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MISSÃO NO CARIBE
Rebelados querem reinstaurar o Exército; Brasil diz que não se envolverá porque diz ser um problema "político"
Ex-militares haitianos controlam três cidades no sul
FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO
Em protesto contra o governo
interino haitiano, ex-militares iniciaram no último fim de semana
uma onda de ações e ontem já
ocupavam três cidades do sudoeste do país. Não houve registro de violência. A missão brasileira no Haiti, que comanda as
tropas de paz da ONU, disse que o
problema é "político" e não tem
planos para intervir.
A primeira ação ocorreu no domingo em Petit-Goave, a 70 km
de Porto Príncipe, quando entre
até 150 ex-militares ocuparam o
comissariado de polícia e o pintaram de amarelo -a cor do Exército, extinto em 1994 pelo ex-presidente Jean-Bertrand Aristide.
Segundo o jornalista Sincre
Montinoyène, que está na cidade,
os ex-militares querem que Petit-Goave seja a sede de um eventual
Exército refundado pelo governo
haitiano. Ele disse que a segurança da cidade, considerada uma
das mais violentas do país, agora
está sendo feita por eles, que possuem fuzis e armas leves.
A reportagem da Folha ligou
para a comissariado de Petit-Goave e conversou com Felix Wilso,
que se identificou como comandante: "Somos o Exército constitucional e intervimos para garantir a paz", disse. "A população nos
apóia porque conseguimos restabelecer a paz, havia muitos roubos e seqüestros aqui."
A ONG Coalizão Nacional para
os Direitos Haitianos, uma das
mais importantes do país, disse à
Folha que, nos últimos dois dias,
os ex-militares ocuparam a sede
da Marinha, em Les Cays, e assumiram uma emissora de rádio e
outra de TV, ambas em Jacmel.
A seção de Comunicação Social
das forças brasileiras no Haiti
confirmou ações nessas cidades,
mas disse que, em Jacmel, os ex-militares tomaram a delegacia.
Marie Gillis Yolene, coordenadora da entidade, disse que a ação
dos ex-militares não enfrenta resistência: "O governo e a missão
da ONU não têm feito nada".
Segundo a agência Reuters, o
premiê interino, Gérard Latortue,
enviou uma delegação, que foi repelida com pedras por simpatizantes dos rebelados.
Em nota à imprensa, o governo
haitiano anunciou a instalação de
uma comissão para negociar com
os ex-militares a volta do pagamento de pensões -uma das reivindicações principais-, mas
não a reinstalação do Exército.
Em vez disso, diz que discutirá a
"reintegração à comunidade".
Não há tropas de paz da ONU
em Petit-Goave. No domingo,
uma patrulha brasileira esteve lá
para monitorar a situação.
"A nossa posição é de força de
paz, de imparcialidade. Não viemos aqui para dar tiro em haitiano", disse à Folha o general Américo Salvador de Oliveira, comandante da missão brasileira. Para
ele, a ação dos ex-militares "é um
assunto mais político do que de
conflito de forças".
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