São Paulo, quarta-feira, 01 de novembro de 2006

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Coréia do Norte recua e volta a negociar

Pressões chinesas levam o país, que testou a primeira bomba, a rediscutir multilateralmente seu programa nuclear

Bush agradece Pequim por ter forçado norte-coreanos a voltarem a negociações com sul-coreanos, americanos, russos, japoneses e chineses


France Presse-27.out.2006/KCNA
Foto divulgada na segunda-feira mostra suposta comemoração pelo teste nuclear do dia 9 na cidade norte-coreana de Sariwon


DA REDAÇÃO

Depois de explodir sua primeira bomba atômica em 9 de outubro e de sofrer imediatas sanções da ONU que dificultaram a sobrevivência econômica de seu regime, a Coréia do Norte concordou ontem em retomar negociações multilaterais sobre seu programa nuclear.
A informação foi dada em Pequim pelo governo chinês e pelo diplomata americano Christopher Hill, encarregado de questões norte-coreanas no Departamento de Estado.
O recuo de Pyongyang representa uma vitória diplomática para a China, que reagiu de forma bastante dura à nuclearização da península Coreana. Além de votar no Conselho de Segurança contra o ditador Kim Jong-il, os chineses, em iniciativa unilateral, interromperam a venda de petróleo ao pequeno e isolado aliado comunista.
O papel dos chineses no jogo de pressões que dobrou as resistências norte-coreanas foi reconhecido abertamente em Washington pelo próprio presidente George W. Bush.
"Estou satisfeito e quero agradecer aos chineses", disse o americano. O porta-voz do Departamento de Estado, Tom Casey, afirmou que "está claro que os norte-coreanos entenderam o recado da China" e das demais partes envolvidas.
Na prática, Pyongyang aceita voltar a participar do chamado Grupo dos Seis (as duas Coréias, Japão, Estados Unidos, China e Rússia), do qual havia se retirado em setembro do ano passado, em resposta às sanções financeiras impostas pelo governo americano.
A medida -congelamento de US$ 26,2 milhões de depósitos norte-coreanos no Banco Delta Ásia, de Macau- foi tomada a partir de informações que os serviços de inteligência americanos que colocavam a Coréia do Norte no centro de uma suposta rede de tráfico de drogas e de produção de cédulas falsas de dólares americanos.
Desde então, Pyongyang condicionava sua volta ao Grupo dos Seis à suspensão das sanções impostas por Washington. Elas permanecem em vigor, disse ontem Hill em Pequim, mas podem ser em breve suprimidas, dependendo do andamento das negociações.

Cautela japonesa
O regime de Kim Jong-il tampouco foi atendido em sua exigência de retomar as negociações com os EUA no plano bilateral. Washington insistiu no multilateralismo do Grupo dos Seis, situação também conveniente à China.
Christopher Hill disse que o Grupo dos Seis se reunirá até o final de novembro ou início de dezembro.
A Rússia reagiu bem à novidade. Alexander Alexeyev, vice-chanceler, qualificou-a de "extremamente positiva".
A Coréia do Sul seguiu na mesma linha. Choo Kyu Ho, porta-voz da diplomacia de Seul, disse esperar que, ao final do processo agora desencadeado, "chegue-se à desnuclearização da península" -que divide com seu complicado vizinho.
A reação japonesa foi mais cautelosa e mal-humorada. Tóquio disse se recusar a negociar com uma Coréia do Norte que se instale ao redor de uma mesa como detentora da bomba atômica. O chanceler japonês, Taro Aso, quer um claro compromisso de Pyongyang.
Tóquio, que se sentiu particularmente vulnerável a testes de mísseis que a Coréia do Norte fez em julho último, foi bem além das sanções votadas pela ONU. Em lugar de um embargo na exportação de artigos de luxo, armas pesadas ou peças para mísseis e reatores, o Japão submeteu o país asiático a um embargo comercial integral.
As sanções votadas em outubro pelo Conselho de Segurança permanecem em vigor, disseram Christopher Hill, em Pequim, e, em Seul, Chun Yung-woo, negociador sul-coreano para questões nucleares.
Hill, que foi aliás quem mais deu ontem declarações, alertou contra qualquer otimismo precoce. "Estamos ainda muito distante de nossos objetivos, e ainda não me sinto em condições de estourar champanha e acender charutos", afirmou.


Com agências internacionais

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