São Paulo, terça-feira, 01 de agosto de 2006

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Operado, Fidel transfere poder ao seu irmão Raúl

Às vésperas de completar 80 anos, ditador cubano passou por cirurgia no intestino

Raúl Castro, 75, assume o poder pela primeira vez; notícia causa apreensão em Havana e festa em Miami


DA REDAÇÃO

O ditador cubano, Fidel Castro, de 79 anos, foi operado do intestino e transferiu o poder provisoriamente a seu irmão, Raúl, 75, vice-presidente de Cuba e seu provável sucessor. É a primeira vez que Fidel, doente, transfere o poder. Ele, que comanda Cuba desde a revolução de 1959, completará 80 anos em 13 de agosto.
Em comunicado lido ontem à noite na TV e na rádio cubanas por seu secretário particular, Carlos Valenciaga, Fidel anunciou que a "intensidade" de sua viagem recente à Argentina, onde participou como convidado de encontro de cúpula do Mercosul, lhe provocou "uma crise intestinal aguda com sangramento constante" que o obrigou "a uma complicada operação cirúrgica".
Segundo o comunicado, ele ficará "afastado várias semanas" do poder e, por isso, Raúl assumirá suas funções. Fidel acumula os cargos de primeiro-secretário do Partido Comunista, comandante das Forças Armadas e presidente do Conselho Executivo de Estado. Raúl Castro acompanha Fidel desde os tempos da guerrilha que derrubou o ditador Fulgêncio Batista.
A nota especifica que as comemorações pelos 80 anos de Fidel foram adiadas para 2 de dezembro, aniversário dos 50 anos das Forças Armadas cubanas, formadas a partir do movimento guerrilheiro liderado por ele e o argentino Ernesto Che Guevara, entre outros.
A notícia da operação de Fidel e da transferência do poder a Raúl Castro provocou apreensão em Havana e festa em Miami, onde vivem milhares de exilados cubanos. Centenas de pessoas saíram às ruas na cidade da Flórida, com bandeiras cubanas e cartazes contra o regime. "Isso nos lembra que o fim do regime de Fidel Castro está chegando e que a única solução são eleições livres e o império da lei", disse o deputado
O regime de Fidel Castro foi um dos poucos comunistas a sobreviver à queda do Muro de Berlim, em 1989. Porém, diferentemente da China e do Vietnã, que liberalizaram a economia ao mesmo tempo em que mantinham o autoritarismo político, Cuba realizou reformas apenas parciais -como a abertura de pequenos negócios não-estatais e parcerias entre o Estado e empresas estrangeiras da América Latina, Europa e Canadá.
Depois de passar por um período de extrema escassez com o fim da parceria econômica com a União Soviética, extinta em 1991, Cuba -e Fidel- vinham recobrando a proeminência política na região desde a eleição de Hugo Chávez para a Presidência da Venezuela, em 1998. Ele também é aliado político do presidente boliviano, Evo Morales, eleito em dezembro do ano passado.
A última aparição do ditador cubano no exterior foi na cúpula do Mercosul, realizada há 11 dias em Córdoba, na Argentina -à qual se referiu na nota.
Durante a cúpula, que sacramentou o ingresso da Venezuela no Mercosul, Fidel assinou acordos de parceria entre Cuba e o bloco e discursou para 20 mil pessoas na universidade local. Falou durante duas horas e 55 minutos -não muito, para quem já fez pronunciamentos de mais de 10 horas. Durante o encontro, ele se irritou com um repórter que lhe perguntou sobre sua sucessão.
Especulações sobre a saúde de Fidel aumentaram desde que ele desmaiou em público, durante um discurso em 2001. Em 2004, ele fraturou um joelho e um braço numa queda.


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