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análise
Papa desafia modernos e ateus reagem
LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O céu não está vazio, diz
Bento 16 em sua nova encíclica. A frase não é apenas uma imagem singela.
"O papa desafia a sociedade moderna e pergunta:
você pode oferecer uma
resposta mais adequada
do que a que Cristo já ofereceu?", aponta Francisco
Borba, coordenador do
Núcleo de Fé e Cultura da
PUC-SP."Sem Deus, você
é derrotado pela morte."
O papa dialoga com filósofos de diversas linhas,
como Karl Marx, Theodor
Adorno, Kant e Bacon.
Afirma que projetos de
emancipação do homem
que apostaram na busca
da felicidade sem Deus
fracassaram: trocaram um
sistema político por outro,
até que o homem se esvaziou, sem valores.
Daí a citação ao livro "Irmãos Karamazov", de Fiodor Dostoievski, e a defesa
do conceito de juízo final:
vale a pena viver uma vida
justa, porque nos últimos
dias "não se sentarão à
mesa, indistintamente, os
malvados e as vítimas".
"Ele destaca o fato de
que a ciência pode contribuir para humanizar a sociedade, mas pode também destruí-la se não for
orientada por forças que
estão fora dela pela consciência e pelo amor", afirma d. Filippo Santoro, bispo de Petrópolis (RJ) e
presidente da edição brasileira da revista "Communio", fundada em 1972
pelo papa Ratzinger.
"Da esperança bíblica
passou-se à esperança do
reino do homem e agora
está diante dos olhos de
todos, por causa das guerras, violências urbanas, injustiças, tédio, vazio e drogas, o déficit de esperança
que vive o nosso mundo."
O ateísmo seria apenas
uma crítica moralista à religião que não oferece uma
resposta convincente às
angústias das pessoas.
O professor aposentador da Unicamp e da USP,
Leôncio Martins Rodrigues, discorda do papa: "A
religião provoca muito
mais crimes que o ateísmo. Isso diminui a esperança. Os ateus tendem a
ser tolerantes porque não
têm uma verdade a defender." O italiano Raffaele
Carcano, da União de
Ateus e Agnósticos Racionalistas, disse à agência
AFP: "Os milhões de ateus
no mundo demonstram
que se pode viver sem
Deus, mas com a razão."
"O papa dá exemplos
dos mártires cristãos para
explicar como é preciso
que a fé seja encarnada na
vida", diz em e-mail à Folha o padre Federico Lombardi, porta-voz de Bento
16. "Eles tiveram força para suportar o sofrimento
porque sabiam no que
acreditavam."
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