São Paulo, sexta-feira, 02 de janeiro de 2009

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Bomba de Israel mata alto dirigente do Hamas em Gaza

Rayan era único líder do grupo que não se escondera; suas quatro mulheres e nove de seus 12 filhos foram mortos

Ataques, no entanto, não neutralizaram poder de fogo do Hamas; objetivo de Israel seria criar anarquia no território para minar grupo

Mohamed Saber/Efe
A Bomba abriu cratera no campo de Jabaliya, onde moram famílias que tiveram de fugir de Israel

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

No sexto dia consecutivo de bombardeios contra a faixa de Gaza, além de visar a infraestrutura do Hamas, Israel matou um dos mais importantes líderes do grupo fundamentalista islâmico, alvo da ofensiva. A casa de Nizar Rayan, o dirigente de mais alto escalão do Hamas morto na ação israelense até agora, foi atingida por uma bomba de uma tonelada.
Além dele, morreram na explosão outras 18 pessoas, incluindo suas quatro mulheres e 9 de seus 12 filhos. Professor de direito islâmico e responsável pela coordenação entre os braços político e militar do Hamas, Rayan era considerado um dos mais radicais líderes do grupo.
Em 2001, enviou um de seus filhos para uma missão suicida que matou dois colonos israelenses em Gaza. Ao contrário dos demais líderes do Hamas, Rayan se recusou a abandonar sua casa no campo de refugiados de Jabaliya, que tinha no subsolo um túnel. Restou um monte de escombros.

Escondidos
A concentração dos ataques aéreos em dirigentes do grupo, suas forças de segurança e em instalações do governo em Gaza indicam que um dos principais objetivos da ofensiva israelense é desarticular o poder do Hamas no território.
A maioria dos líderes fundamentalistas está escondida em abrigos subterrâneos para se proteger dos bombardeios. Na véspera, o primeiro-ministro do governo do Hamas, Ismail Haniyeh, havia feito um pronunciamento pela TV a partir de um desses abrigos.
"Estamos tentando atingir todos os líderes da organização, e hoje conseguimos acertar um", disse Haim Ramon, vice-primeiro-ministro de Israel.
Mais de 400 pessoas já foram mortas nos bombardeios iniciados no último sábado, em retaliação ao disparo de foguetes contra o território israelense. Entre os mortos, segundo a ONU, há 37 crianças, e o total de feridos passa de 1.700.
Três civis e um soldado israelenses foram mortos desde sábado ao serem atingidos por foguetes disparados de Gaza.

Foguetes
Apesar de ter provocado destruição em larga escala em Gaza, Israel ainda não conseguiu neutralizar o poder de fogo do Hamas, que atingiu, nos últimos dias, cidades a mais de 40 km de distância da fronteira pela primeira vez. Por isso, a estimativa é que o Exército ordene em breve uma operação terrestre para completar a aérea.
Pelo menos 40 foguetes disparados da faixa de Gaza atingiram ontem o sul de Israel, sem deixar vítimas.
Milhares de soldados e centenas de tanques estão concentrados ao redor da faixa de Gaza e mais de 7.000 reservistas foram colocados de prontidão. "A infantaria e a artilharia estão em torno de Gaza, à espera da ordem", disse a major Avital Leibovich, porta-voz do Exército israelense.
No sexto dia de ataques, além da casa de Nizar Rayan, a aviação israelense afirmou ter atingido outros 20 alvos do Hamas, entre eles um prédio de onde acabara de ser disparado um foguete que atingiu a cidade de Ashdod, a 40 km de distância.

Ofensiva terrestre
Com o avanço da ofensiva aérea, os líderes do Hamas em abrigos e o número cada vez mais limitado de alvos, a expectativa é que uma operação terrestre, mesmo que limitada, seja apenas uma questão de dias, talvez de horas.
Depois de quase uma semana de ataques, a estrutura do governo em Gaza foi praticamente dizimada. Dirigentes do Hamas informaram que vários prédios que abrigavam ministérios, como o dos Transportes, foram totalmente destruídos.
O Hamas, que venceu as eleições legislativas palestinas de 2006, chegou a liderar o gabinete palestino até o rompimento, em 2007, com os rivais do secular Fatah, do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas.
"Nós atingimos a maior parte da infraestrutura do terror na faixa de Gaza e estamos avaliando diariamente se o que fizemos é suficiente", disse a chanceler de Israel, Tzipi Livni.
Cientes de que uma ação para derrubar o Hamas do poder significa a reocupação da faixa de Gaza -o que teria um alto preço político e em vidas de soldados- Israel parece estar buscando mais do que o fim dos disparos de foguetes. O objetivo seria instalar o desgoverno em Gaza.
"Israel está indo atrás dos instrumentos de governo, de poder e de controle. E o motivo é a crença de que a força que pode eventualmente tirar o Hamas do poder não é a Autoridade Palestina do presidente Mahmoud Abbas, mas a pura anarquia", escreveu Herb Keinon, analista do jornal "Jerusalem Post".
Uma declaração do Hamas prometeu vingar a morte de Rayan e disse que, se houver invasão terrestre, os soldados israelenses serão "transformados em Shalits", uma referência ao soldado sequestrado pelo grupo há dois anos e meio.


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