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Pródigo em gafes, Biden recebe menos atenção
Vínculo de senador com lobbies pode ser explorado
ANDREW WARD
DO "FINANCIAL TIMES"
Sarah Palin não foi a única
candidata vice-presidencial a
passar por momentos de constrangimento no horário nobre
da TV americana na semana
passada. Joseph Biden pode ter
soado mais coerente que sua rival republicana nas entrevistas
que ambos deram à âncora Katie Couric, da CBS. Mas foi o democrata quem cometeu a gafe
mais gritante.
Criticando a resposta tímida
do presidente George W. Bush
à crise financeira, ele lembrou
como, quando o mercado acionário sofreu sua grande queda
em 1929, Franklin D. Roosevelt
"foi à televisão" para anunciar o
que estava acontecendo.
Houve dois erros na frase de
Biden: o presidente na época do
Crash de 29 era Herbert Hoover, e a TV só foi lançada nos
EUA dez anos mais tarde.
O erro funcionou como lembrete de que não são apenas os
republicanos que têm motivos
para se sentirem nervosos
diante do debate de amanhã
entre os candidatos à Vice-Presidência. Enquanto a imprensa
mantém sua atenção voltada a
Sarah Palin, o veterano senador
Biden, 65, vem reforçando sua
reputação de insensatez verbal
e mostrando ser capaz de cavar
um buraco no qual os democratas podem afundar.
O senador pelo Delaware criticou como "terrível" um dos
anúncios negativos divulgados
pela campanha de Obama, solapando os esforços democratas
de reivindicar a supremacia
moral em relação às táticas
"baixas" empregadas pela campanha republicana.
Ele expressou oposição ao
socorro à seguradora AIG um
dia antes de Barack Obama se
manifestar a favor dele e desagradou aos Estados produtores
de carvão ao manifestar-se
contrário à abertura de novas
minas, embora a campanha democrata seja oficialmente a favor da tecnologia de extração
"limpa" de carvão.
Biden chegou a dizer que Hillary Clinton "poderia ter sido
uma escolha melhor do que eu"
como companheira de chapa de
Obama, acrescentando fogo à
discussão sobre se Obama deveria ter optado, em lugar dele,
por sua rival nas primárias.
Os republicanos vêm contrastando o tratamento relativamente tolerante dado pela
mídia às gafes de Biden com sua
ironia às expensas de Palin, citando-o como prova de viés de
esquerda que estaria distorcendo a cobertura da campanha.
Vínculo com lobbies
Membros da campanha de
McCain também se queixam de
que, enquanto a imprensa vasculha tudo relativo a Palin,
pouca atenção vem sendo dada
a potenciais causas para constrangimento de Joe Biden.
Biden tem vínculos com a indústria dos serviços financeiros, por meio da empresa de
cartões de crédito do Delaware
MBNA -uma das maiores doadoras de suas campanhas e que,
no passado, empregou seu filho
como lobista.
Ele foi um dos defensores de
uma legislação apoiada pelo setor para reformar as leis de falência, em 2005, na contramão
de Obama, que na época se opôs
às medidas. Seus críticos dizem
que a legislação era enviesada
em favor dos credores, mas a
campanha de Obama afirma
que Biden lutou para reforçar
os direitos dos consumidores.
Ao mesmo tempo em que Biden tem em grande medida evitado o escrutínio questionador,
ele também vem se esforçando
para atrair atenção positiva,
enquanto Sarah Palin e, mais
recentemente, a crise financeira dominam a campanha.
Ele tem sido bem recebido
em eventos da campanha, especialmente em áreas de classe
média branca nas quais Obama
tem tido dificuldade. Mas até
agora surgiram poucas oportunidades para ele exibir a experiência em política externa que
supostamente seria seu principal trunfo.
Isso vai mudar amanhã à noite. Além de evitar gafes, o maior
desafio de Biden será conter
sua verborragia e abster-se de
tratar a rival Palin com condescendência.
Tradução de CLARA ALLAIN
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