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OEA aceitaria novo acordo para crise, diz secretário
Plano do mediador Óscar Arias, no entanto, deve ser base de novo texto, afirma Insulza
Chileno diz em entrevista à Folha que uma comissão preparatória vai a Honduras na sexta e que ele segue no dia 7 "se houver diálogo"
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
A OEA (Organização dos Estados Americanos) está disposta a aceitar uma nova proposta
de conciliação vinda de Honduras, desde que ela use como base o Acordo de San José, elaborado pelo presidente da Costa
Rica, Óscar Arias, que prevê a
volta de Zelaya, a manutenção
das eleições para eleger seu sucessor e o abandono pelo presidente deposto da tentativa de
promover uma Assembleia
Constituinte considerada ilegal
por Congresso e Justiça hondurenhos.
A revelação foi feita pelo secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, em entrevista na
manhã de ontem por telefone à
Folha.
FOLHA - O que acha que acontecerá em Honduras?
JOSÉ MIGUEL INSULZA - O que estamos tentando conseguir agora
é passar a uma fase nova, em
que haja diálogo entre as partes. E esperamos que isso possa
ser alcançado nos próximos
dias. Agora, o que vai sair desse
diálogo é um pouco mais de entendimento e a composição de
um acordo que seja favorável a
todos os hondurenhos.
FOLHA - Não seria melhor fazer o
acordo direto com os candidatos à
Presidência, e não com Manuel Zelaya e Roberto Micheletti, já que as
eleições estão tão perto, em novembro? Não seria uma nova fase?
INSULZA - Sim, é totalmente
possível, embora o Acordo de
San José ainda seja válido e tenhamos de trabalhar sobre ele.
Mas, naturalmente, quando todas as partes hondurenhas se
sentarem à mesa, se chegarem
a um acordo diferente, nós vamos respeitar. Mas o ponto de
partida -e esperemos que seja
também o ponto de chegada- é
o Acordo de San José.
FOLHA - Óscar Arias disse que não
há plano B. Concorda?
INSULZA - Sim, para a comunidade internacional não há. Os
hondurenhos podem fazer o
acordo que quiserem, mas para
nós o de San José é o mais razoável, equilibrado e o que pode tirar o país da crise.
FOLHA - O que mais a OEA pode fazer sobre a crise?
INSULZA - Somente dialogar,
pois está claro que nós não vamos fazer uma intervenção em
Honduras. Não há condições
no cenário internacional de hoje de fazer uma intervenção para impor a democracia. Pode
haver diálogo, propostas, sanções, mas a democracia não se
impõe de fora.
FOLHA - Uma das críticas feitas à
OEA é que lhe faltam dentes como
os que têm o Conselho de Segurança
da ONU.
INSULZA - Sim, mas o Conselho
de Segurança da ONU tem dentes para assuntos de paz e segurança internacional. Estamos
falando de assuntos de ruptura
democrática. Nenhum organismo tem dentes para impor a democracia de fora para dentro.
Ainda os que têm nem sempre
conseguem.
FOLHA - O Brasil acertou ao trazer a
ONU à crise regional?
INSULZA - O que o Brasil pediu é
que qualquer ação contra a sua
embaixada seja vista como uma
ameaça à segurança do continente, e eu concordo com isso.
A OEA nunca vai ter força militar. Não digo nunca, ao menos
não enquanto eu estiver aqui.
FOLHA - Quando o sr. volta a Honduras?
INSULZA - A missão avançada
chega na sexta e, no dia 7 ,volta
a comissão de chanceleres
-desde que haja condições de
acordo para um diálogo. Não
vamos voltar para lá só para ficar conversando de novo...
FOLHA - O que acha do que disse o
diplomata brasileiro Ruy Casaes,
que a OEA caminha para "absoluto
estado de irrelevância"?
INSULZA - Conversei com ele
depois. Ele disse algo que é real,
falava do que nós fizemos e do
que podemos fazer. Não temos
outros recursos, não temos bloqueio econômico nem a diplomacia dos canhões. Só temos a
suspensão do país da entidade e
o diálogo.
FOLHA - Muitos disseram que o
Brasil sabia com antecedência dos
planos de Zelaya de voltar a Honduras. O que o sr. acha?
INSULZA - Olhe, pelas informações que tenho hoje, isso não é
verdade. Todos os países da
América reconhecem Zelaya
como presidente legítimo de
Honduras. Se ele aparece na
porta da embaixada de um desses países dizendo que corre
risco, deve-se abrir a porta,
não? Era a única coisa que o
Brasil poderia fazer.
FOLHA - E Zelaya, agiu bem ao voltar a Honduras?
INSULZA - É certo que sua presença aumenta as tensões, mas
ao mesmo tempo dá oportunidade ao diálogo direto e franco
entre hondurenhos.
Leia a íntegra da
entrevista
www.folha.com.br/0927320
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