São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2008

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Elite de Mumbai participa de marcha pela paz

DO ENVIADO A MUMBAI

O empresário Abizar Hatim, 42, ficou 14 horas como refém no restaurante do hotel Taj Mahal, entre a noite de quarta-feira e a manhã de quinta. Viu quando um terrorista atirou uma granada no restaurante, os primeiros gritos, as primeiras explosões, ouviu a execução de pelo menos 15 pessoas.
Hatim estava com a mulher e mais dez amigos comemorando o aniversário de um deles. Sobreviveu por ficar um bom tempo escondido embaixo da mesa e depois engatinhou até a cozinha, onde ficou trancado com dezenas de funcionários do hotel.
Hatim participou ontem da primeira manifestação em Mumbai por paz depois dos atentados. Cerca de 4.000 pessoas, a maioria vestindo branco e com velas, fizeram uma marcha pela Marine Drive, a avenida costeira de Mumbai em frente ao hotel Oberoi, onde outras 200 pessoas foram feitas reféns.
Perto dele, a agente de viagens Shephale Gupta admitia que esse era o primeiro protesto de que ela participava na vida. "A mãe do melhor colega do meu filho na escola foi uma das vítimas, ela me ligava todos os dias para falar dos nossos filhos", conta.
"Os políticos da Índia não estão à altura dos acontecimentos, o terrorismo é uma ameaça muito grande, e eles estão lá encastelados em Nova Déli, sem tomar providências", reclama.
A elite de Mumbai, certamente um dos alvos da operação terrorista, deu as caras na manifestação. Cantaram o hino nacional e repetiram slogans como "Longa vida à mãe Índia", "Que vergonha dos políticos" e "Vitória, Índia".

Fundamentalismo
"A Índia está virando uma potência econômica, como o Brasil também, nosso PIB tem crescido muito, e temos relações cada vez melhores com os Estados Unidos, o Reino Unido e Israel. Os fundamentalistas islâmicos querem brecar isso", disse à Folha o construtor Raqish Damani.
"Mas não temos nada parecido com o Departamento de Segurança Interna do governo americano. O governo fez muito pouco para conter a ameaça terrorista", ponderou.
Diversos manifestantes cercam o repórter da Folha para dizer que o governo do vizinho Paquistão "sempre tem alguma culpa no terrorismo indiano, mas faz de conta que não é com ele" e que, ao contrário do que muita gente tem discutido, os muçulmanos não são discriminados no país.
"Não tem um muçulmano que seja educado que acredite no extremismo, no terrorismo. Quem conhece bem a religião, sabe que não se pode matar em nome do islã", diz o muçulmano Hatim. A manifestação termina por volta das 20h em frente ao prédio residencial mais caro da cidade, com apartamentos avaliados em US$ 10 milhões. Fica ao lado do hotel Oberoi. (RJL)


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