São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vídeo de Bin Laden não influencia voto

KIRK JOHNSON
DO "THE NEW YORK TIMES"

Se Osama bin Laden imaginava, ao soltar um novo vídeo poucos dias antes da eleição nos EUA, que pudesse fazer eleitores de John Kerry ou de George W. Bush mudarem de idéia sobre seu voto, ele deverá ter uma surpresa.
"As pessoas que eu conheço estão tão polarizadas que [o vídeo] não faz nenhuma diferença", disse Jan Hill, contadora em Denver e decidida a votar em Kerry.
Seu marido David, que é músico, acrescentou que o vídeo de Bin Laden foi só mais uma nota na cacofonia de comerciais de partidos e notícias sobre as eleições. "Acho que as pessoas não estão mais reagindo [a novidades]. Estamos anestesiados."
Muitos eleitores de Bush pareciam igualmente indiferentes.
"Não tem nada a ver com a eleição", disse Paul Christene, controlador de vôo de Walford, Iowa. "Permaneço com Bush."
Em dezenas de entrevistas na sexta-feira e no sábado em cinco Estados onde a disputa está acirrada -Colorado, Arkansas, Ohio, Nevada e Iowa-, os mesmos sentimentos foram repetidos diversas vezes. Simpatizantes de Bush disseram que o vídeo havia fortalecido sua decisão de votar no Partido Republicano, por lembrá-los das sérias ameaças que o país ainda enfrenta. Eleitores de Kerry afirmaram que a fita era mais um lembrete de que o governo Bush não conseguiu capturar Bin Laden. Mesmo os indecisos disseram que o vídeo não teria influência sobre sua decisão final.
Na verdade, com paixões intensificadas a tal nível nesta eleição e tantos eleitores já comprometidos com sua escolha, Bin Laden pode ter realizado um feito estranho e notável: fazer-se irrelevante.
Muitos entrevistados afirmaram que, apesar de Bin Laden ainda ser um símbolo poderoso, suas palavras, a essa altura, não fariam a menor diferença. Mas o mesmo não pode ser dito de sua captura.
Tyler Lisenbee, um gerente de Denver, disse que votou em Bush em 2000, mas está inclinado a votar em Kerry, principalmente por causa da Guerra do Iraque. Segundo ele, o vídeo de Bin Laden não o ajudou a se decidir. "Bush é presidente há todo esse tempo e Osama ainda está por aí", disse. "Não sei se Kerry vai conseguir fazer melhor, mas talvez valha a pena tentar alguém novo."
Lisenbee disse achar que Bin Laden não vai afetar a eleição em absoluto, "a não ser que o capturem nos próximos dias -aí eu provavelmente votaria em Bush".
Cheryl Hecksler, professora e eleitora de Kerry em Las Vegas, disse que recebeu um telefonema de sua mãe dizendo "alguma coisa sobre Bin Laden".
"O sinal do celular estava ruim, e achei que ele tinha sido capturado", disse. Ela disse que, apesar de querer que ele seja preso, temeu o efeito que aquilo poderia ter. "Fiquei em pânico. Minha primeira reação foi pensar que Bush ganharia de lavada."
A pesquisa não é exatamente científica, e pode refletir o que as pessoas acharam que seria a resposta mais adequada. Mas pode aliviar preocupações de que eleitores pudessem ser empurrados para o campo de Bush por causa da mensagem de Bin Laden ou para o de Kerry pelo fato de que ele ainda está solto. A decisão sobre em quem votar, repetiam os entrevistados, já foi feita.
Algumas pessoas afirmaram pensar que, na privacidade da cabine eleitoral, pode haver pessoas que votem influenciadas pela mensagem de Bin Laden, ou pela reação dos candidatos à mensagem. Mas foi difícil encontrar alguém que achasse que isso pudesse ocorrer consigo próprio. E, para cada um que achava que a intenção de Bin Laden era fortalecer Kerry, havia outro que achava que a intenção era reeleger Bush.


Texto Anterior: Novos eleitores são incógnita da votação nos Estados indefinidos
Próximo Texto: O império vota/Reta final: Em Miami, "não é Osama, é Fidel, estúpido"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.