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ANÁLISE
Política americana se moveu; brasileira parou
DE WASHINGTON
O estranhamento entre a diplomacia americana e a brasileira no caso hondurenho se
aprofundou nos dias seguintes
ao Acordo Tegucigalpa-San José, ao longo de novembro.
Segundo pessoas envolvidas
nas negociações, Brasília soube
de antemão pelo então secretário-assistente e embaixador indicado para o Brasil, Thomas
Shannon, de todos os termos
do tratado e os teria aprovado
sem restrições.
Entre eles estavam os dois
artigos mais polêmicos, o de
que caberia ao Congresso hondurenho a decisão sobre a volta
ou não de Zelaya ao poder e o de
que caberia aos próprios hondurenhos a adoção de um cronograma.
Na época, em entrevista da
qual a Folha participou, Shannon chegou a dizer: "Não há
um cronograma para o Congresso tomar sua decisão, e os
negociadores foram claros sobre isso. Na verdade, na noite
passada [1º de novembro], o
principal negociador do sr. Zelaya disse que a comissão não
poderia impor um cronograma
ao Congresso, por ser [esta]
instituição independente".
Na avaliação do Departamento de Estado, aquela era a
saída possível naquele momento, levados em conta tanto o
contexto político hondurenho
como o americano. Em Tegucigalpa, um acordo de cláusulas
mais draconianas morreria no
nascimento.
Já em Washington, persistir
na linha inicial, de que apenas
com a volta incondicional de
Zelaya ao poder é que o diálogo
prosseguiria, estava travando
não só a agenda de Obama para
a região como outros temas importantes no Congresso. Nesse
sentido, avaliou-se que o melhor era ceder em ambas as
frentes e seguir adiante.
O Departamento de Estado
julga que evoluiu de posição
conforme os fatos "em solo"
evoluíam, como disse um diplomata, enquanto o Itamaraty
ficou parado -e não apresentou soluções factíveis.
A proposta de adiamento da
eleição hondurenha, sugerida
há duas semanas pelo governo
brasileiro ao americano, não
foi levada a sério, principalmente pela pouca antecedência com que surgiu.
Por isso, causou espanto
quando diplomatas brasileiros
começaram a dizer em público
que não aceitariam os resultados da eleição, já que antes, em
privado, haviam dito que aceitavam todos os termos do
Acordo Tegucigalpa-San José.
O estranhamento foi agravado com o episódio da carta que
Barack Obama escreveu a Luiz
Inácio Lula da Silva, no domingo retrasado, o que coloca o
brasileiro num pequeníssimo
grupo de destinatários.
Ainda não foram bem digeridos pela Chancelaria americana o vazamento à imprensa e a
entrevista dada pelo assessor
de assuntos internacionais da
Presidência antes mesmo que
Lula tivesse respondido ao colega americano.
Agora, Washington observa
com atenção a movimentação
brasileira pós-eleição hondurenha. A disposição verdadeira
de Obama de fazer do Brasil
um parceiro estratégico será
influenciada também por isso.
(SÉRGIO DÁVILA)
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