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50 são carbonizados em igreja do Quênia
Fiéis procuravam abrigo após terem casas queimadas, em conflitos étnicos provocados por fraude em presidenciais
Para padre católico, outras igrejas abrigam mais de 15 mil refugiados; já há 70 mil deslocados e número de mortos pode chegar a 250
France Presse
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Queniano foge com os filhos da favela de Mathare, em Nairóbi, depois de ter a casa atacada por integrantes de outro grupo étnico |
DA REDAÇÃO
Cerca de 50 pessoas foram
ontem queimadas vivas na cidade queniana de Eldoret,
quando a igreja em que se refugiaram foi incendiada, em meio
a conflitos étnicos provocados
pela contestada reeleição, no
último dia 27, do presidente
Mwai Kibaki.
A Cruz Vermelha daquele
país da África oriental estima
que nas Províncias do oeste ao
menos 70 mil pessoas foram
obrigadas a deixar suas aldeias,
naquilo que Abbas Gullet, secretário-geral da entidade humanitária, qualificou de "um
desastre nacional".
Eldoret está localizada a 300
km a noroeste da capital, Nairóbi. As vítimas morreram no
interior de um templo da Assembléia de Deus, onde se refugiaram depois que suas casas
foram incendiadas. São todas
kikuyu, mesmo grupo étnico do
presidente Kibaki.
Testemunhas citadas pela
Reuters dizem que a igreja estava protegida por um grupo de
homens armados, que foi derrotado após rápido confronto
por um comando de outra etnia. Mulheres e crianças tentaram escapar, mas os algozes
mantiveram as portas fechadas. A existência de 50 cadáveres é relatada por uma voluntária da Cruz Vermelha citada pela Associated Press.
"Foi a primeira vez na história de nosso país que um grupo
ataca uma igreja. Não acreditávamos que a selvageria fosse
tão longe", disse Eric Kiraithe,
porta-voz da polícia.
A região é multiétnica, com o
predomínio dos kalenjin. Integrantes da etnia kikuyu já haviam sido vítimas em incidentes ocorridos em 1992 e 1997.
15 mil em igrejas
A catedral católica de Eldoret
abrigava ontem 500 refugiados,
disse o padre irlandês Paul
Brennan. "Casas estão sendo
queimadas, e é perigoso deixar
a catedral para contar os corpos." Por suas contas, 15 mil
pessoas estão abrigadas em outras igrejas e pela polícia.
O líder da oposição, Raila
Odinga, afirmou que o governo
é culpado "pelo genocídio" desencadeado após as eleições
presidenciais. Estimativas indicam que em quatro dias morreram de 180 a 250 quenianos.
A situação estava também
tensa nas favelas de Nairóbi,
onde moram dois terços da população da cidade. Anne Njoki,
28, uma kikuyu, teve sua casa
saqueada e queimada. Ela se
abrigou numa base militar, em
companhia da irmã e de uma
sobrinha ainda crianças.
Na favela de Mathare, partidários do oposicionista Odinga
-cuja derrota presidencial é
vista como o resultado de fraude grosseira- capturaram um
ônibus, fizeram a triagem de
seus ocupantes e surraram apenas os passageiros da etnia do
presidente Kibaki.
Odinga é da etnia luo, que
acusa Kibaki de favorecer os kikuyu, majoritários no Quênia,
com a corrupção e distribuição
de contratos e empregos.
Os governos dos Estados
Unidos e do Reino Unido não
cumprimentaram Kibaki por
sua reeleição, uma forma de
considerá-la pouco legítima.
Ontem, em Londres, o porta-voz do primeiro-ministro Gordon Brown exortou Odinga e o
presidente reeleito a iniciarem
diálogo. Mas o líder da oposição
disse que só o faria se o adversário parasse de se auto-qualificar como presidente.
Com agências internacionais
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