São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2010

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"Viramos uma marca", diz colombiano

Antanas Mockus, que foi ao segundo turno na eleição presidencial, atribui votação à mobilização dos jovens

Em entrevista, ele diz que o público quer algo entre o Estado de bem-estar e a "fé cega nas forças do mercado"

DE BRASÍLIA

O colombiano Antanas Mockus protagonizou neste ano a maior bola na trave da história dos partidos verdes: foi ao segundo turno da eleição presidencial, numa arrancada inédita.
A "onda verde", porém, acabou se dissipando para dar a vitória ao candidato governista na Colômbia, Juan Manuel Santos.
Apesar do anticlímax na eleição majoritária, o PV colombiano elegeu quatro vezes mais congressistas do que previa.
Conhecido como "o professor", o filósofo e matemático Mockus atribui a votação à mobilização espontânea dos jovens, cansados da polarização tradicional entre esquerda e direita -o que também foi fonte expressiva de votos de Marina Silva.
Ele se diz animado com o crescimento experimentado pelo partido: "Viramos um "brand" [marca]", afirmou por telefone à Folha, de seu escritório em Bogotá. Leia a entrevista. (CA)

 

Folha - Quais são os paralelos entre a sua votação na Colômbia e a da senadora Marina Silva no Brasil?
Antanas Mockus -
O público geral, e muito especialmente os jovens, sente-se excluído ou incomodado com as polarizações esquerda-direita. Há algum cansaço com o Estado de bem-estar, que implica em altos impostos e se associa à ineficiência e às vezes à corrupção.
Mas a alternativa, a direita, a fé cega nas forças do mercado e o desprezo pelo poder regulador do Estado tampouco atrai. Os governos ficam escravos de seus mandatos curtos, de quatro, cinco, seis anos.
O que há é a erupção de um tempo distinto. Todo mundo sabe que pensar com quatro a cinco anos de horizonte é pensar a muito curto prazo. A problemática ambiental envolve um giro. Não é mais aonde você vai me levar em quatro anos, mas em um caminho de dez, 15 anos.

Na Europa, o que deu aos verdes votações altas foi o fato de eles falarem de economia e empregos. Foi o que aconteceu na América do Sul?
Certamente. Lembre-se de que os lemas da minha campanha eram: a vida é sagrada, recursos públicos são sagrados, legalidade democrática.
Esses não são temas explicitamente ambientais. Se você vai ver o problema ambiental, a mudança cultural para que se cumpram as leis ambientais e o bom uso dos recursos públicos são indispensáveis.
Mas o Partido Verde colombiano surge assumindo frontalmente a luta contra a violência e a corrupção.

A "onda verde" se refletiu também nas eleições parlamentares?
Sim. Conseguimos oito parlamentares, cinco senadores e três deputados, quando a nossa meta eram dois. Na consulta interna esperávamos 500 mil votos e obtivemos 1,5 milhão.
Percebemos que as pessoas se entusiasmaram com o verde, mas definido de uma maneira mais afetiva do que ideológica.

Foi um voto no Partido Verde ou no candidato Antanas Mockus?
Eu acho que as pessoas gostam muito de mim, mas nesta última eleição, diferentemente das outras, claramente as pessoas sentiram confiança no Partido Verde.
Viramos um "brand", um nome rodeado de prestígio. Claramente é um aporte à democracia colombiana, tanto que fomos ao segundo turno.

E qual é a perspectiva?
Participar das eleições regionais em outubro do ano que vem. Vai ser um desafio enorme encontrar candidatos e construir apoio a eles.


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