São Paulo, sábado, 01 de setembro de 2007

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"Free Tibet" ameaça eclipsar Olimpíada

Ativismo por independência do território irrita Pequim, que amplia censura

Um ano antes dos Jogos, campanha pelo "Tibete livre" ganha as ruas e a internet, e governo passa a restringir mais turistas estrangeiros

CAIO VILELA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LHASA

"One world, one dream." Pouco menos de um ano antes do início dos Jogos Olímpicos de Pequim, o slogan oficial da competição ganhou ares de protesto ao incorporar mensagens pela libertação da região autônoma do Tibete. Na base do monte Everest, a montanha mais alta do mundo, e nas paredes da Muralha da China, ativistas estrangeiros estenderam faixas com os dizeres "One world, one dream. Free Tibet 2008", irritaram as autoridades chinesas e levaram à censura na China às páginas do site You Tube e dificuldades para a indústria do turismo no Tibete.
Em 7 de agosto, dois canadenses de Vancouver, Sam Price e Melanie Raoul, membros do movimento Students for a Free Tibet (www.studentsforafreetibet.org), realizaram clandestinamente uma manobra de rapel em Mutianyu, um dos mais turísticos trechos da muralha. Ao deslizarem pelas cordas, os jovens ativistas estenderam uma enorme faixa de tecido branco, com 42 metros quadrados, onde se podia ler, em inglês, tibetano e chinês, a polêmica frase. O protesto durou cerca de quatro horas, até que os manifestantes fossem detidos pela polícia chinesa. Eles foram libertados dias depois.

You Tube
Meses antes, em 25 de abril, os norte-americanos Shannon Service, Laurel Mc Sutherlin e Tenzin Dorje, o último de origem tibetana, de San Francisco, foram detidos por dois dias pela policia chinesa na prisão da cidade de Shigatse por terem estendido uma faixa com os mesmos dizeres no campo-base do monte Everest, um dos principais pontos turísticos do Tibete. Os manifestantes filmaram o protesto e divulgaram o vídeo de três minutos no You Tube.
O vídeo foi visto pouco mais de 40 mil vezes no site, mas foi mostrado em grandes redes de TV ao redor do mundo, como NBC, Fox News e BBC. Mas no território chinês, os vídeos foram banidos, assim como são proibidos sites e vídeos relacionados a temas considerados pelo governo chinês como ameaça à estabilidade nacional -o movimento pela independência do Uigurstão (região de população muçulmana no extremo oeste do país), a seita Falun Gong e a própria figura do Dalai Lama, líder máximo do budismo tibetano, exilado desde 1959 em Dharamsala (Índia). O Tibete foi anexado pela China em 1951.
Pesquisar páginas do You Tube em cafés na China e no próprio Tibete não é problema, apesar de a censura à internet ser comum no país. A navegação pelo site é livre até que o internauta faça busca por algum conteúdo proibido. Ao procurar, por exemplo, Free Tibet, é possível ver a página de resultados, mas, ao tentar acessar os vídeos, o internauta é direcionado para uma tela que indica "página indisponível". Depois disso, navegar pelo You Tube se torna impossível e a página inicial do site é bloqueada.
Mas o temor pela censura não chegou às ruas de Lhasa, a capital do Tibete. Os raros monges budistas, comerciantes, agentes de turismo e moradores discutem livremente os protestos e as dificuldades que vieram depois. "Não recebemos muita informação do governo chinês, e é difícil dizer se há uma relação direta entre as manifestações e as dificuldades para organizar viagens para turistas estrangeiros que o governo chinês nos impõe agora", diz o agente de turismo tibetano Tenzin Dhundup, da agência Shigatse Travel, em Lhasa.
O controle do turismo no Tibete não é novo, e a emissão de permissões especiais do governo para visitar determinadas áreas existe desde que a região começou a receber turistas na década de 80. Mas antes do primeiro protesto, tudo era mais fácil, segundo Dhundup. "Nesta temporada, o escritório do governo que emite as permissões para turistas estrangeiros tem dificultado a venda e execução dos nossos programas, fechando estradas e atrasando a emissão de documentos."

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