São Paulo, sexta-feira, 01 de dezembro de 2006

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Entre denúncias de fraude ou golpe, polarização explode

DO ENVIADO A CARACAS

Ao ouvir o endereço de destino, o motorista do táxi corrige: "palácio Miraflores só até domingo; depois, será o palácio de Manuel Rosales". Uma das jornalistas mais contundentes da oposição, Marta Colombina, fustiga em seu programa diário no rádio: "Não acreditem nas pesquisas! São todas compradas pelo governo!"
Os últimos levantamentos encomendados pelas agências de notícias "Associated Press" e "Reuters" colocam o atual presidente, Hugo Chávez, numa liderança sólida. Isso não parece desanimar seus oponentes -ao contrário, os encoraja. É que, se não fizerem nada, afirma a própria Marta, "as falsas pesquisas vão se confirmar numa profecia que se cumpre a si mesma".
Principal candidato da oposição, Rosales passou o dia convocando, para as 22h locais de ontem (0h de hoje de Brasília), um "apitaço" em Caracas. Hugo Chávez citou por diversas vezes em seu encontro com a imprensa estrangeira "complôs" que teriam sido armados contra ele, mas foram descobertos a tempo por seu serviço de inteligência.
É nesse clima de polarização extrema que 16 milhões de eleitores foram chamados a ir às urnas depois de amanhã, escolher entre a continuidade da revolução bolivariana de Hugo Chávez ou a plataforma mais liberal de Manuel Rosales, governador do Estado de Zulia, rico em petróleo, que conta com a simpatia de Washington.
Ambas as militâncias fomentam a divisão. Na ala mais radical da oposição, fala-se do "plano B", que prevê uma cadeia de eventos assustadora: "Votamos no domingo, marchamos na segunda, derrubamos na terça". Ou seja, diante da inevitabilidade da vitória de Chávez, o negócio será partir para o golpe.

Fraude e máquina
O motivo mais citado para a ação seria uma suposta fraude eleitoral nas urnas. Pelo sistema venezuelano, quando o eleitor escolhe seu voto na urna eletrônica, recebe o equivalente em papel, que deposita numa urna convencional. Por pressão da oposição, o Comitê Nacional Eleitoral (CNE) passou uma medida que exige que 54% dos votos em papel sejam contados, como maneira de confirmar o resultado eletrônico.
Ainda assim, não há garantias de que a oposição respeite mesmo o resultado auditado. Há alguns dias, no conforto que só os primeiros colocados nas pesquisas têm, Chávez fez um discurso em que se comprometia a reconhecer os resultados. Instou seu principal oponente a fazer o mesmo. Ouviu de Rosales uma resposta vaga que fazia menções à "democracia".
Uma das acusações mais freqüentes dos opositores é a de que Chávez usa a poderosa máquina do governo a seu favor, o que tornaria qualquer eleição injusta. Mais de 20 reclamações nesse sentido foram feitas aos grupos de observadores internacionais que monitoram essas eleições. O presidente responde contra-atacando, como na entrevista de ontem.
"Espero que meus oponentes aceitem sua derrota e não se coloquem a inventar", disse. "Estamos de olho nos grupos extremistas". Um deles, afirmou, foi desbaratado há poucos dias e já contaria com arma, veículo e até um local em que "um dos principais candidatos da oposição" gravaria um discurso. Nesse, diria que foi morto a mando do presidente. (SD)


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