São Paulo, sexta-feira, 01 de setembro de 2006

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Irã desafia o ultimato da ONU

Relatório da AIEA aponta que Teerã está enriquecendo urânio, mas não conclui se fim é pacífico ou militar

Texto abre caminho para a aplicação de sanções, como defendem os EUA, mas negociações continuam na próxima semana


ISNA/Associated Press
O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, faz discurso em Orumiyeh em que se nega a ceder a pressões internacionais para suspender seu programa nuclear


DA REDAÇÃO

No dia em que terminou o prazo para que o Irã interrompesse o programa de enriquecimento de urânio, a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) divulgou relatório em que confirma que a república islâmica não cessou essas atividades nucleares.
O relatório abre caminho para que o Conselho de Segurança da ONU aprove uma resolução impondo sanções ao Irã; no entanto, a agência se disse incapacitada para esclarecer se o programa nuclear iraniano é de natureza pacífica ou militar, questão determinante para a aplicação de sanções.
Na semana que vem o CS deve se reunir para definir os próximos passos. Enquanto isso, diplomatas europeus e iranianos se esforçaram para manter os canais de negociação abertos. Na próxima semana, o chefe da política exterior da União Européia, Javier Solana, e o principal negociador iraniano no tema nuclear, Ali Larijani, se reunirão.
O relatório da AIEA afirma que o Irã retomou nos últimos dias o enriquecimento de urânio em pequena escala e que a falta de cooperação por parte de Teerã impediu que a agência fizesse uma inspeção completa.
"O Irã não suspendeu suas atividades relacionadas ao enriquecimento", disse o documento. "O Irã não atendeu às questões de verificação nem promoveu a transparência necessária para remover algumas incertezas associadas a algumas de suas atividades."
"A agência continua incapaz de fazer progressos em seu esforço de verificar a correção das declarações do Irã com o objetivo de confirmar a natureza pacífica do programa nuclear iraniano."
O presidente dos EUA, George W. Bush, disse que o Irã deve "enfrentar as conseqüências" de não ter cumprido o ultimato fixado pela ONU.
"É tempo de o Irã fazer uma escolha. Nós fizemos a nossa. Vamos continuar trabalhando com nossos aliados para tentar encontrar uma solução diplomática, mas deve haver conseqüências para a atitude desafiadora do Irã, e não devemos permitir que o Irã desenvolva uma arma nuclear."
O embaixador dos EUA na ONU, John Bolton, disse não ser necessária uma decisão unânime no CS para punir o Irã, em alusão à relutância de China e Rússia. "Não há outra explicação para o comportamento do Irã além de que está buscando desenvolver armas."
Ontem, pouco antes do fim do prazo, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, disse em discurso que não cederá às pressões internacionais. "A nação iraniana nunca irá abandonar seu direito óbvio de uma tecnologia nuclear pacífica."
O chanceler francês, Philippe Douste-Blazy, reagiu. "Deploro a resposta insatisfatória do Irã sobre as propostas de negociação", disse. "Ainda estou convencido de que o caminho do diálogo deve ser favorecido."
O Irã diz que quer desenvolver energia atômica para fins pacíficos (produção de eletricidade), mas teria escondido pesquisas dos inspetores da AIEA por vários anos. O Conselho de Segurança teme que o país desenvolva armas atômicas.

Sem provas
O relatório da AIEA diz que os inspetores encontraram traços de urânio enriquecido, de uso potencial no desenvolvimento de armas atômicas, no depósito de dejetos de Karaj e pediram ao Irã que explicasse a fonte de contaminação.
"Questões adicionais sobre o escopo e a natureza do programa nuclear iraniano surgiram durante inspeções recentes", diz uma fonte próxima à AIEA. No entanto, acrescentou, "os inspetores não descobriram nenhuma prova concreta de que o programa nuclear iraniano é de natureza militar".
Isso levou o Irã a comemorar o documento. "Em termos gerais, apesar de não ter nos satisfeito, esse relatório mostra que a programa da América e suas acusações com motivações políticas sobre o programa nuclear iraniano não têm fundamento e são baseadas nas alucinações das autoridades americanas", disse o vice-diretor da Organização de Energia Atômica do Irã, Mohammad Saeedi.


Com agências internacionais

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