São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2004

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"Bush dá mais material do que precisamos"

DE NOVA YORK

Tim Carvell, um dos redatores do "Daily Show", nasceu no Brasil mas foi criado nos EUA. Ele conta que sua rotina se parece muito com a de um jornalista. Ao todo são 13 pessoas -dez redatores, um redator-chefe, um produtor executivo e o âncora.
Ele, aliás, era jornalista até entrar para a equipe de redatores no início deste ano. "O trabalho é bem parecido", diz. Exceto que agora as lacunas são preenchidas pela imaginação, e não por fatos. "Escrever comédia é mais divertido, e se algo estiver errado ninguém vai ligar para reclamar."
Antes da corrida eleitoral esquentar, conta ele, o material básico era o que fosse ao ar nas grandes redes de TV. Agora, como é de esperar, só há espaço para a eleição. Principalmente para George W. Bush, alvo fácil para piadas.
"Bush nos dá mais material do que podemos aproveitar. Além disso, ele está no poder, tivemos quatro anos para ter uma idéia de quem ele é. E ele tem tanta dificuldade com a língua inglesa", diz Carvell. Segue uma crítica: "Nossa parcialidade não é contra democratas ou republicanos, mas contra esse calculismo, essa falsa impressão de simplicidade que tentam passar. Só que, nesta eleição, o Partido Republicano tem feito isso mais do que os democratas".
E se Kerry ganhar, a quantidade de piadas vai diminuir? "Acho que ele não vai nos desapontar", diz o humorista. De qualquer modo, há a primeira-dama. "Teresa Heinz-Kerry é muito engraçada, porque fala o que lhe vêm à cabeça. Enquanto todo mundo vira piada por dizer o contrário do que pensa, ela se torna engraçada porque diz exatamente o que pensa, mesmo quando isso é horrivelmente errado e desastroso. E ela é mais divertida que Laura [Bush]."
É difícil comparar o "Daily Show" com qualquer programa da TV brasileira. Ele realmente parece um noticiário, com um âncora que comenta os fatos do dia e entrevistas com políticos e celebridades -a parte das entrevistas é séria, e até Kerry já apareceu.
Antes da eleição, a maior parte das reportagens era inventada. Agora, os fatos são reais, mas tirados de contexto e editados de uma maneira a tornar evidente as contradições dos candidatos. "O modo como Bush e Kerry têm falado em público é tão diferente do modo que qualquer ser humano normal falaria que muita piada já vem daí", afirma Carvell.
E após a eleição, do que o programa vai se ocupar? Ele responde num tom falsamente sério: "Depois dos meses de recontagem e da guerra civil?". (LC)


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