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Reabilitado pelo Ocidente, ditador líbio comemora 40 anos no poder
Cobiça por recursos de seu país ajudou Gaddafi a deixar de ser pária internacional
ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO
Ao celebrar, hoje, os 40 anos
do golpe que o levou ao poder
na Líbia, Muammar Gaddafi,
67, poderá se vangloriar de ter
passado de "cachorro louco",
como fora apelidado pelo presidente americano Ronald Reagan na década de 80, a ditador
cortejado por potências mundiais, ávidas pelos recursos
energéticos que abundam no
território e pelo poder de investimento de um fundo soberano
avaliado em US$ 70 bilhões.
Apenas neste ano, Gaddafi
acumula um pedido de desculpas da Suíça -cujo governo não
suportou as retaliações comerciais sofridas por prender o filho do ditador, que havia espancado um empregado em
Genebra-, uma oferta de US$ 5
bilhões da Itália como compensação pelo período colonial e a
libertação pela Escócia do ex-agente de inteligência Abdel
Basset al Megrahi, único condenado pelo atentado de Lockerbie de 1988, no qual 270 pessoas morreram.
Mas os sucessos internacionais não escondem a realidade
de um país governado com punhos de ferro, onde toda oposição é brutalmente esmagada e
uma abertura democrática segue invisível no horizonte.
A retirada do país da condição de pária começou no final
dos anos 1990, quando Gaddafi,
antigo patrocinador de movimentos radicais como o IRA,
concordou em enviar Megrahi
e outro suspeito pelo atentado
de Lockerbie para julgamento
na Holanda. Mais tarde, o governo líbio assumiu responsabilidade pelo ocorrido e indenizou as famílias das vítimas.
O processo se acelerou após o
11 de Setembro, quando Gaddafi ficou ao lado dos EUA na
"guerra ao terror" do ex-presidente George W. Bush (2001-2009). Ele concordou em se livrar de seu programa nuclear e
foi usado por Bush como exemplo de que sua estratégia internacional poderia dar certo.
"Estávamos todos esperando
que os EUA, especialmente,
tentariam algum tipo de troca
pelo retorno do país ao palco
internacional, exigindo mais
direitos humanos e boa governança. Mas não houve nada",
afirmou à Folha Yahia Zoubir,
analista internacional especialista em norte da África.
"Os países desenvolvidos
veem um mercado gigantesco,
onde há muito a ser feito em infraestrutura. O petróleo local é
um dos melhores do mundo
em termos de custo-benefício,
e há muito gás natural disponível. Tudo isso patrocina uma
"realpolitik'", diz Zoubir.
Não se nega que o sistema de
Estado que Gaddafi impôs no
país, que mistura socialismo e
islã, garantiu educação, saúde e
moradia populares. Mas os salários continuam muito baixos,
e o governo ainda é o principal
provedor de empregos.
Para Ali Ahmida, diretor de
ciência política da Universidade da Nova Inglaterra (nos
EUA), "se não fosse pelo petróleo, a Líbia seria a Cuba da África". "Instituições públicas estão terrivelmente decadentes,
a população viveu em isolamento por muito tempo, e há
um medo muito grande de permitir qualquer debate real."
Os governos podem se dobrar a interesses econômicos,
mas ainda têm de lidar com
uma opinião pública contrária
a Gaddafi. Os EUA estão enfrentando dificuldades para
achar um local onde hospedar
o ditador durante a Assembleia
Geral da ONU, neste mês.
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