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ANÁLISE
Kerry prova falência democrata
DEMÉTRIO MAGNOLI
COLUNISTA DA FOLHA
"A única coisa consistente nas
posições de meu oponente é a inconsistência." George W. Bush
carrega a justificada fama de tropeçar nas palavras, mas foi dele a
melhor frase do debate. Ela sintetizou a estratégia, perseguida com
perseverança quase rude, de relembrar as oscilações de John
Kerry sobre a Guerra do Iraque.
Bush repetiu à exaustão as perguntas que pintam um Kerry hesitante e confuso. Isso pode funcionar numa nação em guerra.
"Eu errei ao falar sobre a guerra,
mas o presidente errou na decisão
da guerra. O que é pior?" O pior,
num debate, é ficar nas cordas.
Bush não admitiu erros. Kerry admitiu um. Ponto para Bush.
Kerry foi vítima da adesão, envergonhada e hesitante, do Partido Democrata à Doutrina Bush. É
difícil se desvencilhar disso às vésperas da eleição. Bush entoou a
canção que toca fundo na tradição americana: espalhar a democracia pelo mundo. Kerry foi incapaz de desvendar a carga de cinismo e aventura que há nessa idéia,
porque essa é uma idéia que contamina a história dos EUA.
O desafiante fez o melhor possível, em circunstâncias adversas.
Distinguiu o Afeganistão do Iraque. Separou Osama bin Laden de
Saddam Hussein. Enfatizou a necessidade de alianças. Afirmou,
corretamente, que a ocupação do
Iraque é uma bandeira nas mãos
do exército de fanáticos do fundamentalismo. Mas esse discurso
chega tarde, talvez tarde demais.
Qual é o plano de Kerry para o
Iraque? Uma conferência internacional, eleições em janeiro, treinamento das tropas iraquianas. Esse
é o plano de Bush. Eis aí a prova
da falência política dos democratas. Kerry conviveu com ela durante 90 longos minutos.
Bush olhou sempre direto para
as câmeras. Kerry olhava para o
lado. Bush usou frases curtas.
Desta vez, um Kerry bem treinado expressou-se de modo claro e
direto. Bush e Kerry concordaram sobre a "maior ameaça" aos
EUA: a proliferação de armas de
destruição em massa, que poderiam chegar às mãos dos terroristas. Kerry marcou pontos ao
apontar o dedo para a Coréia do
Norte e o Irã. Os mais sofisticados, mas apenas eles, notaram
que o "foco iraquiano" de Bush
deixa os flancos abertos, num
mundo complexo e perigoso.
O que sobra? Provavelmente, a
clareza de Bush: "As pessoas conhecem a minha posição. As pessoas sabem no que acredito."
Kerry não poderia dito isso.
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