidade, os ataques continuaram ontem. Um ataque aéreo contra um carro matou um soldado libanês e feriu três. O Exército disse em comunicado que atacou o veículo por suspeitar da presença de um líder do Hizbollah.
Dois caminhões foram destruídos em bombardeios israelenses na fronteira entre a Síria e o Líbano. Israel disse que vai atacar qualquer veículo suspeito de transportar armamentos para o Hizbollah. Tropas e blindados de Israel continuaram atuando ao longo da fronteira. Escavadeiras estão terminando de derrubar o que restou das bases do Hizbollah atingidas em ataques aéreos.
Horas antes do discurso de Olmert, o ministro da Defesa de Israel, o trabalhista Amir Peretz, disse ao Parlamento que o Exército vai expandir os ataques contra o Hizbollah. "Não podemos concordar com um cessar-fogo imediato no Líbano porque nos encontraremos em situação similar dentro de alguns meses", disse Peretz, cujo discurso foi interrompido por deputados árabes que o chamaram de "assassino".
Milhares de militares da reserva estavam a caminho de bases no norte do país ontem. O Exército também movimentou tanques, peças de artilharia e munição para a região da fronteira. Muitas áreas foram declaradas zona militar fechada, onde o acesso de civis e da imprensa é proibido.
O objetivo militar imediato de Israel é avançar o máximo possível no sul do Líbano, destruindo bases e aldeias controladas pelo Hizbollah, até que a pressão internacional por um cessar-fogo force o fim da ofensiva. O país quer ocupar esta zona de segurança, se possível até o rio Litani, a pelo menos 20 km da fronteira, para entregá-la a uma força multinacional ativa, que combata o Hizbollah.
A reunião do Conselho de Segurança da ONU que discutiria o envio da força, entre outras medidas para pôr fim ao conflito, foi adiada ontem por divergência entre as potências com poder de veto (veja texto à página A18). Desde o início da guerra, em 12 de julho, mais de 560 libaneses, a maioria civis, e 51 israelenses foram mortos.
O Exército de Israel estima ter destruído a maioria dos mísseis de longo alcance e matado 200 combatentes do Hizbollah. Mas o grupo mantém ainda o poder militar e pode atingir cidades no centro de Israel, na região de Tel Aviv.
Ontem houve poucas quedas de foguetes do Hizbollah no norte de Israel. Nas cidades de Metula, Kryat Shmone e Haifa, o movimento de carros e pessoas foi maior.


Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.