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Índia troca ministro do Interior e cria agência antiterror
Medidas anunciadas pelo premiê Singh são uma reação aos atentados que deixaram ao menos 172 mortos em Mumbai
Autoridades acusam grupo que luta por soberania paquistanesa na Caxemira por ataques, recrudescendo tensão com Islamabad
Pau Pillai/France Presse
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Indianos fazem vigilia pelas vítimas dos ataques terroristas em Mumbai
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RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A MUMBAI
O primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, anunciou ontem a criação da Agência Federal de Investigação para coordenar a luta contra o terrorismo e trocou o titular do
Ministério do Interior.
As duas medidas são respostas às críticas crescentes ao
despreparo do governo para
conter a ameaça terrorista. Pelo menos 172 pessoas -28 estrangeiras- morreram nos ataques coordenados de um grupo
de dez terroristas que aterrorizou Mumbai de quarta a sábado
passados, fazendo centenas de
reféns em dois hotéis de luxo,
depois de atacar outros oito lugares freqüentados por turistas
e pela elite local.
No último ano, houve atentados em cinco das principais cidades indianas. No sábado, o
governo tinha divulgado 195
mortos, mas corrigiu a cifra por
conta de números repetidos
nos hospitais.
Apesar de ser a maior e mais
rica cidade da Índia e ter sofridos vários ataques desde 1993,
Mumbai não tem força antiterrorista -os soldados levaram
quase 12 horas para chegar lá
desde a capital, Nova Déli.
A reação do governo também
tem relação com o aumento da
tensão entre Índia e Paquistão,
ambas potências nucleares. O
vice-ministro do Interior indiano disse ontem que todos os
terroristas envolvidos nos ataques vieram do Paquistão. Segundo fontes policiais, o único
detido, o paquistanês Ajmal
Amir Kamal, 21, disse que foram treinados pelo grupo Lashkar-e-Taiba, que luta pela soberania paquistanesa na Caxemira. Nova Déli acredita que esse
grupo recebe treinamento dos
serviços secretos do Paquistão.
O presidente paquistanês,
Asif Ali Zardari, pediu à Índia
que "não exagere" quanto às
possíveis conexões paquistanesas dos atentados. Para muitos
indianos, Islamabad sequer
consegue controlar seu serviço
secreto e vastas áreas do país,
dominadas por líderes tribais e
radicais. O recente assassinato
da ex-premiê Benazir Bhutto e
a necessidade de um resgate financeiro do FMI só reafirmaram a fragilidade do país.
Os ataques levaram a várias
manifestações internacionais
de apoio a Nova Déli. Os EUA
anunciaram ontem que a secretária de Estado, Condoleezza
Rice, irá ao país na quarta-feira
para demonstrar "solidariedade ao povo indiano".
Linha dura
Além do desafio político internacional, a crise desatada
pelo recrudescimento terrorista pode complicar a reeleição
do primeiro-ministro Singh no
ano que vem. O principal partido de oposição, BJP, tem atacado o governo e pede "linha dura" contra o terrorismo. Muçulmanos reclamam que o BJP defende política discriminatória.
"Apesar de muitos problemas, os muçulmanos indianos
têm duas grandes, excepcionais
vantagens: a bênção de um Estado secular e a democracia.
Eles são adeptos de mandar sua
mensagem pela via eleitoral e o
farão novamente", disse à Folha o escritor M J Akbar, 57, ex-deputado e porta-voz do falecido premiê Rajiv Gandhi.
"Mas a resposta final é econômica. Eles precisam ser integrados ao crescimento da Índia. Os muçulmanos se sentem
em parte responsáveis pelo
atual governo, que ajudaram a
eleger. Estão decepcionados",
diz o muçulmano Akbar.
O ministro das Finanças, P.
Chidambaram, foi nomeado
ministro do Interior ontem no
lugar de Shivraj Patil, que renunciou por "responsabilidade
moral" pelos atentados.
Singh acumulará a pasta das
Finanças. Ele já ocupou o cargo
no início dos anos 90 e foi responsável pela abertura econômica do país. Seu desafio volta a
ser grande: depois de cinco
anos de crescimento médio de
8,5% do PIB, a Índia deve crescer 6% no ano que vem, por
conta da crise global.
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