São Paulo, quarta-feira, 01 de setembro de 2004

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Conversão do presidente vira peça de campanha

DO ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Milhares de delegados e convencionais republicanos vão deixar Nova York nesta semana levando para seus Estados uma cópia em DVD de um filme que mostra a transformação de George W. Bush de fumante e quase alcoólatra em um presidente que levou a Bíblia para a Casa Branca.
"Faith in the White House" (fé na Casa Branca) foi lançado e exibido pela primeira vez ontem na Convenção Republicana. A Folha acompanhou a "première".
O objetivo do filme é chegar às igrejas americanas antes da eleição de novembro, em paralelo com uma campanha maciça organizada para registrar eleitores nas congregações.
Produzida a um custo de US$ 700 mil, a obra é um misto de documentário e filme que usa um ator parecido com Bush e mostra dezenas de entrevistas com amigos e parentes do presidente.
O filme conta o envolvimento de Bush com questões religiosas desde os sete anos e relata todas as iniciativas envolvendo milhões de dólares que o presidente tem adotado em seu governo, além de ressaltar sua forte oposição ao casamento gay e ao aborto.
Há uma defesa clara do uso de princípios religiosos no governo e relatos de como Bush faz orações com seus assessores antes de reuniões importantes e sessões semanais de leitura da Bíblia.
Segundo o filme, Bush tomou a decisão de parar de beber e se tornar "um religioso fervoroso" um dia depois de completar 40 anos, em 1986, quando ainda curtia a ressaca da noite anterior.
"Bush era um homem sem direção que precisava desesperadamente de Deus", diz o narrador.
Depois da conversão, o Bush ator, que é extremamente parecido com o presidente, aparece trabalhando para a campanha eleitoral de seu pai, em 1988.
Em um comitê, é assediado por uma mulher. Ele se afasta, quase gritando: "Sou um homem casado!". De uma reunião com lobistas em Washington, sai indignado diante de uma proposta escusa. Em outra cena, o ator aparece rezando no alto de um colina.
Repleto de imagens reais do presidente falando sobre religião e de orações na Casa Branca, o filme ataca os críticos que vêem em Bush uma ameaça à separação entre a igreja e o Estado.
O locutor do filme diz ainda que "o grande perigo dos EUA é que o país abandone os princípios religiosos que vêm orientando a grande nação norte-americana".
Antes de seu final, a obra mostra os dois aviões explodindo contra o World Trade Center e as imagens do presidente sobre os escombros das torres. "Todos temos de ajudar o presidente a continuar o seu trabalho contra o grande mal", afirma o locutor.
Em desvantagem em relação aos democratas na parcela dos eleitores que mais cresce nos EUA -os hispânicos-, o Partido Republicano vêm empreendendo uma verdadeira "cruzada" para conseguir filiações entre os conservadores religiosos.
Um documento da campanha de Bush prevê o registro dos eleitores até 26 de setembro e a distribuição de guias de votação nas igrejas no último domingo antes da eleição de 2 de novembro.
Pesquisas indicam que os conservadores cristãos somam 19% do eleitorado nos EUA. Em 2000, 82% deles votaram em Bush.
Na eleição passada, metade dos 195 milhões de americanos aptos a votar não o fez. Os republicanos estimam que, entre os que ficaram em casa, havia 5 milhões de cristãos conservadores que poderiam ter escolhido Bush. (FCz)


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