São Paulo, quinta-feira, 01 de outubro de 2009

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OEA aceitaria novo acordo para crise, diz secretário

Plano do mediador Óscar Arias, no entanto, deve ser base de novo texto, afirma Insulza

Chileno diz em entrevista à Folha que uma comissão preparatória vai a Honduras na sexta e que ele segue no dia 7 "se houver diálogo"


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

A OEA (Organização dos Estados Americanos) está disposta a aceitar uma nova proposta de conciliação vinda de Honduras, desde que ela use como base o Acordo de San José, elaborado pelo presidente da Costa Rica, Óscar Arias, que prevê a volta de Zelaya, a manutenção das eleições para eleger seu sucessor e o abandono pelo presidente deposto da tentativa de promover uma Assembleia Constituinte considerada ilegal por Congresso e Justiça hondurenhos. A revelação foi feita pelo secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, em entrevista na manhã de ontem por telefone à Folha.

 

FOLHA - O que acha que acontecerá em Honduras?
JOSÉ MIGUEL INSULZA
- O que estamos tentando conseguir agora é passar a uma fase nova, em que haja diálogo entre as partes. E esperamos que isso possa ser alcançado nos próximos dias. Agora, o que vai sair desse diálogo é um pouco mais de entendimento e a composição de um acordo que seja favorável a todos os hondurenhos.

FOLHA - Não seria melhor fazer o acordo direto com os candidatos à Presidência, e não com Manuel Zelaya e Roberto Micheletti, já que as eleições estão tão perto, em novembro? Não seria uma nova fase?
INSULZA
- Sim, é totalmente possível, embora o Acordo de San José ainda seja válido e tenhamos de trabalhar sobre ele. Mas, naturalmente, quando todas as partes hondurenhas se sentarem à mesa, se chegarem a um acordo diferente, nós vamos respeitar. Mas o ponto de partida -e esperemos que seja também o ponto de chegada- é o Acordo de San José.

FOLHA - Óscar Arias disse que não há plano B. Concorda?
INSULZA
- Sim, para a comunidade internacional não há. Os hondurenhos podem fazer o acordo que quiserem, mas para nós o de San José é o mais razoável, equilibrado e o que pode tirar o país da crise.

FOLHA - O que mais a OEA pode fazer sobre a crise?
INSULZA
- Somente dialogar, pois está claro que nós não vamos fazer uma intervenção em Honduras. Não há condições no cenário internacional de hoje de fazer uma intervenção para impor a democracia. Pode haver diálogo, propostas, sanções, mas a democracia não se impõe de fora.

FOLHA - Uma das críticas feitas à OEA é que lhe faltam dentes como os que têm o Conselho de Segurança da ONU.
INSULZA
- Sim, mas o Conselho de Segurança da ONU tem dentes para assuntos de paz e segurança internacional. Estamos falando de assuntos de ruptura democrática. Nenhum organismo tem dentes para impor a democracia de fora para dentro. Ainda os que têm nem sempre conseguem.

FOLHA - O Brasil acertou ao trazer a ONU à crise regional?
INSULZA
- O que o Brasil pediu é que qualquer ação contra a sua embaixada seja vista como uma ameaça à segurança do continente, e eu concordo com isso. A OEA nunca vai ter força militar. Não digo nunca, ao menos não enquanto eu estiver aqui.

FOLHA - Quando o sr. volta a Honduras?
INSULZA
- A missão avançada chega na sexta e, no dia 7 ,volta a comissão de chanceleres -desde que haja condições de acordo para um diálogo. Não vamos voltar para lá só para ficar conversando de novo...

FOLHA - O que acha do que disse o diplomata brasileiro Ruy Casaes, que a OEA caminha para "absoluto estado de irrelevância"?
INSULZA
- Conversei com ele depois. Ele disse algo que é real, falava do que nós fizemos e do que podemos fazer. Não temos outros recursos, não temos bloqueio econômico nem a diplomacia dos canhões. Só temos a suspensão do país da entidade e o diálogo.

FOLHA - Muitos disseram que o Brasil sabia com antecedência dos planos de Zelaya de voltar a Honduras. O que o sr. acha?
INSULZA
- Olhe, pelas informações que tenho hoje, isso não é verdade. Todos os países da América reconhecem Zelaya como presidente legítimo de Honduras. Se ele aparece na porta da embaixada de um desses países dizendo que corre risco, deve-se abrir a porta, não? Era a única coisa que o Brasil poderia fazer.

FOLHA - E Zelaya, agiu bem ao voltar a Honduras?
INSULZA
- É certo que sua presença aumenta as tensões, mas ao mesmo tempo dá oportunidade ao diálogo direto e franco entre hondurenhos.

Leia a íntegra da entrevista

www.folha.com.br/0927320


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