São Paulo, sexta-feira, 01 de agosto de 2008

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Chávez nacionalizará banco de grupo espanhol

Venezuela anuncia compra de filial do Santander, que negociava venda a setor privado

Banco de Venezuela é um dos maiores do país e foi privatizado em 1996; onda de estatizações começou após reeleição de Chávez


DA REDAÇÃO

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, anunciou ontem que nacionalizará o Banco de Venezuela, um dos maiores do país e unidade local do gigante espanhol Santander, concretizando suas promessas de aumentar a presença do Estado no sistema financeiro.
"Vamos nacionalizar o Banco de Venezuela. Faço um chamado [ao grupo Santander] para que venham para começar a negociar", instou Chávez em cadeia de rádio e TV.
Segundo o presidente, a nacionalização foi necessária porque o grupo Santander teria se negado a vender o Banco de Venezuela ao governo, embora estivesse negociando com um comprador venezuelano.
O Estado barrou o negócio quando dependia só da autorização do governo, disse Chávez.
"Eles queriam vender o banco a um banqueiro venezuelano, e eu, chefe de Estado, disse não. Vamos recuperar o Banco de Venezuela, nos faz muita falta um banco dessa magnitude", contou o presidente, que disse ter documentos para provar a negociação entre os privados.
"Não entendo, há algo obscuro aí. Estavam desesperados para vender o banco, inclusive tratando de me pressionar, porque isso, porque aquilo. Eu não aceito pressões", acusou.
O Banco de Venezuela é o terceiro maior do país, tem 10,7% dos depósitos, 285 agências e 3 milhões de clientes, de acordo com o balanço semestral do Santander. A unidade foi responsável por 2% dos lucros da matriz (US$ 170 milhões).
Foi comprado pelo Santander (controla 98,4% das ações) em 1996, quando o governo de então o privatizou dois anos depois de tê-lo estatizado, em meio a uma crise financeira.

Conveniência e arestas
Nacionalizar, no governo chavista com caixa cheio pela alta do petróleo, não tem, em geral, significado expropriação. Na prática, é a quase obrigatoriedade de venda para o governo, em seus termos, ou a renegociação de contratos -caso das petroleiras-, sob a ameaça de expropriação clássica (tomada pelo Estado sem indenização) ou disputa judicial em caso de desacordo.
O anúncio sobre o banco do grupo Santander acontece um dia antes de expirar o prazo de 18 meses dos chamados superpoderes de Chávez, mecanismo pelo qual estava autorizado pelo Legislativo a governar por decreto em 11 áreas, incluindo energia e finanças. Nesse período, nacionalizou empresas de setores estratégicos (leia quadro nesta página), mas teve de recuar, por exemplo, quanto à controversa lei de inteligência.
Analistas, entre eles o venezuelano Asdrúbal Oliveros, da consultoria Ecoanalitica, dizem que, apesar do tom do anúncio, não se espera "traumas" na eventual compra do banco -o negócio giraria em torno de US$ 1,9 bilhão.
As ações do banco chegaram a se valorizar na bolsa local ante os rumores da venda, dada como certa, mas que foram negados formalmente. Até o fechamento desta edição, não havia comentários do Santander.
"Não faltarão manchetes dizendo que Chávez afeta a Espanha", disse o presidente. Ele acusou os jornais espanhóis de quererem "prejudicar as relações que acabam de se recompor". Na semana passada, o venezuelano encontrou pela primeira vez o rei espanhol, Juan Carlos, com quem discutiu na Cúpula Ibero-americana de novembro, e deu por encerrada a crise diplomática iniciada com o "por que não se cala?" dito pelo monarca ao presidente.
Na época, Chávez ameaçara nacionalizar empresas espanholas no país. Segundo o jornal "El País", firmas da Espanha investiram US$ 1,9 bilhão na economia venezuelana desde 1999. Estão lá o banco BBVA, o grupo de mídia Prisa, dono de "El País", e a Telefonica.
(FLÁVIA MARREIRO)


Com agências internacionais


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