São Paulo, quarta-feira, 01 de setembro de 2004

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MISSÃO NO CARIBE

Rebelados querem reinstaurar o Exército; Brasil diz que não se envolverá porque diz ser um problema "político"

Ex-militares haitianos controlam três cidades no sul

FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO

Em protesto contra o governo interino haitiano, ex-militares iniciaram no último fim de semana uma onda de ações e ontem já ocupavam três cidades do sudoeste do país. Não houve registro de violência. A missão brasileira no Haiti, que comanda as tropas de paz da ONU, disse que o problema é "político" e não tem planos para intervir.
A primeira ação ocorreu no domingo em Petit-Goave, a 70 km de Porto Príncipe, quando entre até 150 ex-militares ocuparam o comissariado de polícia e o pintaram de amarelo -a cor do Exército, extinto em 1994 pelo ex-presidente Jean-Bertrand Aristide.
Segundo o jornalista Sincre Montinoyène, que está na cidade, os ex-militares querem que Petit-Goave seja a sede de um eventual Exército refundado pelo governo haitiano. Ele disse que a segurança da cidade, considerada uma das mais violentas do país, agora está sendo feita por eles, que possuem fuzis e armas leves.
A reportagem da Folha ligou para a comissariado de Petit-Goave e conversou com Felix Wilso, que se identificou como comandante: "Somos o Exército constitucional e intervimos para garantir a paz", disse. "A população nos apóia porque conseguimos restabelecer a paz, havia muitos roubos e seqüestros aqui."
A ONG Coalizão Nacional para os Direitos Haitianos, uma das mais importantes do país, disse à Folha que, nos últimos dois dias, os ex-militares ocuparam a sede da Marinha, em Les Cays, e assumiram uma emissora de rádio e outra de TV, ambas em Jacmel.
A seção de Comunicação Social das forças brasileiras no Haiti confirmou ações nessas cidades, mas disse que, em Jacmel, os ex-militares tomaram a delegacia.
Marie Gillis Yolene, coordenadora da entidade, disse que a ação dos ex-militares não enfrenta resistência: "O governo e a missão da ONU não têm feito nada".
Segundo a agência Reuters, o premiê interino, Gérard Latortue, enviou uma delegação, que foi repelida com pedras por simpatizantes dos rebelados.
Em nota à imprensa, o governo haitiano anunciou a instalação de uma comissão para negociar com os ex-militares a volta do pagamento de pensões -uma das reivindicações principais-, mas não a reinstalação do Exército. Em vez disso, diz que discutirá a "reintegração à comunidade".
Não há tropas de paz da ONU em Petit-Goave. No domingo, uma patrulha brasileira esteve lá para monitorar a situação.
"A nossa posição é de força de paz, de imparcialidade. Não viemos aqui para dar tiro em haitiano", disse à Folha o general Américo Salvador de Oliveira, comandante da missão brasileira. Para ele, a ação dos ex-militares "é um assunto mais político do que de conflito de forças".


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