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Entre denúncias de fraude ou golpe, polarização explode
DO ENVIADO A CARACAS
Ao ouvir o endereço de destino, o motorista do táxi corrige:
"palácio Miraflores só até domingo; depois, será o palácio de
Manuel Rosales". Uma das jornalistas mais contundentes da
oposição, Marta Colombina,
fustiga em seu programa diário
no rádio: "Não acreditem nas
pesquisas! São todas compradas pelo governo!"
Os últimos levantamentos
encomendados pelas agências
de notícias "Associated Press" e
"Reuters" colocam o atual presidente, Hugo Chávez, numa liderança sólida. Isso não parece
desanimar seus oponentes -ao
contrário, os encoraja. É que, se
não fizerem nada, afirma a própria Marta, "as falsas pesquisas
vão se confirmar numa profecia que se cumpre a si mesma".
Principal candidato da oposição, Rosales passou o dia convocando, para as 22h locais de
ontem (0h de hoje de Brasília),
um "apitaço" em Caracas. Hugo Chávez citou por diversas
vezes em seu encontro com a
imprensa estrangeira "complôs" que teriam sido armados
contra ele, mas foram descobertos a tempo por seu serviço
de inteligência.
É nesse clima de polarização
extrema que 16 milhões de eleitores foram chamados a ir às
urnas depois de amanhã, escolher entre a continuidade da revolução bolivariana de Hugo
Chávez ou a plataforma mais liberal de Manuel Rosales, governador do Estado de Zulia, rico em petróleo, que conta com
a simpatia de Washington.
Ambas as militâncias fomentam a divisão. Na ala mais radical da oposição, fala-se do "plano B", que prevê uma cadeia de
eventos assustadora: "Votamos
no domingo, marchamos na segunda, derrubamos na terça".
Ou seja, diante da inevitabilidade da vitória de Chávez, o negócio será partir para o golpe.
Fraude e máquina
O motivo mais citado para a
ação seria uma suposta fraude
eleitoral nas urnas. Pelo sistema venezuelano, quando o eleitor escolhe seu voto na urna
eletrônica, recebe o equivalente em papel, que deposita numa
urna convencional. Por pressão
da oposição, o Comitê Nacional
Eleitoral (CNE) passou uma
medida que exige que 54% dos
votos em papel sejam contados,
como maneira de confirmar o
resultado eletrônico.
Ainda assim, não há garantias de que a oposição respeite
mesmo o resultado auditado.
Há alguns dias, no conforto que
só os primeiros colocados nas
pesquisas têm, Chávez fez um
discurso em que se comprometia a reconhecer os resultados.
Instou seu principal oponente
a fazer o mesmo. Ouviu de Rosales uma resposta vaga que fazia menções à "democracia".
Uma das acusações mais freqüentes dos opositores é a de
que Chávez usa a poderosa máquina do governo a seu favor, o
que tornaria qualquer eleição
injusta. Mais de 20 reclamações nesse sentido foram feitas
aos grupos de observadores internacionais que monitoram
essas eleições. O presidente
responde contra-atacando, como na entrevista de ontem.
"Espero que meus oponentes
aceitem sua derrota e não se coloquem a inventar", disse. "Estamos de olho nos grupos extremistas". Um deles, afirmou,
foi desbaratado há poucos dias
e já contaria com arma, veículo
e até um local em que "um dos
principais candidatos da oposição" gravaria um discurso. Nesse, diria que foi morto a mando
do presidente.
(SD)
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