São Paulo, quarta-feira, 01 de outubro de 2008

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Pródigo em gafes, Biden recebe menos atenção

Vínculo de senador com lobbies pode ser explorado

ANDREW WARD
DO "FINANCIAL TIMES"

Sarah Palin não foi a única candidata vice-presidencial a passar por momentos de constrangimento no horário nobre da TV americana na semana passada. Joseph Biden pode ter soado mais coerente que sua rival republicana nas entrevistas que ambos deram à âncora Katie Couric, da CBS. Mas foi o democrata quem cometeu a gafe mais gritante.
Criticando a resposta tímida do presidente George W. Bush à crise financeira, ele lembrou como, quando o mercado acionário sofreu sua grande queda em 1929, Franklin D. Roosevelt "foi à televisão" para anunciar o que estava acontecendo.
Houve dois erros na frase de Biden: o presidente na época do Crash de 29 era Herbert Hoover, e a TV só foi lançada nos EUA dez anos mais tarde.
O erro funcionou como lembrete de que não são apenas os republicanos que têm motivos para se sentirem nervosos diante do debate de amanhã entre os candidatos à Vice-Presidência. Enquanto a imprensa mantém sua atenção voltada a Sarah Palin, o veterano senador Biden, 65, vem reforçando sua reputação de insensatez verbal e mostrando ser capaz de cavar um buraco no qual os democratas podem afundar.
O senador pelo Delaware criticou como "terrível" um dos anúncios negativos divulgados pela campanha de Obama, solapando os esforços democratas de reivindicar a supremacia moral em relação às táticas "baixas" empregadas pela campanha republicana.
Ele expressou oposição ao socorro à seguradora AIG um dia antes de Barack Obama se manifestar a favor dele e desagradou aos Estados produtores de carvão ao manifestar-se contrário à abertura de novas minas, embora a campanha democrata seja oficialmente a favor da tecnologia de extração "limpa" de carvão.
Biden chegou a dizer que Hillary Clinton "poderia ter sido uma escolha melhor do que eu" como companheira de chapa de Obama, acrescentando fogo à discussão sobre se Obama deveria ter optado, em lugar dele, por sua rival nas primárias.
Os republicanos vêm contrastando o tratamento relativamente tolerante dado pela mídia às gafes de Biden com sua ironia às expensas de Palin, citando-o como prova de viés de esquerda que estaria distorcendo a cobertura da campanha.

Vínculo com lobbies
Membros da campanha de McCain também se queixam de que, enquanto a imprensa vasculha tudo relativo a Palin, pouca atenção vem sendo dada a potenciais causas para constrangimento de Joe Biden.
Biden tem vínculos com a indústria dos serviços financeiros, por meio da empresa de cartões de crédito do Delaware MBNA -uma das maiores doadoras de suas campanhas e que, no passado, empregou seu filho como lobista.
Ele foi um dos defensores de uma legislação apoiada pelo setor para reformar as leis de falência, em 2005, na contramão de Obama, que na época se opôs às medidas. Seus críticos dizem que a legislação era enviesada em favor dos credores, mas a campanha de Obama afirma que Biden lutou para reforçar os direitos dos consumidores.
Ao mesmo tempo em que Biden tem em grande medida evitado o escrutínio questionador, ele também vem se esforçando para atrair atenção positiva, enquanto Sarah Palin e, mais recentemente, a crise financeira dominam a campanha.
Ele tem sido bem recebido em eventos da campanha, especialmente em áreas de classe média branca nas quais Obama tem tido dificuldade. Mas até agora surgiram poucas oportunidades para ele exibir a experiência em política externa que supostamente seria seu principal trunfo.
Isso vai mudar amanhã à noite. Além de evitar gafes, o maior desafio de Biden será conter sua verborragia e abster-se de tratar a rival Palin com condescendência.


Tradução de CLARA ALLAIN


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