São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2008

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Índia troca ministro do Interior e cria agência antiterror

Medidas anunciadas pelo premiê Singh são uma reação aos atentados que deixaram ao menos 172 mortos em Mumbai

Autoridades acusam grupo que luta por soberania paquistanesa na Caxemira por ataques, recrudescendo tensão com Islamabad

Pau Pillai/France Presse
Indianos fazem vigilia pelas vítimas dos ataques terroristas em Mumbai br>
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A MUMBAI

O primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, anunciou ontem a criação da Agência Federal de Investigação para coordenar a luta contra o terrorismo e trocou o titular do Ministério do Interior.
As duas medidas são respostas às críticas crescentes ao despreparo do governo para conter a ameaça terrorista. Pelo menos 172 pessoas -28 estrangeiras- morreram nos ataques coordenados de um grupo de dez terroristas que aterrorizou Mumbai de quarta a sábado passados, fazendo centenas de reféns em dois hotéis de luxo, depois de atacar outros oito lugares freqüentados por turistas e pela elite local.
No último ano, houve atentados em cinco das principais cidades indianas. No sábado, o governo tinha divulgado 195 mortos, mas corrigiu a cifra por conta de números repetidos nos hospitais.
Apesar de ser a maior e mais rica cidade da Índia e ter sofridos vários ataques desde 1993, Mumbai não tem força antiterrorista -os soldados levaram quase 12 horas para chegar lá desde a capital, Nova Déli.
A reação do governo também tem relação com o aumento da tensão entre Índia e Paquistão, ambas potências nucleares. O vice-ministro do Interior indiano disse ontem que todos os terroristas envolvidos nos ataques vieram do Paquistão. Segundo fontes policiais, o único detido, o paquistanês Ajmal Amir Kamal, 21, disse que foram treinados pelo grupo Lashkar-e-Taiba, que luta pela soberania paquistanesa na Caxemira. Nova Déli acredita que esse grupo recebe treinamento dos serviços secretos do Paquistão.
O presidente paquistanês, Asif Ali Zardari, pediu à Índia que "não exagere" quanto às possíveis conexões paquistanesas dos atentados. Para muitos indianos, Islamabad sequer consegue controlar seu serviço secreto e vastas áreas do país, dominadas por líderes tribais e radicais. O recente assassinato da ex-premiê Benazir Bhutto e a necessidade de um resgate financeiro do FMI só reafirmaram a fragilidade do país.
Os ataques levaram a várias manifestações internacionais de apoio a Nova Déli. Os EUA anunciaram ontem que a secretária de Estado, Condoleezza Rice, irá ao país na quarta-feira para demonstrar "solidariedade ao povo indiano".

Linha dura
Além do desafio político internacional, a crise desatada pelo recrudescimento terrorista pode complicar a reeleição do primeiro-ministro Singh no ano que vem. O principal partido de oposição, BJP, tem atacado o governo e pede "linha dura" contra o terrorismo. Muçulmanos reclamam que o BJP defende política discriminatória.
"Apesar de muitos problemas, os muçulmanos indianos têm duas grandes, excepcionais vantagens: a bênção de um Estado secular e a democracia. Eles são adeptos de mandar sua mensagem pela via eleitoral e o farão novamente", disse à Folha o escritor M J Akbar, 57, ex-deputado e porta-voz do falecido premiê Rajiv Gandhi.
"Mas a resposta final é econômica. Eles precisam ser integrados ao crescimento da Índia. Os muçulmanos se sentem em parte responsáveis pelo atual governo, que ajudaram a eleger. Estão decepcionados", diz o muçulmano Akbar.
O ministro das Finanças, P. Chidambaram, foi nomeado ministro do Interior ontem no lugar de Shivraj Patil, que renunciou por "responsabilidade moral" pelos atentados.
Singh acumulará a pasta das Finanças. Ele já ocupou o cargo no início dos anos 90 e foi responsável pela abertura econômica do país. Seu desafio volta a ser grande: depois de cinco anos de crescimento médio de 8,5% do PIB, a Índia deve crescer 6% no ano que vem, por conta da crise global.


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