São Paulo, quinta-feira, 01 de outubro de 2009

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Militares de Honduras detêm 55 em desocupação

Intervenção é baseada em um decreto que Micheletti havia prometido anular

Amorim orienta diplomata enviado a Tegucigalpa a não deixar mais embaixada após ele quase ter a sua entrada impedida no dia anterior


Rodrigo Abd/Associated Press
Militares revistam apoiadores de presidente deposto, Manuel Zelaya, durante operação para desocupar prédio em Tegucigalpa

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA

Dezenas de policiais e militares hondurenhos desocuparam ontem um prédio público ocupado por militantes que defendem a volta ao poder do presidente deposto Manuel Zelaya. Na operação, 55 pessoas foram presas. O país está sob restrição dos direitos civis desde domingo, por determinação do regime de Roberto Micheletti.
A operação ocorreu na sede do Instituto Nacional Agrário, tomado desde a deposição de Zelaya, em 28 de junho. Os militantes foram indiciados por infringir o estado de sítio, segundo a Polícia Nacional.
Após não obter apoio da maioria do Congresso às medidas de exceção, Micheletti prometeu na segunda voltar atrás, mas ainda não o fez. "O decreto está sendo discutido por vários setores, mas segue em vigor", disse um porta-voz da polícia ao justificar a operação. Ontem, representantes do Tribunal Supremo Eleitoral se reuniram com Micheletti e o instaram a revogar o decreto para que a legitimidade da eleição não seja questionada.
Também ontem, seguidores de Zelaya fizeram uma manifestação diante da rádio Globo, fechada e ocupada militarmente na madrugada de segunda sob a acusação de incitar a violência. A emissora era o principal meio de comunicação em favor do líder deposto no dia em que tentava promover consulta popular sobre uma Assembleia Constituinte considerada ilegal pelo Congresso e pela Justiça hondurenhos.
Anteontem, Zelaya exortara seus seguidores a protestar para exigir a reabertura da rádio Globo e do canal 36, também fechado na segunda.
O presidente deposto, na embaixada brasileira há 11 dias, passou o dia de ontem em reuniões, sem falar com a imprensa. No final do dia, recebeu o chileno John Biehl, assessor do secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), José Miguel Insulza.

Diplomatas brasileiros
Por um impasse com a Chancelaria do governo Micheletti, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, orientou o seu enviado a Tegucigalpa, Lineu de Paula, a não deixar mais a embaixada brasileira.
De Paula, que é ministro-conselheiro da missão do Brasil na OEA, vinha fazendo um rodízio na embaixada com o encarregado de negócios, Francisco Catunda.
Anteontem, quando entrava pela terceira vez na embaixada, uma funcionária da Chancelaria exigiu um carnê diplomático, documento expedido pelo governo hondurenho aos funcionários e familiares de representações diplomáticas.
O impasse durou cerca de uma hora e só foi resolvido após uma autorização "excepcional", segundo relato de De Paula, que tem apenas o seu passaporte diplomático.
Como os diplomatas brasileiros em Tegucigalpa não estão autorizados pelo Itamaraty a ter contato com o governo interino, De Paula não pode solicitar o documento e ficará de forma permanente na embaixada.
Ontem, Catunda e o assistente de Chancelaria Wilson Batista, ambos com carnê diplomático, sofreram revista de meia hora para entrar na embaixada.


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