São Paulo, segunda-feira, 01 de setembro de 2008

Próximo Texto | Índice

SUCESSÃO NOS EUA/ ANTES DO VENDAVAL

Temor de furacão provoca êxodo nos EUA

Expectativa por desastre aviva lembranças do Katrina, que matou mais de 1.800 e devastou Nova Orleans em 2005

Após alerta, moradores deixam suas casas rumo a abrigos para evitar nova tragédia; ventos tocam solo da Louisiana nesta manhã

DANIEL BERGAMASCO
ENVIADO ESPECIAL A ST. PAUL

Cerca de 90% dos quase 240 mil moradores de Nova Orleans (Louisiana) e quase dois milhões de pessoas em toda a região do golfo do México haviam fugido ontem para longe da costa sudeste dos EUA, com a previsão de que o furacão Gustav atinja hoje a região com ventos de cerca de 200 km/h.
A projeção era das autoridades locais, que exortaram os moradores a deixar a região o quanto antes. Havia estimativa de que este furacão fosse "pior que o Katrina", na frase do prefeito de Nova Orleans, Ray Nagin, citando o desastre que fez mais de 1.800 mortos em 2005.
A mídia americana passou o dia transmitindo alertas do furacão, que deixou 95 mortos ao varrer o Caribe -a maioria no Haiti. Em Cuba, por onde passou ontem, levou 300 mil pessoas a deixarem suas casas e prejudicou a rede elétrica.
"É uma tempestade grande e perigosa. [A previsão de catástrofe] ainda é grande e eu incentivo fortemente a todos que saiam", disse Nagin, que chamou o Gustav de "tempestade do século". "Deveremos começar a ver sinais perigosos começando à noite [de ontem] e pela manhã [de hoje]."
As principais rodovias na região estavam congestionadas, apesar da operação para liberar todas as faixas para a saída.
Até a tarde de ontem, ônibus fornecidos pelo governo estadual haviam retirado da região de risco mais de 15 mil pessoas que não tinham condução própria. Eles levavam os refugiados para estações de ônibus e trem, de onde a maioria seguiria especialmente para regiões ao norte dos Estados de Texas, Novo México e Missouri, que armaram uma operação para receber os deslocados.
Após suspender sua participação na Convenção Nacional Republicana, em Saint Paul (Minnesota), o presidente George W. Bush se pronunciou em Washington sobre o perigo da tempestade e planejava viajar para a região.
"A mensagem para as pessoas da costa do golfo é: essa tempestade é perigosa (...) Existe uma possibilidade real de alagamento e ondas altas. Não se coloque em risco", declarou o presidente, cuja administração teve um dos piores momentos na época do Katrina, quando sua atuação foi tida como lenta e displicente.
Na época, 80% de Nova Orleans, importante pólo turístico, ficou alagada. Além dos mortos, outras centenas de milhares de pessoas sofreram com fome e doenças.
A Guarda Nacional planejava enviar 2.000 homens para a área de emergência, a fim de ajudar a escoar a população, reparar os danos posteriores e evitar que a cidade se torne um território sem lei, como aconteceu em 2005. "Saqueadores irão diretamente para a cadeia", disse o prefeito na TV.
Sem funcionários e clientes, restaurantes e lojas das cidades que deverão ser afetadas começaram a trancar as portas no sábado, o que limitava a obtenção de suprimentos.

Perigo
A classificação da intensidade do fenômeno variava ontem entre 3 e 4 -a escala vai até 5-, o que supunha ventos acima de 200 km/h.
A projeção é de que o Gustav estava se inclinando mais à esquerda, com potencial para atingir algumas áreas do Texas.
Muito criticada em 2005, a Agência Federal de Gerenciamento de Emergências (Fema) se disse mais preparada desta vez. Ainda assim, projetava prejuízo de US$ 29,3 bilhões na região e em 4,5 milhões o número de pessoas residentes nas áreas possivelmente afetadas.
O governo temia também pela estrutura petrolífera. No golfo do México, o país produz 1,3 milhão de barris de petróleo por dia, um quarto do total nacional. Ontem foi suspensa 96% desta produção.


Próximo Texto: "Eu saí; minha filha ficou", diz professora mineira
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.