São Paulo, quarta-feira, 01 de setembro de 2004

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Especialistas divergem sobre eficácia de barreira

GUSTAVO CHACRA
DA REDAÇÃO

"Onde há cerca, não há terror. Onde não há cerca, há terror", afirmou o ministro da Segurança Pública de Israel, Tzachi Hanegbi, pouco após o duplo atentado de ontem.
A declaração deixa claro que o governo do premiê israelense, Ariel Sharon, está satisfeito com os resultados da barreira que está sendo erguida na Cisjordânia para separar Israel das áreas palestinas. A ação de ontem ocorreu em uma área onde a barreira não foi construída.
Dois analistas ouvidos pela Folha concordam com o governo israelense. Outro especialista diverge e afirma que há mais fatores contribuindo para a redução dos ataques.
Para Yoran Schweitzer, especialista em terrorismo internacional do Centro Jaffa de Estudos Estratégicos, em Israel, a estratégia de Sharon tem sido eficiente, como fica comprovado no longo período sem ataques terroristas.
"A cerca é a melhor arma, mas não é garantia de segurança máxima", disse Schweitzer. O especialista acrescenta que todos os dias grupos palestinos são impedidos pelas forças israelenses de cometer ataques. "Porém, desta vez, [os terroristas] obtiveram sucesso", disse, ressaltando que não deve ocorrer uma onda de atentados nas próximas semanas.
Os grupos palestinos, segundo o especialista, também foram afetados pela morte do xeque Ahmed Yassin, líder do Hamas, e de seu sucessor, Abdel Aziz Rantisi. Desde o assassinato deles, em março e abril respectivamente, não havia ocorrido atentados de grande magnitude em Israel.
Uzi Benziman, analista do diário israelense "Haaretz", tem opinião similar à de Schweitzer. Para ele, o ataque de ontem ocorreu por uma falha dos serviços de segurança, que têm conseguido na maioria das vezes impedir que suicidas entrem no país.
Sobre a barreira, Benziman afirma: "Certamente Sharon dirá que a construção precisa ser acelerada". O analista israelense acrescenta que não há dúvida de que a barreira tem imposto muitas dificuldades aos terroristas palestinos.
Rashid Khalidi, diretor do Instituto de Oriente Médio da Universidade de Columbia, em Nova York, afirma que a barreira não é a única responsável pela queda no número de ataques terroristas. "Os israelenses dirão isso, mas houve outros fatores, como a intervenção da inteligência egípcia nas áreas palestinas e até mesmo das forças palestinas", disse.
O professor americano de origem líbano-palestina salienta que ocorreram duas falhas, e não uma, das forças de segurança de Israel: "Foram dois suicidas, em dois ônibus". Para Khalidi, não haverá mudança na política de Sharon e o terrorismo somente cessará totalmente quando acabar a ocupação dos territórios palestinos.


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