São Paulo, quarta-feira, 02 de janeiro de 2008

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50 são carbonizados em igreja do Quênia

Fiéis procuravam abrigo após terem casas queimadas, em conflitos étnicos provocados por fraude em presidenciais

Para padre católico, outras igrejas abrigam mais de 15 mil refugiados; já há 70 mil deslocados e número de mortos pode chegar a 250

France Presse
Queniano foge com os filhos da favela de Mathare, em Nairóbi, depois de ter a casa atacada por integrantes de outro grupo étnico


DA REDAÇÃO

Cerca de 50 pessoas foram ontem queimadas vivas na cidade queniana de Eldoret, quando a igreja em que se refugiaram foi incendiada, em meio a conflitos étnicos provocados pela contestada reeleição, no último dia 27, do presidente Mwai Kibaki.
A Cruz Vermelha daquele país da África oriental estima que nas Províncias do oeste ao menos 70 mil pessoas foram obrigadas a deixar suas aldeias, naquilo que Abbas Gullet, secretário-geral da entidade humanitária, qualificou de "um desastre nacional".
Eldoret está localizada a 300 km a noroeste da capital, Nairóbi. As vítimas morreram no interior de um templo da Assembléia de Deus, onde se refugiaram depois que suas casas foram incendiadas. São todas kikuyu, mesmo grupo étnico do presidente Kibaki.
Testemunhas citadas pela Reuters dizem que a igreja estava protegida por um grupo de homens armados, que foi derrotado após rápido confronto por um comando de outra etnia. Mulheres e crianças tentaram escapar, mas os algozes mantiveram as portas fechadas. A existência de 50 cadáveres é relatada por uma voluntária da Cruz Vermelha citada pela Associated Press.
"Foi a primeira vez na história de nosso país que um grupo ataca uma igreja. Não acreditávamos que a selvageria fosse tão longe", disse Eric Kiraithe, porta-voz da polícia.
A região é multiétnica, com o predomínio dos kalenjin. Integrantes da etnia kikuyu já haviam sido vítimas em incidentes ocorridos em 1992 e 1997.

15 mil em igrejas
A catedral católica de Eldoret abrigava ontem 500 refugiados, disse o padre irlandês Paul Brennan. "Casas estão sendo queimadas, e é perigoso deixar a catedral para contar os corpos." Por suas contas, 15 mil pessoas estão abrigadas em outras igrejas e pela polícia.
O líder da oposição, Raila Odinga, afirmou que o governo é culpado "pelo genocídio" desencadeado após as eleições presidenciais. Estimativas indicam que em quatro dias morreram de 180 a 250 quenianos.
A situação estava também tensa nas favelas de Nairóbi, onde moram dois terços da população da cidade. Anne Njoki, 28, uma kikuyu, teve sua casa saqueada e queimada. Ela se abrigou numa base militar, em companhia da irmã e de uma sobrinha ainda crianças.
Na favela de Mathare, partidários do oposicionista Odinga -cuja derrota presidencial é vista como o resultado de fraude grosseira- capturaram um ônibus, fizeram a triagem de seus ocupantes e surraram apenas os passageiros da etnia do presidente Kibaki.
Odinga é da etnia luo, que acusa Kibaki de favorecer os kikuyu, majoritários no Quênia, com a corrupção e distribuição de contratos e empregos.
Os governos dos Estados Unidos e do Reino Unido não cumprimentaram Kibaki por sua reeleição, uma forma de considerá-la pouco legítima. Ontem, em Londres, o porta-voz do primeiro-ministro Gordon Brown exortou Odinga e o presidente reeleito a iniciarem diálogo. Mas o líder da oposição disse que só o faria se o adversário parasse de se auto-qualificar como presidente.


Com agências internacionais


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