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"Free Tibet" ameaça eclipsar Olimpíada
Ativismo por
independência do
território irrita
Pequim, que amplia
censura
Um ano antes dos Jogos,
campanha pelo "Tibete livre"
ganha as ruas e a internet, e
governo passa a restringir
mais turistas estrangeiros
CAIO VILELA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LHASA
"One world, one dream."
Pouco menos de um ano antes
do início dos Jogos Olímpicos
de Pequim, o slogan oficial da
competição ganhou ares de
protesto ao incorporar mensagens pela libertação da região
autônoma do Tibete. Na base
do monte Everest, a montanha
mais alta do mundo, e nas paredes da Muralha da China, ativistas estrangeiros estenderam
faixas com os dizeres "One
world, one dream. Free Tibet
2008", irritaram as autoridades
chinesas e levaram à censura
na China às páginas do site You
Tube e dificuldades para a indústria do turismo no Tibete.
Em 7 de agosto, dois canadenses de Vancouver, Sam Price e Melanie Raoul, membros
do movimento Students for a
Free Tibet (www.studentsforafreetibet.org), realizaram clandestinamente uma manobra de
rapel em Mutianyu, um dos
mais turísticos trechos da muralha. Ao deslizarem pelas cordas, os jovens ativistas estenderam uma enorme faixa de tecido branco, com 42 metros quadrados, onde se podia ler, em
inglês, tibetano e chinês, a polêmica frase. O protesto durou
cerca de quatro horas, até que
os manifestantes fossem detidos pela polícia chinesa. Eles
foram libertados dias depois.
You Tube
Meses antes, em 25 de abril,
os norte-americanos Shannon
Service, Laurel Mc Sutherlin e
Tenzin Dorje, o último de origem tibetana, de San Francisco,
foram detidos por dois dias pela
policia chinesa na prisão da cidade de Shigatse por terem estendido uma faixa com os mesmos dizeres no campo-base do
monte Everest, um dos principais pontos turísticos do Tibete. Os manifestantes filmaram
o protesto e divulgaram o vídeo
de três minutos no You Tube.
O vídeo foi visto pouco mais
de 40 mil vezes no site, mas foi
mostrado em grandes redes de
TV ao redor do mundo, como
NBC, Fox News e BBC. Mas no
território chinês, os vídeos foram banidos, assim como são
proibidos sites e vídeos relacionados a temas considerados
pelo governo chinês como
ameaça à estabilidade nacional
-o movimento pela independência do Uigurstão (região de
população muçulmana no extremo oeste do país), a seita Falun Gong e a própria figura do
Dalai Lama, líder máximo do
budismo tibetano, exilado desde 1959 em Dharamsala (Índia). O Tibete foi anexado pela
China em 1951.
Pesquisar páginas do You
Tube em cafés na China e no
próprio Tibete não é problema,
apesar de a censura à internet
ser comum no país. A navegação pelo site é livre até que o internauta faça busca por algum
conteúdo proibido. Ao procurar, por exemplo, Free Tibet, é
possível ver a página de resultados, mas, ao tentar acessar os
vídeos, o internauta é direcionado para uma tela que indica
"página indisponível". Depois
disso, navegar pelo You Tube se
torna impossível e a página inicial do site é bloqueada.
Mas o temor pela censura
não chegou às ruas de Lhasa, a
capital do Tibete. Os raros
monges budistas, comerciantes, agentes de turismo e moradores discutem livremente os
protestos e as dificuldades que
vieram depois. "Não recebemos muita informação do governo chinês, e é difícil dizer se
há uma relação direta entre as
manifestações e as dificuldades
para organizar viagens para turistas estrangeiros que o governo chinês nos impõe agora", diz
o agente de turismo tibetano
Tenzin Dhundup, da agência
Shigatse Travel, em Lhasa.
O controle do turismo no Tibete não é novo, e a emissão de
permissões especiais do governo para visitar determinadas
áreas existe desde que a região
começou a receber turistas na
década de 80. Mas antes do primeiro protesto, tudo era mais
fácil, segundo Dhundup. "Nesta temporada, o escritório do
governo que emite as permissões para turistas estrangeiros
tem dificultado a venda e execução dos nossos programas,
fechando estradas e atrasando
a emissão de documentos."
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