São Paulo, domingo, 01 de agosto de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Farc são problema regional, diz ministro do Equador

Miguel Carvajal, da pasta de Segurança, crê que cooperação Quito-Bogotá dá frutos e pede inspeção da Unasul nas fronteiras

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A QUITO

Nos seis primeiros meses deste ano, o Equador diz ter desmontado 62 "instalações" das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) em seu território- casas vazias na selva e postos de observação. Em janeiro, avisaram os colombianos de um combate em uma área fronteiriça onde morreram três guerrilheiros.
Dias depois, a Colômbia bombardeou um local próximo, no seu lado da divisa, e matou Ángel Gabriel Lozada, o "Edgar Tovar", chefe importante das Farc.
Quem conta é Miguel Carvajal, ministro da Segurança Interna e Externa do Equador. O relato do integrante do governo esquerdista Rafael Correa, aliado de Hugo Chávez, expõe a complexidade da fronteira. Ao mesmo tempo, oferece elementos que podem nortear a resolução da crise Bogotá-Caracas.
Carvajal integrou parte da negociação do processo de normalização das relações com a Colômbia, rompidas após o bombardeio colombiano às Farc no Equador, em 2008. O ataque provocou a crise mais grave da década na sub-região, e nem todas as feridas foram sanadas.
Mas os governos Correa e Uribe resolveram separar a questão em dois campos: a reativação da cooperação militar e inteligência e uma comissão de "temas sensíveis", na qual Quito ainda espera obter de Bogotá detalhes do bombardeio. "Esperamos que o próximo governo cumpra a promessa de entregar os supostos computadores encontrados [ no local]", diz Carvajal.
O ministro diz que não se pode ignorar que o conflito que é colombiano -frisa- transborda fronteiras e gera instabilidade regional. Para ele, o melhor é cooperar.
A operação que matou "Tovar" -a ajuda equatoriana foi elogiada publicamente por Bogotá- só foi possível porque se restabeleceu em outubro a Combifron, a Comissão Binacional de Fronteira, para intercâmbio de segurança e defesa. Venezuela e Colômbia não têm mecanismo similar desde 2002.
Mas para que esse elo funcione é preciso dissipar todas os elementos que impedem a confiança entre os Estados, ele diz, e impedem que a região seja uma zona de paz.
Carvajal critica a Colômbia por jogar o peso do conflito sobre os vizinhos e montar "operações midiáticas" para desacreditar suas políticas de segurança. "Sofremos isso até meados do ano passado."
"Qualquer grupo armado será repelido. Mas não aceitamos operações conjuntas com a Colômbia. Que façam em seu território o que têm de fazer. Pedimos que a Colômbia militarize sua fronteira."
O ministro diz que o Equador passou de um efetivo de 500 homens para 5.000 -dentro de um contingente total de 45 mil- na divisa de mais de 700 km. Quer que o vizinho combata o cultivo de 35 mil ha de coca no seu lado da divisa. Defende inspeções da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) em todas as fronteiras da Colômbia -e também do lado colombiano.
A comissão também deveria, diz, revisar as bases militares na Colômbia que serão usadas pelos EUA para que "haja confiança de que, como dizem Bogotá e EUA, não serão equipadas com instrumental de espionagem que possa afetar nossos países".

FOLHA.com

Leia íntegra da entrevista com ministro do Equador
folha.com.br/mu775762


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Lula diz que irá interceder por iraniana
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.