|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Elite de Mumbai participa de marcha pela paz
DO ENVIADO A MUMBAI
O empresário Abizar Hatim,
42, ficou 14 horas como refém
no restaurante do hotel Taj
Mahal, entre a noite de quarta-feira e a manhã de quinta. Viu
quando um terrorista atirou
uma granada no restaurante, os
primeiros gritos, as primeiras
explosões, ouviu a execução de
pelo menos 15 pessoas.
Hatim estava com a mulher e
mais dez amigos comemorando o aniversário de um deles.
Sobreviveu por ficar um bom
tempo escondido embaixo da
mesa e depois engatinhou até a
cozinha, onde ficou trancado
com dezenas de funcionários
do hotel.
Hatim participou ontem da
primeira manifestação em
Mumbai por paz depois dos
atentados. Cerca de 4.000 pessoas, a maioria vestindo branco
e com velas, fizeram uma marcha pela Marine Drive, a avenida costeira de Mumbai em
frente ao hotel Oberoi, onde
outras 200 pessoas foram feitas
reféns.
Perto dele, a agente de viagens Shephale Gupta admitia
que esse era o primeiro protesto de que ela participava na vida. "A mãe do melhor colega do
meu filho na escola foi uma das
vítimas, ela me ligava todos os
dias para falar dos nossos filhos", conta.
"Os políticos da Índia não estão à altura dos acontecimentos, o terrorismo é uma ameaça
muito grande, e eles estão lá encastelados em Nova Déli, sem
tomar providências", reclama.
A elite de Mumbai, certamente um dos alvos da operação terrorista, deu as caras na
manifestação. Cantaram o hino
nacional e repetiram slogans
como "Longa vida à mãe Índia",
"Que vergonha dos políticos" e
"Vitória, Índia".
Fundamentalismo
"A Índia está virando uma
potência econômica, como o
Brasil também, nosso PIB tem
crescido muito, e temos relações cada vez melhores com os
Estados Unidos, o Reino Unido
e Israel. Os fundamentalistas
islâmicos querem brecar isso",
disse à Folha o construtor Raqish Damani.
"Mas não temos nada parecido com o Departamento de Segurança Interna do governo
americano. O governo fez muito pouco para conter a ameaça
terrorista", ponderou.
Diversos manifestantes cercam o repórter da Folha para
dizer que o governo do vizinho
Paquistão "sempre tem alguma
culpa no terrorismo indiano,
mas faz de conta que não é com
ele" e que, ao contrário do que
muita gente tem discutido, os
muçulmanos não são discriminados no país.
"Não tem um muçulmano
que seja educado que acredite
no extremismo, no terrorismo.
Quem conhece bem a religião,
sabe que não se pode matar em
nome do islã", diz o muçulmano Hatim. A manifestação termina por volta das 20h em
frente ao prédio residencial
mais caro da cidade, com apartamentos avaliados em US$ 10
milhões. Fica ao lado do hotel
Oberoi.
(RJL)
Texto Anterior: General crê que Obama pode unir vizinhos Próximo Texto: Frase Índice
|